O tempo...
Charles Aznavour é um chansonier francês. Prefiro o termo da língua de Flaubert a cantor, neste caso. Fica mais expressivo, além de mais chique. Dentre as muitas composições que eternizou com suas intepretações, uma me chama particular atenção por conta de um sentimento, uma sensação que venho experimentando desde que completei seis décadas de existência. Ano que vem, completo 70 anos de vida. É muita coisa. Então, depois de ouvir – ainda uma vez – a canção que já conhecia (recebia como anexo e uma mensagem de WhatsApp da queridíssima Glória Guiné – resolvi retomar as anotações que partilho aqui no meu blogue. Primeiro, o texto original, em francês. Depois uma tradução minha (que não se esforçou em manter as rimas do original). A canção tem por nome Hier encore. Literalmente, Ontem ainda. Parece que disseram que fica mais “poético” Ainda ontem.
Hier encore, j’avais vingt ans
Je caressais le temps et jouais de la vie
Comme on joue de l’amour
Et je vivais la nuit
Sans compter sur mes jours qui fuyaient dans le temps
J’ai fait tant de projets qui sont restés en l’air
J’ai fondé tant d’espoirs qui se sont envolés
Que je reste perdu ne sachant où aller
Les yeux cherchant le ciel mais le cœur mis en terre
Hier encore j’avais vingt ans
Je gaspillais le temps en croyant l’arrêter
Et pour le retenir, même le devancer
Je n’ai fait que courir et me suis essouflé
Ignorant le passé, conjuguant au futur
Je précédais de moi toute conversation
Et donnais mon avis que je voulais le bon
Pour critiquer le monde avec désinvolture
Hier encore j’avais vingt ans
Mais j’ai perdu mon temps à faire des folies
Qui ne me laissent au fond rien de vraiment précis
Que quelques rides au front et la peur de l’ennui
Car mes amours sont mortes avant que d’exister
Mes amis sont partis et ne reviendront pas
Par ma faute j’ai fait le vide autour de moi
Et j’ai gaché ma vie et mes jeunes années
Du meilleur et du pire en jettant le meilleur
J’ai figé mes sourires et j’ai glacé mes pleurs
Où sont-ils à present, à present mes vingts ans?
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Ainda ontem, eu tinha vinte anos
Acariciava o tempo e brincava com a vida
Como se brinca com o amor
E vivi a noite
Sem se me importar com meus contar os dias que fugiam no tempo
Fiz tantos planos que ficaram no ar
Fundei tantas esperanças que voaram para longe
Que continuo perdido, não sabendo para onde ir
Meus olhos buscando o céu, mas o coração metido na terra
Ainda ontem tinha vinte anos
Desperdicei tempo acreditando retê-lo
E para retê-lo, mesmo antecipando-me ele
Eu só corri e fiquei sem fôlego
Ignorando o passado, conjugando no futuro
Eu me precedi em todas as conversas
E dei minha opinião, que desejei ser a melhor
Para criticar o mundo com desenvoltura
Ainda ontem, eu tinha vinte anos
Mas perdi o meu tempo a fazer loucuras
Que no fundo me deixam sem nada realmente específico
A não ser algumas rugas na testa e o medo do tédio
Porque os meus amores estão mortos antes de existirem
Meus amigos partiram e não vão voltar
Por minha causa, criei um vazio à minha volta
E desperdicei minha vida e meus anos de juventude
Do melhor e do pior, deitar fora o melhor
Cristalizei meus sorrisos e congelei minhas lágrimas
Onde eles estão no presente, agora, os meus vinte anos?
Quem leu até aqui vai tirar suas próprias conclusões. Não vou dizer mais nada. Deixo ecoar as ideias, as sensações, os sentimentos que esta canção provoca em mim. a ligação para ver/escutar o chansonnier segue abaixo: