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As delícias do ócio criativo

As delícias do ócio criativo

03.05.25

"Opiniães"...

Foureaux

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Não sabia quem é Marcelo Duarte Lins. Procurei na internete e encontrei (entre outros) o seguinte parágrafo: “Caso Varig – A história da maior tragédia da aviação brasileira (Editora Jaguatirica, 408 páginas), do comandante Marcelo Duarte Lins, 59 anos, carioca, bacharel em Ciências Aeronáuticas pela Academia da Força Aérea Brasileira no curso de Oficiais Aviadores em 1979, retrata o Caso Varig, processo judicial que se arrasta nos corredores do Judiciário e, ao mesmo tempo, segue arrastando as vidas de ex-funcionários, demitidos e aposentados que tiveram seus ideais aprisionados, seu futuro sem um voo certo e cujas vozes ainda ecoam em um vazio de respostas.” O texto completo de onde separei o parágrafo acima encontra-se no seguinte endereço: Caso VARIG - A maior tragédia da aviação brasileira - DefesaNet. O livro dele não me interessa aqui. De fato, o que me fez partilhar esta postagem foi o texto que ele escreveu e que recebi de um amigo do Sul, o Celso Celidonio. Concordo, em gênero, número e grau com o que O Marcelo diz em seu texto. Assino embaixo. Leia o texto e tire suas conclusões. Antes que me xinguem, execrem e/ou mesmo cancelem, gostaria de dizer que eu sei que o “espírito” que move a ABL é o de acolher “notáveis”. Mas isso fica para uma outra hora. Segue o texto que me interessa partilhar.

“TROCARAM UM MACHADO POR UMA MARRETA

Marcelo Duarte Lins

A Academia Brasileira de Letras — aquela casa centenária que, em tese, celebra a língua e cultiva a literatura — acaba de confirmar: virou puxadinho do PROJAC. Miriam Leitão, a jornalista sempre pronta a indignar-se em horário nobre, agora é “imortal”. Sim, a mesma honraria que um dia pertenceu a Machado de Assis, Rui Barbosa, Olavo Bilac e Graça Aranha foi concedida a uma senhora cujo maior feito literário talvez tenha sido transformar editoriais em sermões.

Nada contra dona Miriam — ou melhor, tudo contra o que ela simboliza nesta fase terminal do teatrinho literário nacional. A ABL, que em outros tempos discutia gramática com vinho, hoje debate narrativas com militância. Não qualquer militância, mas aquela de esquerda vintage, que sonha com um socialismo gourmet à base de prosecco e hashtags.

E com todo o respeito que o sarcasmo permite: qual é mesmo a grande obra literária de Miriam Leitão? Qual romance memorável? Que coletânea de contos inovou? Qual revolução estética ela trouxe à língua portuguesa? Não vale boletim partidário disfarçado de editorial de jornal ou crônica. Estamos falando de literatura — lembram?

Os imortais do passado, esses sim, devem estar se revirando em suas tumbas. Uns em latim, outros em francês. Olavo Bilac, provavelmente, à procura de uma rima para “vergonha”. Rui Barbosa, redigindo um habeas corpus contra o que chamaria de atentado semântico. E Machado? Talvez apenas soltasse um suspiro irônico e escrevesse uma crônica melhor que esta.

E pensar que a Academia foi fundada com tanto zelo, por gente do calibre de Lúcio de Mendonça, Joaquim Nabuco, Artur Azevedo… Hoje, basta ser comentarista da hora certa e do governo certo. Daqui a pouco, teremos influencer literário ocupando cadeira. A vaga no TikTok Acadêmico já está sendo providenciada.

A coisa desandou faz tempo. Quando Sarney recebeu seu fardão, já ficou claro que a cadeira — antes trono da língua — viraria poltrona para veteranos da política. Com Miriam, virou assento fixo de redação, com vista privilegiada para Brasília.

O fardão? Virou fantasia de festa temática: “Vá de imortal, sem precisar escrever nada.” O critério? Visibilidade midiática, afinidade com o grupo dominante e o dom de comentar tudo — exceto literatura. Isso, hoje, é quase um impeditivo.

A defesa de sua escolha vem em tom emocionado: “Mas ela tem livros infantis, memórias, economia…” Sim, livros. Mas estamos falando de literatura. Aquela arte que exige alma, linguagem e invenção. Sejamos justos: há mais lirismo em uma lista de compras de Drummond do que em três coletâneas da nova imortal.

O Brasil, mestre das reinvenções tortas, conseguiu transformar a Academia em órgão homologador de relevância político-midiática. Se amanhã convocarem Zé de Abreu ou Felipe Neto para a próxima cadeira, ninguém se espante. A fila anda. E a gramática corre.

Machado de Assis, esse sim imortal, talvez dissesse apenas: “Aos vencedores, as batatas.” No caso, batatas empanadas — servidas no coquetel da próxima posse.

A ABL não morreu. Apenas se adaptou ao seu tempo. Trocaram o Machado por uma marreta — e com ela, demoliram o que restava de seriedade.

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12.02.25

Andalucía!

Foureaux

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Espanha. Um país encantador. Sua capital é vibrante e seu interior, mágico, sedutor, como Sevilha. Sofisticado como Toledo. Ancestral como Segóvia. Imponente como Salamanca. Impressionante como o Valle de los caídos. Inspirador como Ávila. Ainda quero voltar a este país. Nele nasceu um homem que me impressiona, mesmo que eu não saiba colocar ame palavras o real motivo. Apenas me impressiona. Punto i basta. Falo de Federico García Lorca. Eu costumava falar “Lórca”, até o dia em que ouvi dizer que a pronúncia correta é “Lôrca”. Ainda não voltei lá para perguntar a um nativo. Reservo-me o direito de não me dirigir a um scholar local para sabê-lo. A empáfia me incomoda. Não ando atrás de verdades absolutas, por inexistentes, obviamente! Pois... Garcia Lorca (ó ou ô, aqui tanto faz...!) escreveu muito. Dentre suas várias obras está um poema que serviu de mote, se não, de pedra fundamental (matéria mesmo) para um número musical apresentado na sessão do prêmio Goya no corrente ano ((4) DELLAFUENTE- VERDE (GOYA 2025) Homenaje García Lorca - YouTube). Um número de canto e dança. A letra é um poema de Lorca. Identificado pelo google como “Verde que te quiero verde”. A considerar o que diz a edição das obras completas do escritor espanhol, publicada pela Aguilar, de Madri, em 1957, o poema leva por título “Romance somnanbulo”. É terceiro poema da série de 15 que compõem seu livro Romancero gitano (1924-1927). No google, para além do nome que toma o primeiro verso como título, consta que a data de publicação é 1928. Abstenho-me da obrigação de explicar o porquê, dado que o desconheço. as pessoas a quem é dedicado – não faço ideia de quem sejam – são as mesmas – na edição que tenho e no texto da rede que utilizo aqui literalmente iguais, por sorte!). Pensei em fazer uma tradução para colocar aqui, mas a síndrome macunaímica de que sou constante vítima, impossibilitou-me. Segue o poema no original

Romance somnanbulo

Federico García Lorca

Gloria Giner
y
A Fernando de los Ríos

Verde que te quiero verde.
Verde viento. Verdes ramas.
El barco sobre la mar
y el caballo en la montaña.
Con la sombra en la cintura,
ella sueña en su baranda,
verde carne, pelo verde,
con los ojos de fría plata.
Verde que te quiero verde.
Bajo la luna gitana,
las cosas la están mirando
y ella no puede mirarlas.

*

Verde que te quiero verde.
Grandes estrellas de escarcha
vienen con el pez de sombra
que abre el camino del alba.
La higuera frota su viento
con la lija de sus ramas,
y el monte, gato garduño,
eriza sus pitas agrias.
Pero ¿quién vendrá? ¿Y por dónde?…
Ella sigue en su baranda,
verde carne, pelo verde,
soñando en la mar amarga.
—Compadre, quiero cambiar
mi caballo por su casa,
mi montura por su espejo,
mi cuchillo por su manta.
Compadre, vengo sangrando,
desde los puertos de Cabra.
—Si yo pudiera, mocito,
este trato se cerraba.
Pero yo ya no soy yo,
ni mi casa es ya mi casa.
—Compadre, quiero morir
decentemente en mi cama.
De acero, si puede ser,
con las sábanas de holanda.
¿No ves la herida que tengo
desde el pecho a la garganta?
—Trescientas rosas morenas
lleva tu pechera blanca.
Tu sangre rezuma y huele
alrededor de tu faja.
Pero yo ya no soy yo,
ni mi casa es ya mi casa.
—Dejadme subir al menos
hasta las altas barandas;
—¡Dejadme subir! dejadme
hasta las verdes barandas,
Barandales de la luna
por donde retumba el agua.

