24.03.22
Segue a primeira versão de um poema (comentários e palpites continuam a ser esperados).
Sem sentido
Uma tarde que passa
como as demais que também passam
repetindo a mesma ritmada canção muda,
a que embala quimeras e decepções
num paul inquieto de ilusões e temores
de gente que vive a trabalhar sem tino, rumores
daquilo que podia ter sido.
Não é, decerto,
o melhor dos sonhos a envolver o dia
de quem acorda sem saber o primeiro passo
já tendo dado os seguintes na inversão
que nada altera, nem ilustra, nem seduz.
Um passo, e só isso
a reverberar na música surda das letras que pululam
entre vírgulas e ideias estapafúrdias
(ainda que não seja poético falar assim).
Ah, o barulho do mar que não encobre
o pio da coruja que
ao contrário da outra, a do sertão, não assusta
quase diviniza a maré que ressoa,
brisa sudeste a anunciar bom tempo
e a melancolia de rever os dias,
revisitar os mortos,
sonhar o impossível.
Não há mais panteras presas
e olhares temerosos
guardando a raiva felina que, recalcada,
rescende a vingança, sem ter havido crime.
A natureza não há mais.
Não há mais modo de escuta, olhar complacente
só o alarido das verdades individuais
gritos num labirinto com identificação de saída,
mas a cegueira não deixa ver...
nem o voo mais alto que poderia,
se alentado, sobreviver
ao rasteiro caos
que se instaura e insiste e fere
interfere incólume sem se abater.
Rima impossível.
Quero a rima impossível
escrita num poema cego e surdo
com letras mortas,
a apagar qualquer sentido
dando ordem a tudo
e, ainda assim, não satisfaz o querer,
do poema.