Setembro 19, 2022
Foureaux
Tenho uma amiga muito querida. O nome dela é Glória. Fomos colegas de trabalho durante uns bons anos. Hoje somos amigos e, ouso dizer, confidentes. Ela passa atualmente por momentos muito difíceis, digladiando com a maldade de uma filha que há mais de uma década impede que conheça sua neta Emma. Glória não conhece a Emma. A avó foi obrigada a perder a convivência com a neta em seus primeiros netos. A neta, durante todo esse tempo foi bombardeada com informações equivocadas, maldosas e mentirosas da mãe. A situação é dificílima. Para completar o "quadro da dor"(Adoro esta expressão que aprendi com uma outra amiga gaúcha!), a juíza responsável pelo processo fica postergando a decisão final, a obrigatoriedade de cumprimento da sentença que ela mesma exarou e... Bem, resolvi colocar aqui o texto que minha amiga Glória escreveu para um grupo de "avós alienados". É triste: ela não é a única. Segue o texto:
“EM DEFESA DOS AVÓS IMPEDIDOS DE CONVIVER COM SEUS NETOS
Glória M. G. de Mello
Desejo me manifestar em meu nome e em nome de um imenso número de avós impedidos de conviver com seus netos. Os filhos dos nossos filhos são a continuação de nossas famílias e reacendem os sentimentos despertados pela maternidade e pela paternidade. Criam uma nova forma de amor: mais forte, mais intensa, mais profunda.
Quando nossos filhos e/ou seus cônjuges – na maioria, ex-cônjunges – impedem que nossos netos convivam conosco para nos causar sofrimento, por saberem do imenso amor que lhes dedicamos, é criado um círculo vicioso que também atinge, de maneira brutal, as crianças. Elas não compreendem por que não podem receber o carinho e usufruir da companhia dos avós. A lacuna assim criada deixa marcas por toda a vida.
São muitas as formas de alienação de avós, porém a mais utilizada e danosa é a teia de mentiras e acusações envolvendo-os. Na falta de um motivo real, além da própria torpeza, para afastá-los dos netos, os alienadores recorrem à criação de falsas memórias nas crianças, incapazes de saber se os fatos ocorreram, por causa da pouca idade. Assim, passam a rejeitar os avós. Como se isso não bastasse, são feitas falsas denúncias de abusos e maus-tratos, além da invenção de atitudes desabonadoras, sem a apresentação de qualquer prova.
Além do sentimento de rejeição e humilhação, surge em nós a revolta. Somos injustamente acusados e nos cabe provar nossa inocência: somos culpados até prova em contrário. Ao buscarmos o apoio da Justiça para que seja garantido nosso direito à convivência com nossos netos, um direito que também é destes, encontramos desconfiança, pré-julgamento de nosso caráter, ataques de quem deveria nos defender, vemos os processos se arrastarem durante anos fazendo-nos perder a infância de nossos netos. Ninguém poderá nos devolver esses anos ou reparar essa perda.
Em geral na terceira idade, nós, avós alienados, já lutamos para educar nossos filhos e esperamos a recompensa da alegria que brota do convívio com nossos netos. Porém, passamos a acumular frustrações e a receber insultos que nos levam à depressão e a todos os danos que ela causa ao nosso bem-estar físico e mental.
Ao sermos falsamente acusados e nos sentirmos desprotegidos em idade avançada, vem-nos à mente a imagem de Prometeu, acorrentado a um rochedo, com uma águia a lhe devorar o fígado. Como Prometeu é imortal, como o amor dos avós, seu fígado se recompõe durante a noite e sua tortura não tem fim. Somente Hércules o salva.
Procuramos, na justa aplicação das Leis, o nosso Hércules.”