*

Ya suben los dos compadres
hacia las altas barandas.
Dejando un rastro de sangre.
Dejando un rastro de lágrimas.
Temblaban los tejados
farolillos de hojalata.
Mil panderos de cristal
herían la madrugada.

*

Verde que te quiero verde,
verde viento, verdes ramas.
Los dos compadres subieron.
El largo viento, dejaba
en la boca un raro gusto
de hiel, de menta y de albahaca.
¡Compadre! ¿Dónde está, dime,
dónde está tu niña amarga?
¡Cuántas veces te esperó!
¡Cuántas veces te esperara
cara fresca, negro pelo,
en esta verde baranda!

*

Sobre el rostro del aljibe
se mecía la gitana.
Verde carne, pelo verde,
con ojos de fría plata.
Un carámbano de luna
la sostiene sobre el agua.
La noche se puso íntima
como una pequeña plaza.
Guardias civiles borrachos
en la puerta golpeaban.
Verde que te quiero verde.
Verde viento. Verdes ramas.
El barco sobre la mar.
Y el caballo en la montaña.

23.12.24

Boas festas!

Foureaux

 

Minha mensagem de Natal é um texto repassado por uma amiga, a Suzana, que me enviou pelo WhatsApp. Não conheço a autora, mas gostei do texto.

Boas festas!

“A origem dos símbolos do Natal

Uma toalha vermelha com sinos bordados nas laterais estendidas sobre a mesa marcava o início das comemorações de Natal. Para minha avó, que ficou órfã aos 6 anos de idade, ter toda a família reunida em sua casa trazia um significado especial. Queríamos ajudar com os preparativos, mas ela insistia que estava tudo tranquilo apesar do alvoroço: pernil sendo assado, minipães de batata esperavam o momento certo de serem levados para a mesa, salpicão sendo finalizado com batata-palha, nozes com casca espalhadas pela casa e todos procurando pelo quebra-nozes que se perdia a todo instante. Vovô era o primeiro a se sentar e adorava abrir o queijo do reino que vinha em uma lata vermelha - linda, diga-se de passagem. Algum parente ligava e quem estava mais perto do telefone, atendia. Só escutávamos respostas curtas: “Tudo em dobro pra vocês!”, “Deus abençoe!”.  A ligação durava pouco. “Era Fulana!” avisava-se à todos, repassando os desejos de boas festas. Os netos arrumavam o presépio esperando o relógio marcar meia-noite para a chegada do Papai Noel. Sempre me intrigou a imensa sorte que tínhamos dele passar exatamente nesse horário na casa da minha avó… Memórias de infância são deliciosas!

O tempo vai passando e com ele parte da magia. Lembro da minha decepção ao entender que Jesus não nasceu no dia 25 de dezembro. Provavelmente tenha sido em abril, dizem as análises mais aprofundadas dos fatos. A escolha da data foi ratificada no século IV, com a consolidação da Igreja Católica em Roma. Como não se sabe ao certo o dia em que Jesus nasceu, essa foi uma forma de cristianizar as festas romanas, dando-lhes uma nova simbologia. Aliás, a festa de Natal tem suas raízes em festas pagãs que eram realizadas na antiguidade. Nessa data, os romanos celebravam a chegada do inverno. Eles cultuavam o Deus Sol e ainda realizavam dias de festividades com o intuito de renovação. Outros povos da antiguidade também celebravam a data, seja pela chegada do inverno ou pela passagem do tempo.

Com o Natal surgiram vários sinais representativos dessa comemoração festiva, cada qual com um significado distinto e com origem pagã ou religiosa. O presépio surgiu no século XIII, na Itália, em uma tentativa de São Francisco de recriar a cena do nascimento de Jesus para explicar ao povo como teria acontecido. Depois, cada vez mais a montagem do presépio tornou-se uma tradição forte e passou a ser montado nas casas, nas igrejas e em diversos locais durante o ciclo do Natal.

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O presépio simboliza a união do divino com o terreno, afinal reúne pessoas, animais e a figura de Deus. Ainda no campo religioso, anjos usados na decoração do Natal remetem a São Gabriel, o arcanjo que anunciou à Maria que ela seria mãe de Jesus.

Os três reis magos foram à procura de Jesus para adorá-lo e levar-lhe presentes. Essa tradição religiosa também inspira o costume de troca de presentes no Natal, embora hoje o comércio tenha dado novos significados a essa prática. Já as estrelas no topo das árvores de Natal são o sinal seguido pelos reis magos para encontrar o lugar onde Jesus tinha nascido.

