Abril 26, 2022
Foureaux
Li o poema que segue por indicação de um amigo muito querido. Conhecia a autora de nome. Fiquei impressionado. No tsunami de preguiça e falta de vontade em que me encontro, pensei em compartilhar os versos, magníficos desta portuguesa de uns tantos costados. Fica, também, como homenagem à data de hoje, importantíssima para o povo português. Salve 25 e abril!
Meditação do Duque de Gândia sobre a morte de Isabel de Portugal
Nunca mais
A tua face será pura, limpa e viva
Nem o teu andar como onda fugitiva
Se poderá nos passos do tempo tecer.
E nunca mais darei ao tempo a minha vida.
Nunca mais servirei Senhor que possa morrer.
A luz da tarde mostra-me os destroços
Do teu ser. Em breve a podridão
Beberá os teus olhos e os teus ossos
Tomando a tua mão na sua mão.
Nunca mais amarei quem não possa viver
Sempre.
Porque eu amei como se fossem eternos
A glória, a luz e o brilho do teu ser,
Amei-te em verdade e transparência
E nem sequer me resta a tua ausência,
És um rosto de nojo e negação
E eu fecho os olhos para não te ver.
Nunca mais servirei Senhor que possa morrer.
(Sophia de Mello Breyner Andresen)