Poesia
A postagem hoje é resultado do famigerado “seleciona-copia-cola”. Muito prático, na maioria das vezes. Dois poemas. O primeiro não conhecia. Soube dele ao ver um filme de Bille August, O pacto (Pagten, no original), de 2021. Nele, um escritor declama este poema em dinamarquês. Procurei o tio google e ele me mandou a tradução do Manuel Bandeira. O segundo poema, já conhecido (e adorado!), é a mais castiça expressão do que sinto (pretensiosamente) sobre mim mesmo. Não tenho os quilates da poeta, mas sinto-me da mesma forma que ela diz se sentir em seu poema. Os tempos. obscuros e rasos, que nos compete viver têm efeito deletério sobre pequenos prazeres, revividos quando da leitura de poemas como estes dois...
Anelo
Johann Wolfgang von Goethe
(Tradução de Manuel Bandeira)
Só aos sábios o reveles,
Pois o vulgo zomba logo:
Quero louvar o vivente
Que aspira à morte no fogo.
Na noite - em que te geraram,
Em que geraste - sentiste,
Se calma a luz que alumiava,
Um desconforto bem triste.
Não sofres ficar nas trevas
Onde a sombra se condensa.
E te fascina o desejo
De comunhão mais intensa.
Não te detêm as distâncias,
Ó mariposa! e nas tardes,
Ávida de luz e chama,
Voas para a luz em que ardes.
Morre e transmuda-te: enquanto
Não cumpres esse destino,
És sobre a terra sombria
Qual sombrio peregrino.
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Motivo
Cecília Meireles
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.