O costume de decorar árvores vem de tradições antigas europeias e ganhou força na Alemanha Medieval. Lá, as pessoas montavam a "árvore do Paraíso", inspirada no Jardim do Éden, e a enfeitavam com maçãs e frutas. Mais tarde, outros enfeites foram adicionados. Martinho Lutero, no século XVI, foi um dos primeiros a usar velas para iluminar a árvore. Com o tempo, essas tradições deram origem às árvores de Natal que conhecemos hoje. Como o Natal acontece no inverno europeu, o pinheiro é a árvore mais usada nessa celebração por resistir ao frio, simbolizando esperança e paz, assim como Jesus para os cristãos.

Se a árvore é o símbolo mais emblemático, o Papai Noel é o personagem mais conhecido da festa. Sua figura é inspirada em São Nicolau, um bispo turco que viveu na antiguidade. Ele teria ajudado um homem miserável, pai de três filhas, que não tinha condições de sustentá-las e pagar o dote de seus casamentos. Para ajudá-lo, às escondidas, Nicolau doou sacos com moedas para o homem necessitado. Esse feito popularizou o bispo, e fez com que ele passasse a representar a generosidade associada à época natalina. Com o tempo, e através de escritores como Washington Irving (1783–1850) e campanhas publicitárias, a figura de São Nicolau ganhou novas características e deu lugar ao Papai Noel como hoje conhecemos. Em vez de moedas, o bom velhinho deixa presentes às crianças que se portam bem ao longo do ano.

A ceia também tem origens em festas antigas e medievais da Europa. Ela está ligada à celebração do solstício de inverno e da Saturnália, um importante festival romano celebrado em dezembro. Ela simboliza a união e a confraternização das famílias.

Embalados por esses símbolos, preparem a trilha sonora para este Natal. “Noite Feliz” não pode faltar! Escrita pelo sacerdote austríaco Joseph Mohr que diante do órgão estragado de sua paróquia, decidiu compor um canto simples que poderia ser interpretado no violão na Missa do Galo. Bem, toda esta descomplicação a tornou a música natalina mais popular e traduzida em 330 idiomas!

Desejo uma semana de preparativos e mergulhada na magia do Natal. Por aqui, estamos todos concentrados para entregar nosso melhor para sua família através das encomendas! E se você ainda precisa resolver os últimos presentes, podemos te ajudar com caixas de antepastos, azeites e vinhos! Ahhhh… que coisa boa essa preparação!

Com carinho,

Carol”

 

12.11.24

Bobagem

Foureaux

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Mais um dia sem a menor vontade de escrever algo inventivo. De mais a ais, pra quê? Vai ficar por aí mesmo, tomando poeira, chá de indiferença, injeção de esquecimento. É assim mesmo. Sendo assim, na limpeza que ocasionalmente faço, encontrei a bobagem que segue. Ri um pouco, é verdade. Então partilho, já sabendo que muitos narizes hão de se torcer... Que pena, não posso fazer nada... Ria... se puder!

Frases do dia!

Os políticos brasileiros, são os mais católicos do mundo.... Não assinam nada sem levar um terço.

Os assaltos continuam e em cada pedaço de terra deste imenso Brasil, eles são praticados de forma diferente.

Tipos de assaltantes: mineiro – ô, prestenção. issé um assarto, uai. Levantus braço e fiketin quié mió prucê. Esse trem na minha mão tá chein de bala... Mió passá logo os trocado que eu num to bão hoje. vai andano, uai ! Tá esperanuquê, sô?; bahiano – Ô meu rei... (pausa) Isso é um assalto... (longa pausa) Levanta os braços, mas não se avexe não... (outra pausa) Se num quiser nem precisa levantar, pra num ficar cansado. Vai passando a grana, bem devagarinho (pausa pra pausa) Num repara se o berro está sem bala, mas é pra não ficar muito pesado. Não esquenta, m u irmãozinho, (pausa) Vou deixar teus documentos na encruzilhada; carioca – Aí, perdeu, mermão! Seguiiiinnte, bicho. Isso é um assalto sacô? Passa a grana e levanta os braço rapá... Não fica de caô que eu te passo o cerol... Vai andando e se olhar pra trás vira presunto...; paulistano – Ôrra, meu... Isso é um assalto, meu. Levanta os braços cara.. Passa a grana logo, meu. Mais rápido, meu, que eu ainda preciso pegar a bilheteria aberta pra comprar o ingresso do jogo do Coríntia, meu... Pô, agora se manda, meu; gaúcho – Ô guri, ficas atento .. isso é um assalto. Levanta os braços e te aquieta, tchê ! Não tentes nada e cuidado que esse fação corta uma barbaridade, tchê. Passa as pilas prá cá ! E te manda, senão o quarenta e quatro fala; de Brasília – Querido povo brasileiro, estou aqui no horário nobre da TV para dizer que no final do mês, aumentaremos as seguintes tarifas: energia, água, esgoto, gás, passagem de ônibus, imposto de renda, licenciamento de veículos, seguro obrigatório, gasolina, álcool, IPTU, IPV A, IPL, ICMS, PIS, COFINS...

