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As delícias do ócio criativo

As delícias do ócio criativo

09.08.23

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No dia 7 de julho passado, por volta das 16 horas, fiz minha comunicação, encerrando a etapa acadêmica do XIV Encontro Nacional de Ex Libristas, promovido pela Academia Portuguesa de Ex Libris. Tentei fazer uma blague envolvendo a sardinha – um dos ícones culturais de Portugal – associando-a ao bispo devorado pelos caetés, presumivelmente, no século dezesseis aqui no Brasil. Como consequência, faço uma ilação entre o evento de canibalismo e a antropofagia de Oswald de Andrade. Tudo num clima de blague, como é de meu feitio. Devo confessar que fui ludibriado pelo google que me apresentou como de Garcia de Resende uma foto que, de fato, era de Shakespeare.  No entanto, nada disso atrapalhou o clima da comunicação que, ainda uma vez, me deu muito prazer. Segue o texto dela;

Boa tarde. 

Quem me conhece sabe de minha tendência a fazer blague de coisa séria. Aqui não vai ser diferente. Começo saudando a cidade que nos recebe e que tive o prazer de conhecer em 2015, quando de meu pós-doutoramento. Uma visita inolvidável. O nome da cidade é, como vocês bem sabem, proveniente do celta antigo ebora/ebura, caso genitivo plural do vocábulo eburos relacionando-se com a palavra irlandesa “ibhar”, nome de uma espécie de árvore (o teixo), pelo que o seu nome significa “dos teixos”. Segundo José Pedro Machado (Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa), o teixo é uma árvore totêmica que servia para envenenar setas. Assim é que, de volta, faço alusão à importância da cidade como local que viu nascer Garcia de Resende, em 1470, e Dom Pero Fernandes Sardinha, em 1496. Do primeiro vale lembrar a numerosa produção poética, notadamente o Cancioneiro. Dele, cito rapidamente duas estrofes de suas trovas, notadamente as que tratam de outro mito português, Inês de Castro: 

 

Lembre-vos o grand’amor 

que me vosso filho tem, 

e que sentirá gram dor 

morrer-lhe tal servidor, 

por lhe querer grande bem. 

Que s’algum erro fizera, 

fora bem que padecera 

e qu’este filhos ficaram 

órfãos tristes e buscaram 

quem deles paixão houvera; 

 

Mas, pois eu nunca errei 

e sempre mereci mais, 

deveis, poderoso rei, 

nam quebrantar vossa lei, 

que, se moiro, quebrantais. 

Usai mais de piadade 

que de rigor nem vontade, 

havei dó, senhor, de mim 

nam me deis tam triste fim, 

pois que nunca fiz maldade. 

 

Sobre Dom Pero Fernandes Sardinha, como se sabe, foi o primeiro bispo do Brasil, tendo chegado a Salvador em 1551, vindo de Portugal. Sua trajetória ficou marcada na história do Brasil por ter sido, segundo relatos controversos, devorado por índios caetés, em um ritual de canibalismo, no litoral do nordeste brasileiro, em 1556. O canibalismo era a prática realizada por algumas tribos indígenas na então terra de Santa Cruz. Este é o epicentro de minha alocução com sabor de blague. O nome remete a uma imagem que poder-se-ia chamar de mítica. Um peixe, a sardinha. Diferentemente de seu homônimo, o bispo passou à história como um religioso beligerante, que se deu mal na missão espiritual que lhe caberia desenvolver na América Portuguesa. Dele têm sido feitas muitas análises rigorosas, especialmente voltadas para as discórdias que o separaram do segundo governador, D. Duarte da Costa, e demais pessoas que viviam na Colônia. Tudo indica que o bispo era um homem de temperamento irascível, pouco dado às amizades e vivia em constante discórdia com os religiosos. Fez muitos inimigos no Brasil. Deve ter causado indigestão nos índios caetés. Sobre Évora e o bispo encerro com o único ex-libris que minha incapacidade encontrou, o de D. Diogo de Bragança (Marquês de Marialva) e de Alexandre Corrêa de Lemos, fixado no volume intitulado História das antiguidades de Évora, de 1739, em que se relata o que aconteceu nesta cidade até ser tomada aos Mouros por Giraldo, no tempo Del-Rey Dom Affonso Henriquez e o mais que daí por diante aconteceu até o tempo presente. O peixe, alimento mais que apreciado, tem seu nome associado à História por conta de um bispo que foi comido como ela, diz a lenda... Atravessando o Atlântico, tento dar conta de estabelecer o fio condutor de minha proposta blague, trazendo à baila um poeta brasileiro, Oswald de Andrade, que, fazendo também uma blague – mais séria do que a minha, por óbvio – retoma o mito do canibalismo quando, num manifesto de nome “Antropófago”, faz proposições visando a brasilização modernista do/no Brasil, bem no início do século 20. Diz ele no início de seu manifesto: “Só a ANTROPOFAGIA nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.” E ao final, arremata: 

