Entrevista
Acabei de ver (extremamente comovido) uma entrevista que não sabia ter sido feita (A gente precisa mesmo saber de tudo?). Uma entrevista. (Alta Definição | Adriana Calcanhotto) Coisa simples. Um interlocutor inteligente, sagaz, sutil, delicado e incisivo. É possível ter todas estas qualidades reunidas num só ato... o de entrevistar? A entrevistada é Adriana Calcanhoto. O entrevistador é Daniel Oliveira, da SIC, um canal televisivo de Portugal. Quando se digita o nome do programa na barra de procura do google (Hoje em dia a gente não procura quase mais nada sem o seu socorro...) aparece o seguinte: “Alta Definição é um programa televisivo da SIC conduzido por Daniel Oliveira em que semanalmente faz uma entrevista, numa abordagem intimista, a um convidado central. As entrevistas são gravadas em alta definição, num local especial escolhido pelo entrevistado.” À parte o fato de ter uma certa birra da cantora por conta de algo que se passou logo depois de 2015... Eu tinha concluído o segundo estágio de pós-doutoramento na Universidade de Coimbra, supervisionado pela filha de uma personalidade única das terras portuguesa – António Arnaut. Era a Ana Paula Arnaut. Foi ela que me deu a notícia de que Adriana Calcanhoto estava em Coimbra por um período de seis meses. Ia uma vez por mês à universidade para desenvolver um, seminário sobre poesia. despesas pagas. Eça, a supervisora. estava indignada pois os vencimentos docentes, àquela altura, beiravam o aviltamento, segundo ela. E lá estava a “cantorazinha” a ganhar num mês o que os locais suavam para ganhar num ano. A levar ao pé da letra a notícia, chegava mesmo a aviltar. Um horror. Daí a birra. No entanto, não dá para esquecer a emoção de ver a cantora em seu début profissional e artístico em Santa Maria da boca do monte, no Rio Grande do Sul, nos idosa de 1992 ou 93, já não me recordo com certeza. Trajando terninho azul, risca de diz, aberto nos ombros e nos joelhos – quando ela se sentou as pernas se desnudaram e quando se movimentava no exercício de violonista ou nos trejeitos afeitos à interpretação das músicas que cantava os ombros tinham a sua vez de fazer o mesmo. Um encantamento sentido e gozado da primeira fila no salão de festas do Itaimbé, então, o melhor e maior hotel da cidade. Eu, carne fresca no mercado, ainda descobria os segredos da cidade – confesso que mesmo depois dos cinco anos lá vividos, a maioria deles me é desconhecida... – e fui ver o show acompanhado de uma mulher extraordinária a quem amei desde o primeiro momento em que a vi: Maria Luíza Furtado Kahl. A mesma emoção se repetiu, quando, ainda em Coimbra, fui ver uma apresentação da Adriana Calcanhoto no teatro da Universidade. Foi o prelúdio do mencionado seminário. Chorei, como chorei durante a entrevista. Será que é mesmo necessário explicar com palavras esse tio de experiência...?