28.10.24

Estilo

Foureaux

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E la nave va... Adoro esta expressão italiana, título de um filme pra lá de esquisito do Federico Fellini (1983). Em Portugal chamou-se O navio (mais apropriado, eu diria... ainda que em Português do Brasil não perca o senso. Esta é mais uma de suas chatices, para quem ainda não percebeu...). Tudo no filme parece falso, é inusitado, e os desempenhos são pra lá de... esquisitos. Ai que preguiça de procurar outra palavra. De um jeito ou de outro gostei do filme. Tanto quanto gostei da postagem que aqui faço hoje. Ando numa maré de pensar e repensar. Tenho todo o tempo do mundo – blague paupérrima de um poeta que faz sucesso por aí (pasmem... um poeta! Sucesso!... Bah!) O texto da postagem é um exercício de estilo, ainda que muitos hão de torcer o nariz para tal desfaçatez (de minha parte). Não importa. É menos um dia sem fazer nenhuma postagem... O tempo foge...

Um escritor me disse.

PROPAROXÍTONAS

Há dois tipos de palavras: as proparoxítonas e o resto.

As proparoxítonas são o ápice da cadeia alimentar do léxico.

Estão para as outras palavras assim como os mamíferos para os artrópodes.

As palavras mais pernósticas são sempre proparoxítonas. Das mais lânguidas às mais lúgubres. Das anônimas às célebres.

Se o idioma fosse um espetáculo, permaneceriam longe do público, fingindo que fogem dos fotógrafos e se achando o máximo.

Para pronunciá-las, há que ter ânimo, falar com ímpeto - e, despóticas, ainda exigem acento na sílaba tônica!

Sob qualquer ângulo, a proparoxítona tem mais crédito.

É inequívoca a diferença entre o arruaceiro e o vândalo.

O inclinado e o íngreme.

O irregular e o áspero.

O grosso e o ríspido.

O brejo e o pântano.

O quieto e o tímido.

Uma coisa é estar na ponta – outra, no vértice.

Uma coisa é estar no topo – outra, no ápice.

Uma coisa é ser fedido – outra é ser fétido.

É fácil ser valente, mas é árduo ser intrépido.

Ser artesão não é nada, perto de ser artífice.

Legal ser eleito Papa, mas bom mesmo é ser Pontífice.

(Este último parágrafo contém algo raríssimo: proparoxítonas que rimam. Porque elas se acham únicas, exóticas, esdrúxulas. As figuras mais antipáticas da gramática.)

Quer causar um impacto insólito? Elogie com proparoxítonas.

É como se o elogio tivesse mais mérito, tocasse no mais íntimo.

O sujeito pode ser bom, competente, talentoso, inventivo – mas não há nada como ser considerado ótimo, magnífico, esplêndido.

Da mesma forma, errar é humano. Épico mesmo é cometer um equívoco.

Escapar sem maiores traumas é escapar ileso – tem que ter classe pra escapar incólume.

O que você não conhece é só desconhecido. O que você não tem a mínima ideia do que seja – aí já é uma incógnita.

Ao centro qualquer um chega – poucos chegam ao âmago.

O desejo de ser uma proparoxítona é tão atávico que mesmo os vocábulos mais básicos têm o privilégio (efêmero) de pertencer a esse círculo do vernáculo – e são chamados de oxítonos e paroxítonos. Não é o cúmulo?