 

“Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud – a realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias do matriarcado23 de Pindorama.”

Manifesto antropófago 

Oswald de Andrade 

Em Piratininga24 

Ano 374 da Deglutição do Bispo Sardinha 

 

O manifesto foi publicado na Revista de Antropofagia, Ano I, No. I, em maio de 1928. Oswald busca uma marcação temporal para a existência brasileira que, no Manifesto, começa com o primeiro ato antropófago conhecido oficialmente; o Bispo Sardinha, isto é, Pero Fernandes, que naufragou no litoral do nordeste brasileiro e morreu como vítima sacrificial dos índios caetés. Oswald equivocou-se nas datas, acrescentando 2 anos ao tempo decorrido entre a morte do Bispo Sardinha e o ano de publicação do Manifesto Antropófago. Entretanto, o poeta parece desconhecer as cartas de Américo Vespúcio, em uma das quais o aventureiro florentino afirma ter assistido um ritual antropofágico em 1501, na Praia dos Marcos, no Rio Grande do Norte, em que a vítima era um europeu. Está concluída a blague. Começando a viagem ainda no século 15, chegamos ao 21, sem muitos ex-libris sobre o tema, pelo que peço desculpas. Ainda assim, a ideia da antropofagia, cara ao poeta brasileiro, respaldada pela História do bispo e animada por uma espécie de fetiche gastronômico lusitano, parece-me, consolida-se com sentido. Fica, assim, a intenção satisfeita de um diletante que insiste em ler os papelinhos como textos autônomos, possuidores de sentido histórico, estético, iconográfico e discursivo. 

Muito obrigado!

12.06.23

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Dizem que hoje é Dia dos Namorados. Mundo afora comemora-se esse dia em 14 de fevereiro, dia de São Valentim. Vai sabe o porquê da diferença. De qualquer jeito, li o que segue abaixo numa publicação de Elaine dos Santos, amiga querida, ex-aluna admirada e respeitada. Gostei tanto da verve irônica que resolvi compartilhar. Pode já ser conhecido... Não há problema nisso, é mais uma postagem que faço... ah... desconheço a autoria...

Esclarecendo alguns equívocos

O amor não ilumina o seu caminho. O nome disso é poste.
O amor não é aquilo que supera barreiras. O nome disso é gol de falta.
O amor não traça o seu destino. O nome disso é GPS.
O amor não te dá forças para superar os obstáculos. O nome disso é tração nas quatro rodas.
O amor não mostra o que realmente existe dentro de você. O nome disso é endoscopia.

