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As delícias do ócio criativo

As delícias do ócio criativo

24.01.22

Os três escritores ainda figuram em minha lista particular de preferências. Conheci pessoalmente os três. Com um deles, ainda mantenho certo contato, ainda que muito esporádico, depois que o visitei em sua residência. Os outros dois, conhecidos em país estrangeiro – meu e deles – são apenas autores de predileção. Não tenho contato. Li muitas obras dos três. Gostaria de ter lido tudo que os três escreveram, mas, como todo mundo sabe, livros portugueses custam uma fortuna nos estados unidos de bruzundanga. Além disso, estou naquela fase de não mais acumular volumes em estantes que só retroalimentam a cadeia alimentar dos fungos, ácaros e insetos, sob a pele diáfana da poeira que o tempo deixa como rastro. Ele passa. Os livros ficam. José Luis Peixoto foi o primeiro que conheci, em Zagreb, como João Tordo, na mesma cidade. Graças às atividades propostas pela Leitora de Português do Instituto Camões, a Sofia Soares, conheci-os. Escutei deles uma conferência. Conversei com eles. Foi muito bom. As três vidas (Quidnovi), lançado em Setembro de 2008 – meses depois de minha chegada a Zagreb – ganhou o Prémio José Saramago no ano seguinte. Gostei muito. Depois dele, foi a vez de ouvir José Luis Peixoto declamar um seu poema, lindo, que faz parte de um dos livros mais impressionantes que já tinha lido até então: Morreste-me, sua primeira obra publicada. Sua figura era completamente antagônica se considerada em comparação com sua escrita, mas isso é chatice minha. Dele, a primeira leitura foi: Nenhum olhar, seu segundo livro de ficção. Eu não sabia, mas minhas visitas à “terrinha”, anos depois, só confirmaram a impressão tocante do Ribatejo que li e depois conheci. Uma fulgurante e melancólica beleza. Anos depois, já em 2014, por conta do pós-doutoramento em Coimbra, vim a conhecer o terceiro, Mario Claudio. Fiz-lhe uma visita e uma entrevista – muito esclarecedora para a pesquisa que então desenvolvia – em sua residência, perto da parada chamada Francos, nos arredores do Porto. Dele, considerando o conjunto de obra, li muito pouco. Mas impressionou-me sobretudo o último: Embora eu fosse um velho errante. Livro impressionante por conta de uma espécie de síntese (se é que isso é possível) que o autor faz de seu próprio modus operandi. O livro é um exercício de criatividade insuperável. Acompanhando o raciocínio da postagem anterior, a primeira de uma série de três, esta aqui enfoca apenas a apresentação mais que genérica, superficial, dos autores que me interessam para a postagem final. Lá, se a preguiça assim o permitir, pretendo discorrer m pouco sobre a leitura que fiz das três últimas obras publicadas por José Luis Peixoto. João Tordo e Mario Claudio. Os três, na verdade, têm um ponto em comum: são portugueses. Quanto à obra de cada um, ah... há controvérsias. E é bom que haja mesmo. A unanimidade, como já dizia Nelson Rodrigues, é mesmo burra. Seus estilos são muito peculiares e abissalmente diferentes. O modo de encarar a Literatura, a mim me parece – como leitor – é outra abissal distância que se impões entre os três. Isso só reafirma a “qualidade” (n`á gosto desta palavra!) dos três: incontestável. Não especulei sobre as plausíveis “influências” em cada caso – isso seria pertinente se eu ainda lecionasse. Como desfruto do ócio criativo permanente, já não me faz falta satisfazer tal especulação. No entanto, a leitura de seus livros me leva a crer que, como todo o resto da população de escritores do planeta, também os três têm lá suas preferências de leitura e, por via de consequência suas influências sintomatizadas. A personalidade também é outro vetor a diferenciar os três, mas isso já não consegue ultrapassar a larga margem da obviedade. Como só conheci mais proximamente o mais velho dos três, Mario Claudio, não posso dizer nada acerca da pessoa dos outros dois. É assim mesmo. Quisera ter todos os livros dos três. Quisera poder ler todos os livros dos três. Quisera ter ânimo para escrever um ensaio sobre cada um deles e publicá-los, individualmente como livros. Melhor ainda, nessa série de “quisera”... seria ser lido. Mas aí já é pedir demais ao destino. Aguardem a terceira e última etapa.

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