Janeiro 27, 2023
Foureaux
O Brasil é um país interessantíssimo. Sua História política é algo que se repete a cada quatro anos – tempo de mandato da presidência da república. Com alguma sorte, depois do famigerado FHC, a reeleição pode manter na cadeira, o mesmo presidente. Teoricamente isso dar-lhe-ia a oportunidade “glorioso” de fazer cumprir o seu “plano de governo”, quando, é óbvio, há um! No andar tradicional da procissão, a mesma ladainha se repete a cada quatro anos. Tudo o que o governo que é substituído fez não presta. Todos os defeitos e problemas nacionais assumidos pelo novo eleito é pura e absolutamente responsabilidade do governo anterior. Com raríssimas e honrosíssimas exceções, cada quatro anos faz-se tabula rasa de tido. É como se o país, a nação, o Estado, fosse ter um início original, um novo “gênesis”... Este ano mão foi diferente. Há, porém, uma particularidade. O que assumiu volta depois de seis anos de espera, de matutagem, de enredo, de “preparação. No meio do caminho, houve um ensaio, patético e canastrão, de aprisionamento. Preso, numa dependência que não era do sistema carcerário, com múltiplas regalias, com direito a entrevista e manifestação oral, visitas a tempo e a hora. Mais de um ano. Agora, o condenado preside o país. Sob os aplausos de boa parte da famigerada “mídia”, das miríades e miríades de fanáticos que, com voracidade, já retomam pontos estratégicos da administração, com o beneplácito do simbolismo de um homem corrompido e corruptor, que se faz de vítima e de pai dos pobres, simultaneamente. Um homem em quem não se pode confiar, pois mente e confessa que mente. Inexplicavelmente, este homem está, de novo, sentado, na cadeira mais importante do país. Há que se fazer uma ressalva quanto a este último detalhe. Pode ser que a importância não seja assim definitivamente do assento presidencial. Há outro, togado – de preto e vermelho – que ocupa o esdrúxulo cargo de presidente de um supremo tribunal eleitoral. Esse aborto da administração pública só existe aqui, nos estados unidos de bruzundanga, até prova em contrário. Não vou “checar as fontes”, como é costume cobrar de mim. Preguiça, muita preguiça. O que me incomoda é que, repito, inexplicavelmente, há uma população numerosa que não consegue deixar de incensar este homem, vendo nele a encarnação da alegria, da felicidade, do amor. Ele não pode andar pelas ruas das grandes cidades sem correr o risco de receber interpelações, digamos, pouco lisonjeiras. Nega-se a ocupar a residência oficial da presidência da república, sob o pretexto de que ela foi deixada em frangalhos pelo “genocida” que a ocupou com sua família nos quatro anos anteriores ao retorno – sim, é assim mesmo que o presidente anterior é tratado, e foi tratado durante os quatro anos que ocupou o mesmo cargo de quem agora o ocupa. Um descalabro. Outra coisa que me espanta é que, em que pese a pessoa do antecessor, sua história, suas credenciais, seu comportamento, etc., o que espanta é que mesmo debaixo de saraivadas e saraivadas de chumbo grosso, vinte e quatro horas por dia, durante quatro anos, a equipe montada pelo antecessor, conseguiu, a duras penas, fazer com que certa estabilidade econômica fosse alcançada. E foi preciso que a imprensa internacional dissesse isso, pois a doméstica só continuava sua saga de destruição, negação e condenação de tudo e mais alguma coisa que a equipe fazia. Todo o seu trabalho sempre foi taxado de ruim, atrasado, nefasto e errado. Uma coisa! Nos dias que correm, há duas novidades que se anunciam e se sustentam na “voz do povo”. A primeira delas diz respeito ao antecessor que está sendo massacrado por fatos que ocorreram após sua saída de cena (um tanto covarde, convenhamos) por conta de atos de vandalismo – que a imprensa e seus asseclas insistem em denominar de terrorismo, no cometimento de um equívoco monumental – ocorridos logo na primeira semana do novo mandato. Há que se registrar o fato de que, a cada dia, aparecem (dizem...!) evidências de que os que entraram e tinham responsabilidade de evitar (porque foram devidamente alertados do que estava para acontecer) o ocorrido, não o fizeram. Sabe Deus por quê! A outra novidade é que os índios no norte do país estão doentes, malnutridos e morrendo por conta dos efeitos da má gestão do que se chama “política de reservas de territórios indígenas”. Digo novidade, com ironia, claro, por conta de que, desde que me entendo por gente (e já há um tempinho que isso se deu!) escuto notícias e detrações e lamentos e detrações sobre esta situação. Isso não é coisa de ontem, nem de anteontem, nem de reflexo de erros cometidos nos quatro anos que antecederam a (re)posse. Vem de longe. Por isso mesmo é que comecei dizendo que, ao que parece, a História política brasileira se repete a cada quatro anos, lamentavelmente. Há um mecanismo automático que acomete a todos os que ascendem ao “poder”, como se isso, de fato, existe, ontologicamente falando. Sei que muita gente, se pusesse os olhos em cima disso que acabei de escrever, ia jogar pedras em mim, me xingar, me ofender, me cancelar... etc., etc., etc. Se ao menos eu tivesse certeza de que leram mesmo até o fim. E leram com olhos de ler e não com olhos de enxergar apenas o que interessa do jeito que interessa. O que não se coadunar com essas premissas não presta, está errado, é crime, é negacionismo... etc., etc., etc. E la nave va!