O amor não atrai os opostos. O nome disso é imã.
O amor não é aquilo que te deixa sem fôlego. O nome disso é asma.
O amor não é aquilo que te faz perder o foco. O nome disso é miopia.
O amor não é aquilo que te deixa maluco, te fazendo provar várias posições na cama. Isso é insônia. (PQP!)
O amor não faz os feios ficarem pessoas maravilhosas. O nome disso é dinheiro.
O amor não é o que o homem faz na cama e leva a mulher à loucura. O nome disso é esquecer a toalha molhada. (PQP)
O amor não faz a gente enlouquecer, não faz a gente dizer coisas pra depois se arrepender. O nome disso é vodka.
O amor não faz você passar horas conversando no telefone. O nome disso é promoção da Tim, Oi, Vivo ou Claro.
O amor não te dá água na boca. O nome disso é bebedouro.
Amor não é aquilo que, quando chega, você reza para que nunca tenha fim.
Isso é férias. O amor não é aquilo que entra na sua vida e muda tudo de lugar.
O nome disso é empregada nova.
O amor não é aquilo que gruda em você, mas quando vai embora arranca lágrimas. O nome disso é cera quente.

28.02.23

Lugar comum: o Brasil é um país de dimensões continentais. Outro lugar comum: a di-versidade cultural do Brasil é riquíssima. Esta, por sua vez, pode ser percebida através da linguagem regional que, utilizando a mesma Língua Pátria, o Português, ainda que falado de maneira um tanto peculiar em relação às de mais regiões falantes da mesma língua mundo afora, é um rico manancial de exemplos da referida diversidade. Senão, vejamos:

No Acre: “Arre diacho” é expressão de espanto, “Arrodear” é dar a volta; “Espocar”, estou-rar); “Xiringar” é espalhar, “Cutex” é esmalte, “Extrato” é perfume, “Ruma” é amontoado e “Baldear” é jogar água do balde.

Em Alagoas: “Eita gota” é uma expressão de espanto, “Lomba” significa engraçado, “Pei-dado” é revoltado, “Azogado” é ansioso, “Avalie” significa veja só, “Cacete” é surra, “Caba de pêia” é safado e “Biboca é um lugar distante.

No Amazonas: Telezé é a abreviação “Tu é leso, é?”, pessoa sem juízo; “Pegar o beco” é ir embora, “Te arreda” significa afastar, “De rocha” é o mesmo que de verdade, “Égua” não é a fêmea do cavalo mas uma expressão de espanto e admiração, “Dana de rato” é enrola-ção, “Ê Caroço” significa salvo por pouco e “No olho” significa resposta certeira.

Já na Bahia: “Ôxe ou oxente” é interjeição equivalente a “Ô”, “Comer água” é o mesmo que beber, “Se pique” é como dizer “saia daqui”, “Crocodilagem” é o ato de enganar, “Barril dobrado” significa tenso; “Casa da porra”, longe; “Migué” é mentira, “Ó Paí” equi-vale a olha isso, “Parta a mil” é como dizer para sair rápido, “Ficar de cocó” é segredo e “Dar um zig é enganar.

No Ceará: “Arre Égua” se usda para exprimir espanto, “Acunhar” é chegar junto, “Baixa da égua”é um lugar distante, “Bregueço” significa antiquado, “Canelau equivale a ignoran-te, “Ceroto” é sujeira, “Magote” é uma aglomeração de pessoas, “Chei dos pau” é o mes-mo que bêbado e “Gastura” é azia.

No Distrito Federal: “Véi” é alguém, “Pagar vexa” equivale a passar vergonha, “Pala” é algo ruim, “Lombra” significa devaneio, “Esparrado” ‘e o mesmo que ótimo, “Bau” é ônibus, “Cabuloso” significa exagerado e “Morgando” é o que se diz quando se está sem fazer na-da).

No Espírito Santo: “Massa” é algo legal, “Chapoca” é usado para identificar algo maior que o normal, “Véi” é como se chama alguém, “Cacunda” equivale a “nos ombros”, “Palha” é alguma coisa ruim, chata, “Champinha” é tampinha, “Pão de sal” é o famoso pão francês e “Pocar” equivale a estourar, no sentido de “muito bom”.

