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As delícias do ócio criativo

As delícias do ócio criativo

Março 14, 2023

Foureaux

Na semana passada fiz uma enquete no meu blogue. Apenas três pessoas responderam. Coloquei dois poemas, sem identificação de autoria e perguntei qual dos dois agradava mais a quem lesse e por quê. As justificativas, por óbvio, vou manter em sigilo. as identidades de quem comentou também, mas a resposta dos três, como foi unânime, não escondo: o segundo poema, chamado “B” na postagem, foi o que agradou mais. Era um poema da Bruna Lombardi. O outro, “A” na postagem, era de minha autoria. Depois de ler e reler os comentários e de trocar ideias com, pelo menos, dois dos que leram e responderam, fiquei pensando num monte de coisas. Entre estas coisas, ocorreu-me pensar que minha poesia não agrada. Deixei este pensamento de lado depressinha. Não se pode deduzir tal coisa com apenas três opiniões, ainda que unânimes, num universo de três informantes. Para quem é escravo de estatística, isso quer dizer alguma coisa. Para mim, diz que a opinião alheia é subjetiva, como a minha, e não pode ser tomada como “valor absoluto” de nada, em relação a nada. Isso não é desrespeito à opinião alheia, pelo contrário. É mesmo um respeito enorme pois cada um sabe de si, cada tem um conjunto de informações/experiências/exemplos/práticas/ideias que ajudam a amoldar o back ground a partir do qual emitem sua opinião. Por isso mesmo o respeito. Esta ideia também deixei de lado. Fiquei com a suposição de que, em primeiro lugar, a poesia que escrevo tem que agradar a mim. Se agrada a outras pessoas, no frigir dos ovos, vai fazer pouca diferença, na concretude da situação. Poderei continuar gostando do poema que escrevi em que pese a desaprovação alheia, quando e se for o caso. O que não ocorreu na enquete. Pena foi que apenas três pessoas responderam. A ideia de que minha poesia não vale muito voltou a me rodear o pensamento. Dou tratos à bola e sigo escrevendo. Quem sabe um dia...

 

Na interrupção de minhas anotações, deixei de comentar o bizarro, por óbvio, que foi a audiência de conciliação com o banco do Brasil. Na véspera, estava eu apreensivo, com medo de me exaltar e botar tudo a perder. Em vão. Quando consultei a advogada sobre isso ela riu e disse exatamente o que aconteceria. E aconteceu. Abriu-se a sessão, a mediadora (uma menina) leu o caput da ação. Perguntou à representante do banco se havia proposta de acordo. Negativo. Perguntou à advogada que me representa se tinha algo a dizer. Negativo. Leu então o parágrafo protocolar sobre o tópico. Foi interrompida pela representante do banco que pediu o acréscimo de solicitação de meu testemunho oral. Tudo acertado. Assinamos o papel e saímos. Tudo isso não durou quinze minutos. A representante do banco, se minha memória não me trai, é a mulher que. me ajudou a encerrar a conta de papai, mesmo antes de abrir o inventário. Em dois dias estava tudo resolvido. Entrou com pose de importante, com arrogância. Falou baixíssimo, o que me deixou intrigado pois não consegui escutar mais que o cicio de sua vez. Na saída pedi à advogada a confirmação da necessidade de meu testemunho oral diante do juiz. Ela disse que depende do meritíssimo pois o teor desse testemunho já está escrito no corpo do processo, acompanhado das “provas”. No fundo, no fundo, não tenho muita esperança. Penso que o banco vai protelar, protelar e protelar até eu desistir. Só desisto quando não houver mais saída, mas penso que jamais verei o dinheiro roubado de volta.

 

Faz dias e dias que não escrevo nada. Nem prosa, nem verso. Tenho lido bastante. Li dois livros que foram motivo de curiosidade no passado: Viagem ao redor de meu quarto (Xavier de Maistre) e No coração das trevas (Joseph Conrad). Que decepção! Creio que o passar do tempo fez arrefecer a curiosidade ou então ela ficou insatisfeita com a leitura, devido às fantasias inconscientes que minha psique elaborou e não me revelou. Não vi graça nenhuma em nenhum dos dois livros. Li tanto sobre eles. Escutei tantos elogios. Até vi um filme baseado num deles (Apocalipse Now – Francis Ford Coppola). Estou pra dizer, que, mesmo não fazendo meu “gênero” predileto de filme, este me agradou muito mais que o livro. Que coisa sem graça. O mesmo eu digo do texto do escritor francês. Pensei que se tratava de algo criativo, instigante e curioso. Nada. Um amontoado de anotações inusitadas e, porá ser sincero, com muito pouco sentido. Não gostei. Pronto. Isso não determina o destino das duas obras, Também não define sua posição num ranking de agrado ou sucesso. Quem sou eu para tanto... Só não vou ficar papagueando salamaleques pra ser politicamente correto. Não gostei. Punto i basta!

