Julho 30, 2023
Foureaux
A exatos 28 dias, numa tarde de sábado como a de hoje, estava eu em Lisboa, para lançar meu livro Andando descalço em asfalto quente – miragens poéticas sob os auspícios do Real Circolo Francesco II di Borbonne, do qual sou membro. O livro encontra-se à venda na página da Editora Pedregulho (www.lojapedregulho.com.br, para quem, talvez, se interessar...). Uma tarde quente do verão alfacinha. Salão cheio. Gente amiga. Evento caloroso, simpático, agradável (apesar do calor), coroado com um jantar no restaurante Clara Jardim (que recomendo vivamente). Na ocasião, três amigos falaram: Luis Laforga Granjo, Ana Cristina Martins e Vitor Escudero. Dos três, apenas o primeiro escreveu um texto que, com sua autorização aqui compartilho. Fiquei honrado, comovido e grato. Segue o texto.
"Andando descalço em asfalto quente – miragens poéticas: uma análise...
Esta obra apresenta-nos uma poesia pessoal, íntima, em jeito de quem nos conta uma história ou histórias. Histórias da sua vida. O destino, a sina de uma vida preenchida, vivida, saboreada em cada momento, onde o belo é apreciado com um profundo sentido estético. É revelada a importância da força interior, motivada pela vontade, reforçada pelo desejo. A visão instrospectiva denota um elevado sentido de crítica pessoal e uma enorme sensibilidade aos pequenos gestos, impregnados de grandes sentimentos. A busca de conhecimento, a ânsia de saber mais sobre o mundo, sobre os outros, surge simultaneamente como objectivo e como motivação. A inexorável passagem do tempo, que nos limita a existência e nos coloca numa determinada época, molda a nossa essência, a nossa natureza e faz-nos ansiar por um futuro melhor. É essa esperança, essa fé, que nos faz acreditar que os sonhos são possíveis, são realizáveis. Estes poemas são um libelo optimista ao génio da criação humana, que se traduz em arte. A vida é uma viagem que é Iluminada por tudo o que criamos e valorizamos. Revelam também a importância da utilização dos nossos dons para concretizar os nossos sonhos, sendo persistentes sem nunca desistir. Mas, identificando também aqueles momentos em que devemos deixar-nos levar, usufruindo das dádivas que a vida tem para nós. A sensualidade espreita timidamente em certos momentos. A sugestão de um toque, de uma carícia... Temos de nos conformar com o real, com aquilo que de facto acontece, mas o desejo, esse, continua lá, inconformado, insaciável, fazendo a ponte entre nós e futuro, empurrando-nos para a frente, sem a preocupação de chegar, pois o mais importante é andar, percorrer o caminho... No fundo, há a preocupação de caminhar pela vida, pelo tempo, de uma forma em que nos possamos cumprir, realizando as obras que a nossa natureza nos impele a concretizar. Pois se eu sou fogo, não poderei ser água, nem o inverso! Sempre naquele limbo entre o real e o metafisico. O que será a realidade senão a soma de todas as realidades pessoais... Aqui se percebe a importância do outro, de não estar sozinho... Aprendemos a ultrapassar os obstáculos com as armas que nós mesmo construímos, confiantes, valorizando cada nova vitória, e aprendendo com a frustração de todas as vezes que não fomos capazes de o fazer... Mas naquelas vezes que realmente conseguimos, o fruto aguarda ser colhido, o prémio merecido, que nos revigora e fortalece para as batalhas seguintes. Sem nunca olvidar que apesar das escolhas que têm de ser feitas, a Liberdade fala mais alto; por muito que custe, há que ser livre em primeiro lugar, e depois, sim, Lutar! Nem sempre é fácil fazer escolhas. O que é o Bem? O que é o Mal? Que cruel paradoxo é perceber quão ténue é a fronteira entre ambos... Como distinguir? Como saber quem somos? Lembrar sempre o nome, nunca esquecer. Mesmo na sua ausência, lembrar do prazer... A ânsia fica mais leve, dormente, e a sombra ·já não é disforme, tem um contorno. Fica a promessa do retomo que emoldura a saudade. Será ilusão? Que importa? A tristeza amainou e o silêncio já não magoa. A luz da esperança ilumina o desejo. Talvez amanhã... O amor estará sempre lá, ainda que adormecido, na chuva, no vento e no seu sorriso. É cíclico e continua à espera... A cadência ritmada da vida que flui e que nos obriga a seguir o seu ritmo permite, no entanto, que nos debrucemos sobre as coisas pequenas, os pormenores que tantas vezes são o mais importante. E o que fica na memória ao longo do tempo, os despojos da vida, é o que faz parte de nós, é o rasto da nossa existência que permanece e que conta quem fomos...".