Em Goiás: “Rensga” é expressão de espanto, “Carcá” equivale a colocar, “Bão demais da conta” é algo ótimo, “Anêim” é expressão que significa “Ah, não...”, “Paia” é um sujeito chato, “Mocorongo” é bobo, “Ridico” é o sujeito egoísta, “Tem base?” equivale a “pode ser?” e “Trupicar” é o mesmo que tropeça).

No Maranhão: “Éguas” é o que se diz quando a gente se espanta, “Esparroso” é o mesmo que exagerado, “Aziado” equivale a sem ânimo, “Só quer ser” é expressão que identifica uma pessoa metida, “Dá teus pulos” é o mesmo que “Se vira”, “Invocado” é um sujeito zangado, “Remoso” é o mesmo que perigoso, “Té doido” é igual a “tá doido” e “Perainda” significa o mesmo que “Espera!".

No Mato Grosso: “Agora quando?” expressa dúvida, “Atarracado” é o mesmo que abraça-do, “Bocó de fivela” é um sujeito ignorante, “Arroz-de-festa” é aquele que não perde festa, “Corre duro” é o mesmo que “anda rápido!”, “Cêpo” é sinônimo de ótimo, “Catcho” é namoro, “Leva-e-traz” é o sujeito fofoqueiro e “Moage” significa frescur).

No Mato Grosso do Sul: “Alas” é legal, “Pior” se usa quando se concorda com algo/ al-guém, “Manjar” equivale a entender, “Jow” é amigo, “Barca” é sinônimo de carro, “Ba-guiu” é coisa, “Morgar” significa ter preguiça, “Dar um pião” significa sair e “Goma ou Gruta” é o mesmo que cas).

Em Minas Gerais: “Uai” é a famosa e peculiar interjeição com vários sentidos, “Sô” é forma corriqueira de senhor, “Arredar” significa mexer, “Trem” é o mesmo que coisa, “Cata-jeca” é o ônibus do/no interior do Estado, “Fragar” significa entender, “Zé dend’água” é o sujeito bobo, “Bololô” é o mesmo que confusão, “Bicudo” equivale a (bêbado) e “Pica a mula” é o esmo que cai fora.

No Pará: “Égua” é uma interjeição para exprimir espanto, “De rocha” é algo/alguém sé-rio, “Não, é pão” equivale a claro que sim, “Nem com nojo” é o mesmo que de jeito ne-nhum, “Bazuca” é chiclete, “Carapanã” é um mosquito, “Rapidola” é sinônimo de rápidoe “Filho de pipira” é alguém que sempre pede coisas.

Na Paraíba: “Oxente” é interjeição que exprime admiração, “Abibolado” se usa para al-guém sem juízo, “Arribar” significa sair, “Encarcar” é fazer pressão, “Miolo de pote” é uma coisa sem importância, “Chapéu de touro” é alguém que se relaciona com pessoa infiel e “Avoar” é o mesmo que jogar fora.

No Paraná: “Piá” é como se chama o menino, “Pila” é moeda, “Posar” é dormir na casa de alguém, “Cozido” significa bêbado, “Penal” e um estojo para lápis, “Apurado” é quem está com pressa, “Ligeirinho” é como se chama o ônibus por lá, “Pani” é padaria e “Piá de prédio” é um menino ingênuo.

Em Pernambuco: “Visse” tem o mesmo sigbnificado que a interjeiçõ “certo”, “Buliçoso” é alguém que mexe em tudo, “Emburacar” significa entrar em licença, “Boysinha” é a ma-nera carinhosa de se chamar a namorada, “Pantim” é uma dificuldade, “De rosca” signifi-ca difícil, “Arretado” é um sujeito bravo, “Zuada” é como se idêntica um barulho, “Taba-cudo” é um sujeito bobo e “Queijudo” é uma pessoa cheia de frescura.