(EDUARDO AFFONSO, arquiteto, escritor e colunista do jornal "O Globo" (publicado em 2020 – Leituras Livres)

23.10.24

O tempo

Foureaux

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A postagem de hoje iria acompanhada de um vídeo. Recebi-o de uma amiga muito querida, a Sôzinha – alcunha carinhosa para a Maria do Socorro Fernandes, de Caicó-RN. Gostei tanto que decidi partilhar sem comentários! No etanto, não consegui fazer a transposição do ditop ujo. Não sei sua origem, daí não ser possível localizar sua "url"... Trata-se de um desenhista que vai modificando o desenho de um bebê, em velocidade acelerada, até que a figura se transforma numa senhora bemidosa. É lindo. Tentei imeginar o desenho enquanto leem o poema. aliás, o poema é a letra da música A lista, do Oswaldo Montenegro, de quem, particularmente, não gosto, mas...Aprveito para fazerf uma homenagem póstuma a Antônio Cícero...

Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais

Faça uma lista dos sonhos que tinha
Quantos você desistiu de sonhar!
Quantos amores jurados pra sempre
Quantos você conseguiu preservar

Aonde você ainda se reconhece
Na foto passada ou no espelho de agora?
Hoje é do jeito que achou que seria
Quantos amigos você jogou fora?

Quantos mistérios que você sondava
Quantos você conseguiu entender?
Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?

Quantas mentiras você condenava?
Quantas você teve que cometer?
Quantos defeitos sanados com o tempo
Eram o melhor que havia em você?

Quantas canções que você não cantava
Hoje assovia pra sobreviver?
Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?

Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás
Quantos você ainda vê todo dia
Quantos você já não encontra mais

Quantos segredos que você guardava
Hoje são bobos ninguém quer saber?

Quantas pessoas que você amava
Hoje acredita que amam você?

09.10.24

Poesia

Foureaux

poesia.jfif

A postagem hoje é resultado do famigerado “seleciona-copia-cola”. Muito prático, na maioria das vezes. Dois poemas. O primeiro não conhecia. Soube dele ao ver um filme de Bille August, O pacto (Pagten, no original), de 2021. Nele, um escritor declama este poema em dinamarquês. Procurei o tio google e ele me mandou a tradução do Manuel Bandeira. O segundo poema, já conhecido (e adorado!), é a mais castiça expressão do que sinto (pretensiosamente) sobre mim mesmo. Não tenho os quilates da poeta, mas sinto-me da mesma forma que ela diz se sentir em seu poema. Os tempos. obscuros e rasos, que nos compete viver têm efeito deletério sobre pequenos prazeres, revividos quando da leitura de poemas como estes dois...

 Anelo

Johann Wolfgang von Goethe

(Tradução de Manuel Bandeira)

 Só aos sábios o reveles,

Pois o vulgo zomba logo:
Quero louvar o vivente
Que aspira à morte no fogo.

Na noite - em que te geraram,
Em que geraste - sentiste,
Se calma a luz que alumiava,
Um desconforto bem triste.

Não sofres ficar nas trevas
Onde a sombra se condensa.
E te fascina o desejo
De comunhão mais intensa.

Não te detêm as distâncias,
Ó mariposa! e nas tardes,
Ávida de luz e chama,
Voas para a luz em que ardes.

Morre e transmuda-te: enquanto
Não cumpres esse destino,
És sobre a terra sombria
Qual sombrio peregrino.

 ************************************************************************

 Motivo

 

Cecília Meireles


Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.

 



 

28.09.24

Votos

Foureaux

porco.jfif

Até domingo que vem (e de dois em dois anos, como já é costume... infelizmente) a toada é a mesma. A gente ri de nervoso... penso eu!

CAMPANHA ELEITORAL (MAVIAEL MELO)

Um Senador do Estado

Passou dessa pra melhor

Ou pra outra bem pior

Eu vou relatar o passado:

Chegando o pobre coitado

Na porta do firmamento

São Pedro disse: um momento

Tenha calma, cidadão!

Faça aqui sua opção

E assine o requerimento

 

Pois aqui tem governia

Tudo está no seu lugar

E você vai optar

Onde quer passar o dia

Depois com democracia

Me dará sua resposta

Fazendo a sua proposta

De ir pra o Céu ou pro Inferno

Viver de túnica ou de terno...

Do jeito que você gosta!

 

E então o senador

Assinou a papelada

Descendo por uma escada

Entrou num elevador

E desceu com o assessor

Para o inferno conhecer

Para depois escolher

Onde queria morar

E qual seria o lugar

Que escolheria viver

 

E no inferno ele viu

O campo todo gramado

Verdinho bem arrumado

Como os que tem no Brasil

Um homem grande e gentil

Disse-lhe: eu sou o Cão

Muito prazer meu irmão!