Janeiro 27, 2023

Foureaux

O Brasil é um país interessantíssimo. Sua História política é algo que se repete a cada quatro anos – tempo de mandato da presidência da república. Com alguma sorte, depois do famigerado FHC, a reeleição pode manter na cadeira, o mesmo presidente. Teoricamente isso dar-lhe-ia a oportunidade “glorioso” de fazer cumprir o seu “plano de governo”, quando, é óbvio, há um! No andar tradicional da procissão, a mesma ladainha se repete a cada quatro anos. Tudo o que o governo que é substituído fez não presta. Todos os defeitos e problemas nacionais assumidos pelo novo eleito é pura e absolutamente responsabilidade do governo anterior. Com raríssimas e honrosíssimas exceções, cada quatro anos faz-se tabula rasa de tido. É como se o país, a nação, o Estado, fosse ter um início original, um novo “gênesis”... Este ano mão foi diferente. Há, porém, uma particularidade. O que assumiu volta depois de seis anos de espera, de matutagem, de enredo, de “preparação. No meio do caminho, houve um ensaio, patético e canastrão, de aprisionamento. Preso, numa dependência que não era do sistema carcerário, com múltiplas regalias, com direito a entrevista e manifestação oral, visitas a tempo e a hora. Mais de um ano. Agora, o condenado preside o país. Sob os aplausos de boa parte da famigerada “mídia”, das miríades e miríades de fanáticos que, com voracidade, já retomam pontos estratégicos da administração, com o beneplácito do simbolismo de um homem corrompido e corruptor, que se faz de vítima e de pai dos pobres, simultaneamente. Um homem em quem não se pode confiar, pois mente e confessa que mente. Inexplicavelmente, este homem está, de novo, sentado, na cadeira mais importante do país. Há que se fazer uma ressalva quanto a este último detalhe. Pode ser que a importância não seja assim definitivamente do assento presidencial. Há outro, togado – de preto e vermelho – que ocupa o esdrúxulo cargo de presidente de um supremo tribunal eleitoral. Esse aborto da administração pública só existe aqui, nos estados unidos de bruzundanga, até prova em contrário. Não vou “checar as fontes”, como é costume cobrar de mim. Preguiça, muita preguiça. O que me incomoda é que, repito, inexplicavelmente, há uma população numerosa que não consegue deixar de incensar este homem, vendo nele a encarnação da alegria, da felicidade, do amor. Ele não pode andar pelas ruas das grandes cidades sem correr o risco de receber interpelações, digamos, pouco lisonjeiras. Nega-se a ocupar a residência oficial da presidência da república, sob o pretexto de que ela foi deixada em frangalhos pelo “genocida” que a ocupou com sua família nos quatro anos anteriores ao retorno – sim, é assim mesmo que o presidente anterior é tratado, e foi tratado durante os quatro anos que ocupou o mesmo cargo de quem agora o ocupa. Um descalabro. Outra coisa que me espanta é que, em que pese a pessoa do antecessor, sua história, suas credenciais, seu comportamento, etc., o que espanta é que mesmo debaixo de saraivadas e saraivadas de chumbo grosso, vinte e quatro horas por dia, durante quatro anos, a equipe montada pelo antecessor, conseguiu, a duras penas, fazer com que certa estabilidade econômica fosse alcançada. E foi preciso que a imprensa internacional dissesse isso, pois a doméstica só continuava sua saga de destruição, negação e condenação de tudo e mais alguma coisa que a equipe fazia. Todo o seu trabalho sempre foi taxado de ruim, atrasado, nefasto e errado. Uma coisa! Nos dias que correm, há duas novidades que se anunciam e se sustentam na “voz do povo”. A primeira delas diz respeito ao antecessor que está sendo massacrado por fatos que ocorreram após sua saída de cena (um tanto covarde, convenhamos) por conta de atos de vandalismo – que a imprensa e seus asseclas insistem em denominar de terrorismo, no cometimento de um equívoco monumental – ocorridos logo na primeira semana do novo mandato. Há que se registrar o fato de que, a cada dia, aparecem (dizem...!) evidências de que os que entraram e tinham responsabilidade de evitar (porque foram devidamente alertados do que estava para acontecer) o ocorrido, não o fizeram. Sabe Deus por quê! A outra novidade é que os índios no norte do país estão doentes, malnutridos e morrendo por conta dos efeitos da má gestão do que se chama “política de reservas de territórios indígenas”. Digo novidade, com ironia, claro, por conta de que, desde que me entendo por gente (e já há um tempinho que isso se deu!) escuto notícias e detrações e lamentos e detrações sobre esta situação. Isso não é coisa de ontem, nem de anteontem, nem de reflexo de erros cometidos nos quatro anos que antecederam a (re)posse. Vem de longe. Por isso mesmo é que comecei dizendo que, ao que parece, a História política brasileira se repete a cada quatro anos, lamentavelmente. Há um mecanismo automático que acomete a todos os que ascendem ao “poder”, como se isso, de fato, existe, ontologicamente falando. Sei que muita gente, se pusesse os olhos em cima disso que acabei de escrever, ia jogar pedras em mim, me xingar, me ofender, me cancelar... etc., etc., etc. Se ao menos eu tivesse certeza de que leram mesmo até o fim. E leram com olhos de ler e não com olhos de enxergar apenas o que interessa do jeito que interessa. O que não se coadunar com essas premissas não presta, está errado, é crime, é negacionismo... etc., etc., etc. E la nave va!