No Piauí: “Pense” ou “Abestado” é um otário, “Botar catinga” significa atrapalhar, “Bude-jar” é o mesmo que falar muito, “Mangar” é rir de alguém, “Triscar” significa encostar, “Espancar a lôra” é um convite para beber cerveja, “Moiado” é feio e “Caxaprego” é um lugar distante.

No Rio de Janeiro: “Já é” expressa concordância, “Meter o pé” é o mesmo que sair, “Va-leu” tem o mesmo valor de um agradecimento, “Mermão” é igual a meu irmão, “Bolado” significa chateado, “Caô” é uma mentira, “Parada” significa qualquer coisa, “Tá ligado?” tem o mesmo sentido de “presta atenção”, “Maneiro” é sinônimo de legal e “Trocar uma ideia” significa conversar.

No Rio Grande do Norte: “Eita píula” é uma interjeição de surpresa, “Galado” é o mesmo que engraçado, “Balaio de gato” é sinônimo de bagunça, “Bagana”, a ponta de cigarro, “Bexiga taboca” é alguém com muita raiva e “Gangueiro” significa de gangue ou com cal-ças largas.

No Rio Grande do Sul: “Bah” é interjeição que expressa admiração, “Tchê” é uma sauda-ção, “Arrecém” equivale a há pouco, “Atucanado” é um sujeito preocupado, “Bucha” é si-nônimo de difícil, “Guri/guria é o mesmo que menino/menina, “Peleia” é uma boa briga, “Talagaço” significa “de uma vez só e “Trova” é o mesmo que mentira.

Em Roraima: “Tédoidé” é uma expressão de admiração, “Curumim” significa menino, “Maceta” é o mesmo que grande, forte, “Brocado” é alguém que está com fome, “Piseiro” é um lugar com festa ao ar livre, “Cotião” é um homem solteiro”, “Bota pra cima” tem o mesmo significado que “desafia” e “Bisonho” é aquele sujeito sem noçã).

Em Rondônia: “Marrapaz” é uma expressão que denota surpresa, admiração, “Meu ovo” expressa discordância, “Leseira” é o mesmo que preguiça, desatenção, “Lazarento” é um sujeito infeliz, “H”, o nome da letra, quando falado significa papo furado, “Cair na bura-queira” é o mesmo que cair na gandaia e “Casão” é como é conhecido o presídio.

Em Santa Catarina: “Tash tolo?” é o mesmo que Tá louco?, “Manezinho” é o morador da Ilha de Florianópolis, “Lagartear” significa passear, “Jererê” é a rede de pesca, “Calhau” é uma coisa grande, “Botar tento” significa prestar atenção, “Matar a pau” é acertar em cheio, “Em 2 toques” é aquilo que é/vai ser rápido e “Ajojado” é um sujeito quieto.

Em São Paulo: “Mano ou Meu” é o modo corriqueiro de chamar um homem ou uma mu-lher, “Bang” é coisa, “Camelar” é o mesmo que andar a pé, “Dar um pião” é a mesma coisa que dar uma volta, “Da Hora” significa legal, “Dois Palitos” tem o mesmo significado que rápido, “Na faixa” é alguma coisa “de graça”, “Rolê” é uma festa, “Bater uma laras” signifi-ca comer, “Bugado” é a;guém que está perdido, sem entender e “B.O.” é o mesmo que problema.

Em Sergipe: “Vôti” é uma interjeição que expressa surpresa, “Pungar” é entrar em veículo em movimento”, “Pentcha” é uma expressão de admiração, “A migué” é ficar à toa, ao acaso, “Quem gaba o sapo é jia” é uma espécie de elogio a alguém próximo e “Fumbam-bento” significa desbotado.

