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As delícias do ócio criativo

As delícias do ócio criativo

Julho 04, 2023

Foureaux

Miríades de pessoas. Todas as cores. Uma babel na horizontal. Filas imensas e a fachada do mosteiro, incólume, reverberava ao sol escaldante da manhã de terça-feira. Belém. Passei ao largo, fui visitar o Museu da Marinha. Que aventura. Um mergulho na História dos descobrimentos, de guerras que os sucederam, da indústria naval portuguesa, as camarinhas reais, o primeiro voo transatlântico – Gago Coutinho e Sacadura Cabral. Uma efeméride. Um museu a visitar. Enquanto me deliciava maravilhado com o que vi, a multidão suava na espera de poder adentrar outro monumento da beleza e da História: o mosteiro dos São Jerônimos. Já o visitei duas vezes. Sempre penso em voltar a fazê-lo, no entanto, sei que sempre haverá filas, enormes, multinacionais e multilíngues. Da mesma forma, do outro lado da esplanada, já na beira do Tejo, o padrão dos descobrimentos. Ao lado da Torre de Belém – ainda que haja alguma distância entre os dois pontos – o padrão eleva-se sobre o rio apontando para o mar. Já tencionei subir, mas cadê a paciência pra enfrentar as mesmas filas lá do outro lado. Isso, com o tempo, só piora. Se bem que, guardadas as devidas proporções, nas ruas e vielas da cidade, não estou percebendo a mesma multidão de outros tempos. Estarei mais desatento? Ou desligado? De todas as maneiras, foi bom voltar. O almoço, numa tasca dessas bem lisboetas: nada prometendo na fachada ou no conjunto de mesas da/na esplanada. Mas a comida: bitoque com um molho diferente, saborosíssimo. E assim se foi mais um dia. Amanhã será outro e, talvez, mais recordações, e surpresas e/ou rememorações.

 

 

Junho 30, 2023

Foureaux

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Hoje foi dia do reencontro com Vitor e Ana Cristina, dois queridos. Pra variar, não tirei fotos. A cada dia fico mais distraído em relação às demandas da tecnologia. Apesar disso, penso que o afeto partilhado, a experiência dos momentos e seus detalhes, prescindem de documentação fotográfica. Quem partilha isso não sente falta da imagem em papel ou no ecrã, como dizem por aqui. O exercício da partilha é, por si só, gratificante. Punto i basta. O encontro foi mais que bom, claro! Conheci mais um lugar para comer bem interessante. Gulden Draak – Casa da Cerveja, na rua Andrade Corvo, em que fica a estação Picoas do metrô lisboeta. Um luxo: a estação e o bar. A decoração é muito inventiva. O atendimento descontraído, corretíssimo, uma simpatia. Não sei dos preços – fui convidado. A cerveja filtrada quatro vezes – já não me lembro do nome – é uma de-lí-cia. O hamburguer com tempero mexicano... outro acepipe. Picante na medida certa. Carne saborosa. O tiramissu de cerveja também uma surpresa agradável ao paladar. Bom. Encontro rápido, renovação de afeto, gratificação. Queria ter uma foto para ilustrar isso. O que sinto está dito. Amanhã (possivelmente) tem mais.

 

 

Junho 29, 2023

Foureaux

Voltar. Verbo transitivo indireto e intransitivo. Tem o sentido de: vir ou ir (de um ponto ou local) para (o ponto ou local de onde partira ou no qual antes estivera); regressar, retornar. Como transitivo indireto e bitransitivo significa restituir ou ser restituído (a quem possuía ou ao local de onde fora retirado); devolver ou ser devolvido; retornar. Em qualquer das duas “situações, para mim, é um prazer, sobretudo quando objeto e fundamento, sentido e razão do “voltar” é esta cidade encantadora que leva o nome de Lisboa. Conheço-a desde 1988, quando cá estive por primeira vez. aqui, toda vez que venho, sinto como se estivesse voltando para casa. Hoje, de novo aqui, antes de sair de casa, lembrei-me de um poema: Lisboa revisitada, 1926. Claro que tinha de ser do heterônimo Álvaro de Campos. Depois dele... digo mais nada! (Ah... a foto ilustrativa, eu tirei da internete).

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Nada me prende a nada.
Quero cinquenta coisas ao mesmo tempo.
Anseio com uma angústia de fome de carne
O que não sei que seja –
Definidamente pelo indefinido…
Durmo irrequieto, e vivo num sonhar irrequieto
De quem dorme irrequieto, metade a sonhar.

Fecharam-me todas as portas abstratas e necessárias.
Correram cortinas de todas as hipóteses que eu poderia ver da rua.
Não há na travessa achada o número da porta que me deram,

Acordei para a mesma vida para que tinha adormecido.
Até os meus exércitos sonhados sofreram derrota.
Até os meus sonhos se sentiram falsos ao serem sonhados.
Até a vida só desejada me farta – até essa vida…

Compreendo a intervalos desconexos;
Escrevo por lapsos de cansaço;
E um tédio que é até do tédio arroja-me à praia.

Não sei que destino ou futuro compete à minha angústia sem leme;
Não sei que ilhas do Sul impossível aguardam-me náufrago;
Ou que palmares de literatura me darão ao menos um verso.

Não, não sei isto, nem outra coisa, nem coisa nenhuma…
E, no fundo do meu espírito, onde sonho o que sonhei,
Nos campos últimos da alma, onde memoro sem causa
(E o passado é uma névoa natural de lágrimas falsas),
Nas estradas e atalhos das florestas longínquas
Onde supus o meu ser,
Fogem desmantelados, últimos restos
Da ilusão final,
Os meus exércitos sonhados, derrotados sem ter sido,
As minhas coortes por existir, esfaceladas em Deus.

Outra vez te revejo,
Cidade da minha infância pavorosamente perdida…
Cidade triste e alegre, outra vez sonho aqui…
Eu? Mas sou eu o mesmo que aqui vivi, e aqui voltei,
E aqui tornei a voltar, e a voltar,
E aqui de novo tornei a voltar?
Ou somos, todos os Eu que estive aqui ou estiveram,
Uma série de contas-entes ligadas por um fio-memória,
Uma série de sonhos de mim de alguém de fora de mim?

Outra vez te revejo,
Com o coração mais longínquo, a alma menos minha.

Outra vez te revejo — Lisboa e Tejo e tudo —,
Transeunte inútil de ti e de mim,
Estrangeiro aqui como em toda a parte,
Casual na vida como na alma,
Fantasma a errar em salas de recordações,
Ao ruído dos ratos e das tábuas que rangem
No castelo maldito de ter que viver…

Outra vez te revejo,
Sombra que passa através de sombras, e brilha
Um momento a uma luz fúnebre desconhecida,
E entra na noite como um rastro de barco se perde
Na água que deixa de se ouvir…

Outra vez te revejo,
Mas, ai, a mim não me revejo!
Partiu-se o espelho mágico em que me revia idêntico,
E em cada fragmento fatídico vejo só um bocado de mim ―
Um bocado de ti e de mim!…

 

 

 

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