Setembro 22, 2024
Foureaux
Conheci Maria Amália Baraona por acaso. Entrei no gabinete e lá estava ela, acompanhada de um estudante daquela universidade (estava Em Zagreb, capital da Croácia) ensaiando umas músicas. Cumprimentei os dois e saí: tinha de fazer uma alocução no evento que tinha lugar na Faculdade de Letras, a propósito da visita de uma professora do Piauí. Essa moça brasileira/croata/portuguesa convidou-me dias depois para jantar. Foram horas agradáveis de muita conversa, risada e cerveja. Antes de voltar ao Brasil, assisti a duas apresentações dela. Ela é cantora de bossa nova... e das boas! Li uma postagem em seu blogue hoje cedo (amaliabaraona.com). Ela escreve em inglês. Gostei. Tomei a liberdade de traduzir o que ela escreveu. Coloco aqui para deleite de quem se der ao trabalho de ler esta longa postagem. A propósito disso, junto um trecho de A vida é sonho, de Calderón de la Barca. Senti conexão profunda entre os dois textos. Creio não estar perdendo o juízo...
“Este autorretrato, tirado em Portugal há algumas semanas, realmente reflete meu estado mental recente: múltiplas camadas entrelaçadas resultando em infinitas reflexões recursivas que, no final, levam a uma dor de cabeça persistente, mas nenhuma conclusão (para registro, certifiquei-me de verificar a grafia e “reflexão” com um “x” é uma forma arcaica de “reflexão”). Após refletir, optei por escrever um post que não tem significado para ninguém além de mim, enquanto navego pelo meu estado mental perplexo. Talvez haja alguém que possa se conectar com este tópico e ache-o relacionável. Nunca se sabe...
Estou dentro ou fora?
É importante onde estou para refletir sobre o que quero? Ou são meus desejos que, em última análise, ditam minha localização em um determinado momento? Dois dias atrás, comecei a escrever este post, mas parece que minha mente não está em sincronia com meus pensamentos. Minhas ideias estão dispersas, com palavras e frases se misturando, formando uma bolha circular que me aprisiona completamente. Inesperadamente, ontem à noite, criei uma música. A melodia surgiu primeiro, com a letra logo atrás. Será que algum dia a compartilharei? Talvez... O tempo dirá. Por enquanto, terminarei minha taça de vinho e tentarei desligar meus pensamentos circulares.”
É certo; então reprimamos
esta fera condição,
fúria, esta ambição,
pois pode ser que sonhemos;
e o faremos, pois estamos
em mundo tão singular
o viver só é sonhar
a vida ao fim nos imponha
que o homem que vive, sonha
o que é, até despertar.
Sonha o rei que é rei e segue
com esse engano mandando
resolvendo e governando.
E os aplausos que recebe
vazios, no vento escreve;
e em cinzas a sua sorte
a morte talha de um corte.
E há quem queira reinar
vendo que há de despertar
no negro sonho da morte?
Sonha o rico sua riqueza
que trabalhos lhe oferece,
sonha o pobre que padece
sua miséria e pobreza;
sonha o que o triunfo preza
sonha o que luta e pretende,
sonha o que agrava e ofende
e no mundo, em conclusão,
todos sonham o que são,
no entanto ninguém entende.
Eu sonho que estou aqui,
de correntes carregado
e sonhei que em outro estado
mais lisonjeiro me vi.
Que é a vida? Um frenesi.
Que é a vida? Uma ilusão,
uma sombra, uma ficção;
o maior bem é tristonho,
porque toda a vida é sonho
e os sonhos, sonhos são.”