Setembro 22, 2022
Foureaux
Palavras são “seres” interessantíssimos. Parecem, às vezes, ter vida própria. Seus significados seduzem e confundem. Seu sentido pode mudar conforme a inflexão da voz ou o contexto em que aparecem. Um mundo praticamente mágico que muitos têm a ousadia de afirmar que conseguem dominar. Ledo engano! Um amigo colocou em sua página do facebook observações sobre duas palavras: enfezado e gari. Na onda de preguiça que está citando a passar por aqui, deixo os comentários para o vosso deleite (imitando expressão alfacinha!)
Como surgiu a palavra “ENFEZADO”. Um pouco de História: a cidade do Rio de Janeiro, como conhecemos hoje, é fruto de um processo de modificação que foi acontecendo ao logo do tempo. No século XIX, ela estava bem longe de ser chamada de cidade maravilhosa. Pessoas brutas, ruas esburacadas, sujas e esgoto faziam naturalmente parte do cenário da pequena cidade do Rio de Janeiro. No século XIX, quem sofria bastante com esse cenário eram os “Tigres”. Muita gente atravessava a rua quando cruzava com um deles. Muitos podem se assustar ao ouvir isso hoje em dia, mas naquela época isso tudo fazia parte do cotidiano. Os tigres não eram animais, eram africanos escravizados que faziam o serviço doméstico. Um dos trabalhos dos tigres era jogar os dejetos dos seus senhores na Baia de Guanabara e nas Lagoas. Existiam pontes de madeira exclusiva para isso. De tardinha, os escravos saiam para jogar os dejetos com uma tina na cabeça cheia de fezes. Às vezes, o conteúdo vazava e as fezes escorriam pelos seus corpos, nas peles que ficavam manchadas. Quando isso acontecia eles eram chamados de “tigres” devido às manchas. Algo bem pior acontecia com frequência, as tinas estouravam, o escravo ficava furioso, e muitos diziam: “O escravo está enfezado”. Enfezado, isto é, cheio de fezes... (Texto: Marcelo S. Souza &
Imagem: Revista A Semana Ilustrada).
A origem do termo “gari”. No Brasil, as ações iniciais de limpeza das vias públicas aparecem na época do governo imperial. No ano de 1830, uma lei da capital federal estipulava que houvesse o “desempachamento” das ruas da cidade. No caso, além de retirar o lixo, a lei de natureza “higiênica” determinava que as mesmas ruas fossem livradas dos mendigos, loucos, desempregados e outros animais ferozes. Uma das primeiras ações organizadas para o serviço de recolhimento do lixo urbano apareceu no Brasil quando o governo imperial contratou o francês Aleixo Gary para transportar o lixo produzido no Rio de Janeiro para a ilha de Sapucaia. O sobrenome do contratado acabou sendo utilizado para a designação feita a todos os funcionários que realizam a coleta de lixo nas cidades. (Texto: Rainer Gonçalves Sousa, postado originalmente em O Rio de Janeiro que não vivi /facebook)