22.09.22

Palavras são “seres” interessantíssimos. Parecem, às vezes, ter vida própria. Seus significados seduzem e confundem. Seu sentido pode mudar conforme a inflexão da voz ou o contexto em que aparecem. Um mundo praticamente mágico que muitos têm a ousadia de afirmar que conseguem dominar. Ledo engano! Um amigo colocou em sua página do facebook observações sobre duas palavras: enfezado e gari. Na onda de preguiça que está citando a passar por aqui, deixo os comentários para o vosso deleite (imitando expressão alfacinha!)

Como surgiu a palavra “ENFEZADO”. Um pouco de História: a cidade do Rio de Janeiro, como conhecemos hoje, é fruto de um processo de modificação que foi acontecendo ao logo do tempo. No século XIX, ela estava bem longe de ser chamada de cidade maravilhosa. Pessoas brutas, ruas esburacadas, sujas e esgoto faziam naturalmente parte do cenário da pequena cidade do Rio de Janeiro. No século XIX, quem sofria bastante com esse cenário eram os “Tigres”. Muita gente atravessava a rua quando cruzava com um deles. Muitos podem se assustar ao ouvir isso hoje em dia, mas naquela época isso tudo fazia parte do cotidiano. Os tigres não eram animais, eram africanos escravizados que faziam o serviço doméstico. Um dos trabalhos dos tigres era jogar os dejetos dos seus senhores na Baia de Guanabara e nas Lagoas. Existiam pontes de madeira exclusiva para isso. De tardinha, os escravos saiam para jogar os dejetos com uma tina na cabeça cheia de fezes. Às vezes, o conteúdo vazava e as fezes escorriam pelos seus corpos, nas peles que ficavam manchadas. Quando isso acontecia eles eram chamados de “tigres” devido às manchas. Algo bem pior acontecia com frequência, as tinas estouravam, o escravo ficava furioso, e muitos diziam: “O escravo está enfezado”. Enfezado, isto é, cheio de fezes... (Texto: Marcelo S. Souza &

Imagem: Revista A Semana Ilustrada).

A origem do termo “gari”. No Brasil, as ações iniciais de limpeza das vias públicas aparecem na época do governo imperial. No ano de 1830, uma lei da capital federal estipulava que houvesse o “desempachamento” das ruas da cidade. No caso, além de retirar o lixo, a lei de natureza “higiênica” determinava que as mesmas ruas fossem livradas dos mendigos, loucos, desempregados e outros animais ferozes. Uma das primeiras ações organizadas para o serviço de recolhimento do lixo urbano apareceu no Brasil quando o governo imperial contratou o francês Aleixo Gary para transportar o lixo produzido no Rio de Janeiro para a ilha de Sapucaia. O sobrenome do contratado acabou sendo utilizado para a designação feita a todos os funcionários que realizam a coleta de lixo nas cidades. (Texto: Rainer Gonçalves Sousa, postado originalmente em O Rio de Janeiro que não vivi /facebook)

11.05.22

A maré de preguiça e falta de graça, somada à de vontade, tem feito buracos enormes em minhas publicações. Não me importo. Leio tanta bobagem. Escuto tanta asneira. Vejo tanta coisa horrorosa e sem graça que nem sei. Agorinha, repassando algumas coisas no facebook – coisa de ente à toa – deparei-me com uma publicação de um amigo querido, o Joel, lá do Pará (ainda volto a Belém!). Há uma imagem na postagem dele que não vai aqui reproduzida. O inusitado da informação despertou um lampejo de ânimo para fazer esta publicação...

