Dezembro 19, 2023
Foureaux
É Natal. Um tempo, querendo ou não, em que se sente algo diferente. Em outras quadras, neste tempo, na semana seguinte ao primeiro domingo do advento, era chagada a hora de reunir-se na casa das tias Julia e Lilia, irmãs do vovô Pedro. Recava-se o terço enquanto se ia montando o presépio. Ficava na sala, ao lado da porta, na minúscula casa em que as duas morava. Minúscula para quem lá voltou depois de adulto. Quando na infância, a casa era uma fantasia. Montava-se o presépio, depois a comida, a bebida, a cantoria, as brincadeiras de roda com tia Lilia no quinta. No dia de Reis, o processo era o contrário. Rezava-se o teço enquanto se desmontava o presépio. E dá-lhe comer, beber, cantar. Uma festa. Foram anos assim, na repetição fervorosa, casta e simples, sincera, de uma família que celebrava o Natal, comme il faut. Assim sendo, fico pensando como é que alguém pode pensar em “adequar” o Natal aos parâmetros de uma “ordem do dia” em tudo e por tudo, estapafúrdia, muitas das vezes. Penso nisso depois de ter lido o texto que segue:
“Apresento-vos o novo presépio de Natal! Mais inclusivo e laico. Já não contém animais para evitar maus tratos. Já não contém Maria, porque as feministas acham que a imagem da mulher não pode ser explorada. A do carpinteiro José, tão pouco, porque o sindicato não autoriza. O Menino Jesus, foi retirado, porque ainda não escolheu o género, se vai ser menino, menina, ou outro. Já não contém Reis Magos, porque podem ser migrantes e um deles é negro (discriminação racial, xenófoba). Também já não contém um anjo, para não ofender os ateus, muçulmanos e outras crenças religiosas. Por último, suprimimos a palha, por causa do risco de incêndios e por não corresponder à norma Europeia NE070. Ficou só a cabana, feita de madeira reciclada de florestas que respeitam as Normas Ambientais ISO 1052/23”.
O texto não é de minha autoria, por óbvio. Recebi de um amigo outro dia. Fiquei estupefato. Não ri. Sei que sou um chato...