Abril 09, 2022

Foureaux

"Conheci o João Tordo numa tarde de palestra, para unos estrangeiros. Rapaz magrinho, tímido. Gaguejava um pouco, creio que de nervoso. Risonho falava com fluidez, apesar da citada gagueira, que, de fato não o era. Uma tarde agradável com algumas alunas fascinadas por ele. Foi divertido. Já o José Luis Peixoto conheci num auditório, depois de uma conferência. Mais gente. Alunos estrangeiros também, mas havia mais gente. Ele leu trechos de um livro contundente: Morreste-me. Anos depois viria eu a comprar o volume e recordar a emoção funda e sentida naquela tarde estrangeira, como os alunos. O Gonçalo Tavares passou dois dias ali. Os alunos estrangeiros também afluíram com interesse, tanto ä palestra no primeiro dia, quanto à oficina que ministrou no dia seguinte. Rapaz mais retraído, mas sociável. Com olhar atento, de lince, captava nuances no ar, detalhes não lhe escapavam. Um jeitinho de judeu de comédia shakespeariana. Agora, tomando Jack Daniel Honey, lembro-me destas três visitas. Três escritores. Três obra de que sou leitor, na medida do possível, assíduo. E três pessoas que conheci sem ter partilhado momentos, digamos, mais intimamente sociais ou socialmente íntimos: um jantar, uma bebida num botequim, um café, um almoço. Nada. Só as três palestras e uma oficina. Três períodos de dias que ficaram perdidos na memória do tempo.

******

Li, em algum lugar dessa imensa rede chamada internete – escrevo com “e” no final porque escrevo em Português. Reuso-me a utilizar o termo ianque. Preguiça. Ojeriza mesmo. – que uma certa professora universitária está oferecendo um curso sobre “Zooliteratura”. No local em que li a informação, há uma foto com alguns dos títulos utilizados pela professora em seu curso oferecido numa plataforma chamada “Corredeira”. Nome sugestivo. Tentei localizar a tal plataforma. Em vão. Dei uma olhada nos títulos que estão na foto publicada por outrem. Inexplicavelmente, não encontrei A revolução dos bichos. Não sei explicar também. Como não se trata do conjunto total da bibliografia – diz o comentário sobre a foto – pode ser que esteja, o livro do Orwell, listado na bibliografia. Talvez obrigatória, do tal curso. Talvez não. Como conheço um pouco a professora, quase arrisco um palpite. O “decoro acadêmico” não me permite externar, aqui, o que realmente penso e o que me veio à cabeça quando li a informação. Membro de uma academia de letras de certo renome – ainda que bastante regional – a professora deve se encontrar num patamar de tal altura intelectual que não vai se importar com estas minhas palavras, de reles professor titular – como ela (ai, um cacófato!) – aposentado – isso não posso dizer a seu respeito. De qualquer modo, veio-me à memória, como no caso dos escritores portugueses, uma cena, passada durante um “concurso público de provas e títulos” em que um dos candidatos não conseguindo terminar de tomar notas bibliográficas durante o prazo estabelecido pela banca, continuou a fazê-lo, com o apanágio da presidente da tal banca. Coincidência das coincidências, a tal presidente da banca tinha sido orientadora desse candidato – atenção não sou adepto desta excrescência estúpida e falaz que atende pelo nome de linguagem neutra, por inexistente, de fato! No mesmo prélio, em outro momento, mais patético, o mesmo candidato dava sua aula no concurso – a famigerada prova didática (parece que aboliram isso e inventaram uma tal de arguição de projeto de pesquisa... vai vendo!) – quando, de repente, começou a saltar na frente da banca, como se fosse um contador de histórias numa feira literária infantil. A mise en scene era para ilustrar a imagem da janela no romance A história do cerco de Lisboa, objeto do ponto da tal prova didática. Bom. Deixa isso pra lá. Isso não interessa a ninguém além de mim mesmo. Mas, convenhamos, o que é que vem essa porra dessa tal de “zooliteratura”? Cheira a cachorrada. Ai! Tenho que me desculpar com quem me ler. Se é que há alguém que me lê."

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