Por que na Ásia o nome de vários países termina em “-istão”? Porque nas línguas mais faladas nessa região do mundo, como o hindi, o persa e o quirguiz, “-istão” quer dizer “lugar de morada” de um determinado povo ou etnia. De acordo com esse princípio, Cazaquistão, por exemplo, significa “território dos cazaques”; Quirguistão, “território dos quirguizes”; Afeganistão, “território dos afegãos” e assim por diante. É algo equivalente a adicionar os sufixos “-lândia” (que vem de land, “terra”, nas línguas germânicas) ou “-polis” (“cidade”, em grego) ao final de nomes. Petrópolis é a cidade de Pedro, Teresópolis, a de Teresa. Suazilândia é a terra dos suázis – mas, recentemente, o país mudou de nome para Essuatíni que significa justamente “terra dos suázis” na língua local. “A forma “-stão” deriva de uma antiga raiz linguística indo-europeia. Esse sufixo carregava a ideia de ‘parar’ ou ‘permanecer’ e deu origem, por exemplo, aos verbos stare, em latim, e stand, em inglês”, diz o linguista Mário Ferreira, da Universidade de São Paulo (USP). Do stare latino, inclusive, vem o verbo “estar” em português. Ou seja: pensando na raiz etimológica da coisa, você pode traduzir os nomes desses países, ao pé da letra, como “onde estão os afegãos”, “onde estão os cazaques” e assim por diante. A única exceção a essa regra é o caso do Paquistão batizado cerca de 20 anos antes de o território do país ser constituído, em 1947. “Rahmat Ali, o idealizador da independência paquistanesa, juntou ao termo “-istão” o vocábulo “paki”, surgido a partir de uma combinação das iniciais das áreas reivindicadas pela futura nação. O “p” representava a província do Punjab, enquanto o “k” equivalia à região da Caxemira, no noroeste da Índia, afirma Mário.

Note que os nomes de países islâmicos localizados no Oriente Médio e no norte da África não carregam o sufixo “istão”. Ali, a língua predominante é o árabe, que não possui raízes indo-europeias – ele pertence a outro tronco, o semítico, compartilhado com o hebraico e o aramaico.

Fonte: @revistasuper

Quer uma dica de livro? Entra aqui ó:

https://youtu.be/cAYg-sFTFU0

 

