No Houaiss, encontramos algumas acepções para o verbete “amizade”, dentre elas: substantivo feminino; sentimento de grande afeição, simpatia, apreço entre pessoas ou entidades; derivação, por metonímia, quem é amigo, companheiro, camarada; concordância de sentimentos ou posição a respeito de algum fato; acordo, pacto, aliança; apego de alguns animais ao homem. Em uso informal, atitude de benevolência, dentre outros. Isso me veio à mente quando li o trecho que segue, retirado de um livro interessante que acabei de ler: Amor, amizade, sexo & felicidade, de autoria do médico Alessandro Loiola. Não sei se ele tem mesmo um título de doutor (com tese defendia!), por isso não coloco o “Dr.” ‘à frente de seu nome! De qualquer maneira, no livro referido, há uma passagem sobre amizade que me chamou a tenção positivamente. Compartilho com quem se interessar. Se não gostarem, não posso fazer bada. Eu gostei! Segue o trecho:
“Se a razão é sempre escrava de Eros, como afirmou Hume, e a amizade é uma forma de paixão, pode acontecer de os caminhos da amizade passarem longe da sensatez: ao contrário do casamento e das relações de trabalho, que são moldados a partir de normas sociais e possuem papéis definidos, a amizade não tem um “contrato” ou instruções predeterminadas para vicejar. Criamos nossas amizades a partir de quem somos, de nossos autointeresses e necessidades mais íntimas, sem que um molde universal possa ser aplicado a esta dinâmica. Assim, na mesma medida em que uma amizade representa uma ferramenta de crescimento e fortalecimento, ela pode tornar-se igualmente autodestrutiva. Como me;ncionado, um amigo torna-se um espelho, e os julgamentos oriundos da amizade influenciam nossas ideias e atitudes. Um comportamento reforçado positivamente por alguém a quem consideramos um amigo tende a ser intensificado ou repetido; um comportamento considerado condenável tende a ser suprimido. Se este jogo de tensões for desfavorável, os desdobramentos podem ser terríveis. Um exemplo de como as coisas podem dar muito errado atende pelo nome de Folie à Deux.
Também conhecida como “insanidade comunicada”, “insanidade contagiosa”, “delírio de infestação parasitária”, “insanidade de transferência”, “psicose de associação”, “loucura dupla'', “transtorno delirante induzido” e “transtorno psicótico compartilhado”, a Folie comumente· envolve duas pessoas, mas pode se espalhar para muitas outras – os casos de alucinação coletiva seriam um bom protótipo disso, como retratado no filme A Vila (2004), assim como demonstrações extremas de religiosidade e rituais de suicídio em massa como os ocorridos na Guiana (909 mortos no culto Pef Ple 's Temple em 1978), no Japão (7 mortos na Igreja Amiga da Verdade em 1986), no Canadá (48 mortos na Ordem do Templo Solar em 1994), na Califórnia (39 mortos no culto Heaven 's Gate em 1999), e em Uganda (778 mortos no Movimento da Restauração dos Dez Mandamentos de Deus em 2000).” (p. 86-87).