Aqui você é quem manda

E deu ordens pra que a banda

Tocasse outro baião

 

Encaminhou a visita

Para uma mesa repleta

Uma assessoria completa

Num alpendre em palafita

Uma assistente bonita

Cerveja, uísque e salgados.

Dinheiro pros carteados

Charutos bons e cubanos

Foi relembrando dos anos

E dos acordos fechados

 

Encontrou com os amigos

Dos tempos áureos de glórias

Relembrando as histórias

Que já haviam esquecidos

Uísques envelhecidos

Não paravam de chegar

Parecia um marajá

Jogando cartas e fumando

Mas já estava chegando

A hora dele voltar.

 

E então no elevador

Ele tornou a subir

Para então se decidir

E finalmente propor

Mas no céu o senador

Vê um cenário de paz

Com um sereno assaz

Anjinhos tocando lira

São Pedro disse confira

Escolha e não volte atrás

 

Era um silêncio danado

Sem uísque e sem cerveja

No máximo uma cereja

E ele já agoniado

Disse assim ressaqueado

Já tomei minha decisão

Quero ir morar com o Cão

Pois lá me senti melhor

Não que aqui seja pior

É questão de opinião

 

São Pedro disse pois bem

Pode ir pro elevador

Que logo meu assessor

Fará o que lhe convém

O senador disse amém

Já pensando no sucesso

Que seria o seu regresso

Para o quinto do inferno

Lá também seria eterno

E a tudo teria acesso

 

Mas assim que ele desceu

Numa imensa alegria

Sentiu logo uma agonia

Algo estranho percebeu

Atrás desapareceu

A porta do elevador

O pobre do senador

Só via fogo e tortura

Deu-lhe logo uma amargura

Naquele cenário de horror

 

Nisso ia passando o Cão

Deu-lhe uma chibatada

Sorrindo em gargalhada

Remexendo um caldeirão

E empurrou-lhe um ferrão

Deixando a testa ferida

E ele puto da vida

Disse: rapaz sou eu

O senador! se esqueceu?

Cadê aquela acolhida?

 

Eu peguei o bonde errado

Ou o cabra se atrapalhou

E para cá me mandou

Deve ter se enganado

Meu lugar é no gramado

Jogando carta e fumando

Eu não estou lhe cobrando

Foi você que ofereceu!!!!!!!!!!!

E o uísque? se esqueceu?

E devo estar delirando

 

 

E o diabo a sorrir

Disse-lhe: seja bem-vindo

E o que estás me pedindo

Eu não vou poder cumprir

Quando estivestes aqui

Naquela ocasião

Não era outra coisa não

Também não me leve a mal

Foi campanha eleitoral

E eu ganhei a eleição.

 

25.09.24

Homenagem

Foureaux

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O texto que segue, li-o na página de uma amiga que há tempo não encontro, pessoalmente: Rosalilia Torres Delabary. Gostei, tendo ficado, intimamente, gtocado O tempo passa e as lições ficam... Não mexi no texto. Só selecionei, copiei e colei...

UM JOVEM ENCONTRA UM MAIS VELHO E LHE PERGUNTA: 

- Lembras-te de mim? E o velho diz que não. 

Então o jovem diz-lhe que foi seu aluno. E o professor pergunta-lhe: 

- Ah, é? E que trabalho faz agora? 

O jovem responde: - Bem, sou professor. 

- Oh, que lindo como eu? diz-lhe o velho. 

- Bem, sim. Na verdade, tornei-me professora porque o senhor me inspirou a tomar essa decisão. 

O velho, curioso, pede ao jovem que lhe diga porquê. E o jovem conta-lhe esta história: 

- Um dia, um amigo meu, também estudante, chegou à escola com um relógio lindo e novo e eu roubei-o. Pouco depois, o meu amigo apercebeu-se do roubo e reclamou imediatamente com o nosso professor, que era o senhor. Então o senhor fechou a porta e mandou toda a gente levantar-se porque ia revistar os nossos bolsos um por um. Mas, primeiro, disse para nós fecharmos os olhos. Assim fizemos e o senhor procurou bolso a bolso e, quando chegou junto de mim encontrou o relógio no meu bolso e pegou-o. Ainda assim, o senhor Continuou a revistar os bolsos de todos e, ao terminar, disse: - Abram os olhos. Encontrei o relógio!