24.01.22

Os três escritores ainda figuram em minha lista particular de preferências. Conheci pessoalmente os três. Com um deles, ainda mantenho certo contato, ainda que muito esporádico, depois que o visitei em sua residência. Os outros dois, conhecidos em país estrangeiro – meu e deles – são apenas autores de predileção. Não tenho contato. Li muitas obras dos três. Gostaria de ter lido tudo que os três escreveram, mas, como todo mundo sabe, livros portugueses custam uma fortuna nos estados unidos de bruzundanga. Além disso, estou naquela fase de não mais acumular volumes em estantes que só retroalimentam a cadeia alimentar dos fungos, ácaros e insetos, sob a pele diáfana da poeira que o tempo deixa como rastro. Ele passa. Os livros ficam. José Luis Peixoto foi o primeiro que conheci, em Zagreb, como João Tordo, na mesma cidade. Graças às atividades propostas pela Leitora de Português do Instituto Camões, a Sofia Soares, conheci-os. Escutei deles uma conferência. Conversei com eles. Foi muito bom. As três vidas (Quidnovi), lançado em Setembro de 2008 – meses depois de minha chegada a Zagreb – ganhou o Prémio José Saramago no ano seguinte. Gostei muito. Depois dele, foi a vez de ouvir José Luis Peixoto declamar um seu poema, lindo, que faz parte de um dos livros mais impressionantes que já tinha lido até então: Morreste-me, sua primeira obra publicada. Sua figura era completamente antagônica se considerada em comparação com sua escrita, mas isso é chatice minha. Dele, a primeira leitura foi: Nenhum olhar, seu segundo livro de ficção. Eu não sabia, mas minhas visitas à “terrinha”, anos depois, só confirmaram a impressão tocante do Ribatejo que li e depois conheci. Uma fulgurante e melancólica beleza. Anos depois, já em 2014, por conta do pós-doutoramento em Coimbra, vim a conhecer o terceiro, Mario Claudio. Fiz-lhe uma visita e uma entrevista – muito esclarecedora para a pesquisa que então desenvolvia – em sua residência, perto da parada chamada Francos, nos arredores do Porto. Dele, considerando o conjunto de obra, li muito pouco. Mas impressionou-me sobretudo o último: Embora eu fosse um velho errante. Livro impressionante por conta de uma espécie de síntese (se é que isso é possível) que o autor faz de seu próprio modus operandi. O livro é um exercício de criatividade insuperável. Acompanhando o raciocínio da postagem anterior, a primeira de uma série de três, esta aqui enfoca apenas a apresentação mais que genérica, superficial, dos autores que me interessam para a postagem final. Lá, se a preguiça assim o permitir, pretendo discorrer m pouco sobre a leitura que fiz das três últimas obras publicadas por José Luis Peixoto. João Tordo e Mario Claudio. Os três, na verdade, têm um ponto em comum: são portugueses. Quanto à obra de cada um, ah... há controvérsias. E é bom que haja mesmo. A unanimidade, como já dizia Nelson Rodrigues, é mesmo burra. Seus estilos são muito peculiares e abissalmente diferentes. O modo de encarar a Literatura, a mim me parece – como leitor – é outra abissal distância que se impões entre os três. Isso só reafirma a “qualidade” (n`á gosto desta palavra!) dos três: incontestável. Não especulei sobre as plausíveis “influências” em cada caso – isso seria pertinente se eu ainda lecionasse. Como desfruto do ócio criativo permanente, já não me faz falta satisfazer tal especulação. No entanto, a leitura de seus livros me leva a crer que, como todo o resto da população de escritores do planeta, também os três têm lá suas preferências de leitura e, por via de consequência suas influências sintomatizadas. A personalidade também é outro vetor a diferenciar os três, mas isso já não consegue ultrapassar a larga margem da obviedade. Como só conheci mais proximamente o mais velho dos três, Mario Claudio, não posso dizer nada acerca da pessoa dos outros dois. É assim mesmo. Quisera ter todos os livros dos três. Quisera poder ler todos os livros dos três. Quisera ter ânimo para escrever um ensaio sobre cada um deles e publicá-los, individualmente como livros. Melhor ainda, nessa série de “quisera”... seria ser lido. Mas aí já é pedir demais ao destino. Aguardem a terceira e última etapa.

29.11.21

Tenho um amigo em Lisboa, O José Colaço. Faz ex-libris muito bonitos. Um sujeito muito simpático. Mandou-me mensagem com expressões correntes em Portugal. Tem sua graça. Partilho aqui. É divertido e aprende-se um pouco mais acerca dessa cultura nossa matriz. 

Bandeira.jpeg— Um português não tem um problema, na realidade ele está “feito ao bife”.
— Um português não lhe diz para deixá-lo em paz, diz-lhe “vai chatear o Camões”.
— Um português não lhe diz que é sexy, diz-lhe “é boa como o milho”.
— Um português não repete o que diz, ele “vira o disco e toca o mesmo”.
— Um português nunca se chateia, apenas “fica com os azeites”.
— Um português não tem muita experiência, ele tem “muitos anos a virar frangos”.
— Um português não se livra de problemas, ele “sacode a água do capote”.
— Um português não está numa situação desesperante, ele está com “água pela barba”.
— Um português não se irrita, ele “vai aos arames”.
— Um português que muda de ideias facilmente é um “troca-tintas”.
— Um português não é descarado, ele “tem lata”.
— Um português não se recusa a dar informação, ele “fecha-se em copas”.
— Um português não morre, ele “estica o pernil”.
— Um português não se faz de surdo, ele “faz orelhas moucas”.
— Um português não diz que está tudo suspenso por tempo indeterminado, ele diz que “ficou tudo em águas de bacalhau”.
— Um português não diz “É indiferente para mim”, ele diz “Não me aquece nem me arrefece”.
— Um português não passou por situações difíceis, ele “passou as passas do Algarve”.

Língua.jpeg

 

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