Março 06, 2023
Foureaux
Resolvi fazer uma provocação. Uma espécie de pulo no escuro para os que me leem. Abaixo seguem dois poemas “A” e “B”. Não vou dizer quem são os autores. São apenas três perguntinhas:
Qual dos dois mais agrada você?
O que, num, é mais bonito que noutro?
Qual dos dois é o “melhor”?
Adoraria ver as respostas chegando, mas...
***********************************************************
“A”
Já não verei a parede manchada
pelas contínuas investidas da chuva
(torrencial ou não),
e o cartaz vermelho com os preços
do combustível que alimenta os carros
a soltar fumaça
espalhar fulgem
ajudar a manchar as paredes
acompanhando a chuva
(torrencial ou não).
Já não verei a velhinha atravessa a rua
devagar
sobraçando sacola de mercado,
com o necessário para o dia
(que a carestia é muita!).
Nem verei o menino que vende balas para levar comida pra casa
(o atraso da revolução é grande).
Já não verei a menina que cora com o olhar desejoso do frentista,
nem a careta da beata depois da missa das seis.
Já não verei quase nada.
Tudo vai ser apenas memória.
Será?
E esse dia está para chegar.
***********************************************************
“B”
eu gosto dos venenos mais lentos
dos cafés mais amargos
das bebidas mais fortes
e tenho
apetites vorazes
uns rapazes
que vejo passar
eu sonho
os delírios mais soltos
e os gestos mais loucos
que há
e sinto
uns desejos vulgares
navegar por uns mares
de lá
você pode me empurrar pro precipício
não me importo com isso
eu adoro voar.