O senhor nunca me disse nada e nunca mencionou o meu nome no episódio. Nunca disse quem foi que roubou o relógio. Naquele dia, o senhor salvou-me a dignidade para sempre. Foi o dia mais vergonhoso da minha vida. Nunca me disse nada e, embora nunca me tenha repreendido ou chamado para me dar uma lição de moral, percebi claramente a mensagem. E graças ao senhor compreendi que é isso que um verdadeiro educador deve fazer. 

- Lembra-se desse episódio, professor? 

E o professor respondeu: 

- Lembro-me da situação, do relógio roubado, de ter revistado os bolsos de toda a gente na sala, mas não me lembrei de ti, porque enquanto eu vos revistava os bolsos também estava com os olhos fechados. 

Esta é a essência da decência. 

"Se para corrigir precisa de humilhar, então não sabes ensinar."

(Internet)

Para os amantes de literatura, já podem acessar ao nosso grupo de literatura no telegram: https://t.me/sobreliteraturaa

 

22.09.24

Conexão

Foureaux

sonho.jfif

Conheci Maria Amália Baraona por acaso. Entrei no gabinete e lá estava ela, acompanhada de um estudante daquela universidade (estava Em Zagreb, capital da Croácia) ensaiando umas músicas. Cumprimentei os dois e saí: tinha de fazer uma alocução no evento que tinha lugar na Faculdade de Letras, a propósito da visita de uma professora do Piauí. Essa moça brasileira/croata/portuguesa convidou-me dias depois para jantar. Foram horas agradáveis de muita conversa, risada e cerveja. Antes de voltar ao Brasil, assisti a duas apresentações dela. Ela é cantora de bossa nova... e das boas! Li uma postagem em seu blogue hoje cedo (amaliabaraona.com). Ela escreve em inglês. Gostei. Tomei a liberdade de traduzir o que ela escreveu. Coloco aqui para deleite de quem se der ao trabalho de ler esta longa postagem. A propósito disso, junto um trecho de A vida é sonho, de Calderón de la Barca. Senti conexão profunda entre os dois textos. Creio não estar perdendo o juízo...

“Este autorretrato, tirado em Portugal há algumas semanas, realmente reflete meu estado mental recente: múltiplas camadas entrelaçadas resultando em infinitas reflexões recursivas que, no final, levam a uma dor de cabeça persistente, mas nenhuma conclusão (para registro, certifiquei-me de verificar a grafia e “reflexão” com um “x” é uma forma arcaica de “reflexão”). Após refletir, optei por escrever um post que não tem significado para ninguém além de mim, enquanto navego pelo meu estado mental perplexo. Talvez haja alguém que possa se conectar com este tópico e ache-o relacionável. Nunca se sabe...

Estou dentro ou fora?

É importante onde estou para refletir sobre o que quero? Ou são meus desejos que, em última análise, ditam minha localização em um determinado momento? Dois dias atrás, comecei a escrever este post, mas parece que minha mente não está em sincronia com meus pensamentos. Minhas ideias estão dispersas, com palavras e frases se misturando, formando uma bolha circular que me aprisiona completamente. Inesperadamente, ontem à noite, criei uma música. A melodia surgiu primeiro, com a letra logo atrás. Será que algum dia a compartilharei? Talvez... O tempo dirá. Por enquanto, terminarei minha taça de vinho e tentarei desligar meus pensamentos circulares.”

 

É certo; então reprimamos

esta fera condição,

fúria, esta ambição,

pois pode ser que sonhemos;

e o faremos, pois estamos

em mundo tão singular

o viver só é sonhar

a vida ao fim nos imponha

que o homem que vive, sonha

o que é, até despertar.

 

Sonha o rei que é rei e segue

com esse engano mandando

resolvendo e governando.

E os aplausos que recebe

vazios, no vento escreve;

e em cinzas a sua sorte

a morte talha de um corte.

E há quem queira reinar

vendo que há de despertar

no negro sonho da morte?

 

Sonha o rico sua riqueza

que trabalhos lhe oferece,

sonha o pobre que padece

sua miséria e pobreza;

sonha o que o triunfo preza

sonha o que luta e pretende,

sonha o que agrava e ofende

e no mundo, em conclusão,

todos sonham o que são,

no entanto ninguém entende.

 

Eu sonho que estou aqui,

de correntes carregado

e sonhei que em outro estado

mais lisonjeiro me vi.

Que é a vida? Um frenesi.

Que é a vida? Uma ilusão,

uma sombra, uma ficção;

o maior bem é tristonho,

porque toda a vida é sonho

e os sonhos, sonhos são.”

esoelho.jfif

 

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