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As delícias do ócio criativo

As delícias do ócio criativo

Setembro 21, 2024

Foureaux

OIP.jfif

Na véspera do dia mais bobo da semana, pensei em escrever alguma coisa no blogue. Faz um tempinho que não escrevo nada... Não vou me justificar. Na verdade, resolvi escrever por conta do texto que segue. A resolução se deve ao fato de ter ficado sabendo, sete dias depois, da morte de um amigo querido, o Zezito. Ele vivia em Teófilo Otoni. Conheci-o há mais de trinta anos e tinha com ele uma relação de amizade sincera, profunda, prazerosa. Morreu de repente. Um coágulo numa das artérias. Sentiu-se mal. Chamou uma amiga e vizinha. Foi para o PA da unimed naquela cidade. E... foi-se. Que triste. a gente estuda, pensa, reza e, na hora H, é o mesmo choque. Por isso, essa postagem. Por isso, o texto que segue que li numa postagem de outro amigo muito querido o Gerson...

“A dor da perda nunca desaparece; ela apenas se transforma. Com o tempo, aprendemos a conviver com ela, a aceitar que a ausência de alguém que amamos será sempre uma presença em nossas vidas. Mas a dor também nos ensina a valorizar cada momento, cada segundo que passamos com aqueles que ainda estão conosco. E, de alguma forma, ela nos aproxima da nossa própria mortalidade, lembrando-nos que tudo o que temos é o agora.”

– C.S. Lewis, A Anatomia de uma Dor

 

Dezembro 17, 2022

Foureaux

Tenho tentado manter um diário. A duras penas, por conta de minha abissal personalidade macunaímica. Neste diário, hoje, registro um fato que me toca, ainda que pouco. A morte de uma escritora. Ficou uma saudade.

Nélida Piñon faleceu agora à tarde, em Lisboa. Quisera eu estar vivendo lá, onde ela vivia, ultimamente. Conheci-a em Santa Maria, ainda nos anos 90, já não sei se 3 ou 4, mas 90... Chatices... Fui apanhá-la no aeroporto da cidade, ao lado da base aérea num final de tarde chato, entediante, em que eu estava pelas tampas num mal humor inexplicável. Hoje, eu penso que já era sintoma de uma crise depressiva que vim a viver por alguns meses depois. Pois. Fui designado para ir apanhá-la no aeroporto. Lá fui. Queria fazer qualquer coisa menos estar ali, esperando por uma senhora desconhecida – então presidente da Academia Brasileira de Letras – que chegava para uma conferência no dia seguinte. Teria que levá-la ao hotel e, quem sabe – como acabou por acontecer – ao restaurante. No dia seguinte, deveria pegá-la no hotel, ainda uma vez, levá-la ao CAL, acompanhá-la ao gabinete da Direção e apresentá-la no “Quinta versão”, auditório do Centro. Fui. Esperei. Ela chegou. Os olhinhos de fuinha, cabelo liso, elegante e simplesmente vestida. Um sorriso rasgado na face. Levei-a ao Itaimbé. Na época, o melhor hotel da cidade. Conversamos animadamente. Até hoje eu não consigo explicar de onde me veio a energia para ficar tão animado com essa conversa entre Camobi e o centro da cidade. Depois, quando chegamos ao Augusto – então, o melhor restaurante da cidade, o mais tradicional, o mais conhecido, hoje, infelizmente, inexistente – passamos uma noite incrível. Tomamos três garrafas de um Pinot Noir, da Aurora. De novo, à época, esta vinícola produzia vinhos mais que excelentes e tinha lançado o Pinot Noir naquele ano. O papo foi mais que animado, divertido. três horas da manhã a deixei à porta do hotel. No dia seguinte, peguei-a, ainda uma vez. Fomos para o “Quinta versão”. Ela fez sua conferência. Foi um sucesso. depois disso, jamais a vi pessoalmente outra vez. Tentei ler dela um de seus primeiros romances: Tebas do meu coração. Não cheguei a terminá-lo. Cheguei a manusear A república dos sonhos, mas não o li. agora, com sua morte, reacendeu-se o desejo de ler sua obra. Será que minha preguiça vai deixar? De qualquer maneira, uma pena, uma tristeza. Mais uma vez que se cala. Uma voz clara, divertida, articulada, densa, ampla. Uma pena. 

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