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As delícias do ócio criativo

As delícias do ócio criativo

07.01.25

Impertinência

Foureaux

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Como soe acontecer, ano novo blogue de cara nova. Mudei a configuração dos três blogues que mantenho a duras penas. Já lá se vão quase 20 anos. Já tive mais de oito blogues. resolvi reduzir para os três que mantenho: Blogger, Sapo e Wordpress. Já estou pensando em reduzir tudo a um só. O número de leitores que supostamente tenho parece não justificar a manutenção dos três. Não sei como averiguar isso e, pra ser sincero, estou me lixando. Lê quem quer. Vai-se saber o motivo. E fico feliz em saber que ainda tenho leitores...Isso mesmo: blogue, com “gue”, porque eu falo PORTUGUÊS e não assimilo muito bem esses anglicismos enfadonhos, estereotipados, rasos, chatos e sem graça. Minha chatice aumentou exponencialmente com a chegada de 2025. Já vou avisando para que depois não digam que estou insuportável, porque estou muito próximo disso. Para primeira postagem resolvi publicar um diálogo, como vai se ver. Os nomes dos interlocutores estão abreviados para salvaguardar suas identidades. Nos tempos que correm, a gente não pode “dar nome aos bois”, é quase uma heresia na mundividência de burundanga e seus aborígenes. A palavra-chave aqui – como está no título da postagem – é impertinência. No Houaiss aparece o seguinte:

“n substantivo feminino

1      qualidade do que é impertinente

2     ato, gesto ou dito de impertinente

2.1  intervenção não relacionada ao assunto tratado; despropósito

Ex.: seu aparte foi uma i.

2.2  atitude importuna; inconveniência

Ex.: a i. de alguns bajuladores

2.3  falta de respeito; insolência, incorreção

Ex.: tinha que suportar as i. do parente que o sustentava

3     mau humor; rabugice Ex.: deve-se relevar a i. das pessoas idosas

Reproduzi literalmente e não aponho sequer um comentário. deixo isso para aqueles que tiverem a paciência de fazê-lo. Vamos ao diálogo. Ele se seguiu a uma publicação de anúncio proposto por uma professora da usp que responde pelo nome de Marilena Chauí. Confesso que escrevi o nome dela com iniciais maiúsculas apenas em respeito à Língua Portuguesa...

BB: Não perco meu tempo com esta “senhora”. Tenho coisas muito mais interessantes, proveitosas e sérias a fazer!

SRT: BB, realmente deve ter algo seríssimo para fazer! Ler as obras completas do astrólogo terraplanista Olavo de Carvalho, por exemplo, o expoente máximo do “pensamento” bolsonarista!

BB: SRT, se eu fosse bolsonarista… até poderia pensar nisso, mas você se equivocou: não me rebaixo a esse tipo de chancela, típico da ausência de argumentação séria e saudável! Que papai noel seja bonzinho com você…

SRT: BB, a filosofia é para aqueles que têm tempo para pensar e apreciar o pensamento. Com certeza você é daqueles que acha que a filosofia é perfumaria, algo sem importância para a vida. E supostamente seja alguém de direita que não quer ouvir um… 

BB: SRT, que raciocínio raso, raivoso e estereotipado o seu! Não há como sequer pensar em diálogo diante de seus “argumentos”. Pena que essa situação grasse por aí…

(Verifique, no dicionário, o termo “grasse” – flexão do verbo “grassar” …

SRT: BB, você nega de antemão até tomar conhecimento do que Marilena Chaui tem a dizer, num tom de desqualificação total do seu pensamento, e eu é que sou raivoso? Apenas fui crítico...

BB: SRT, não “desqualifiquei” ninguém. Leia com atenção minha primeira mensagem. Você não me conhece, portanto, não tem condições de entender meus motivos. Fui aluno “dela” por dois semestres. Não gostei “DELA”. Punto i basta!

Pensem o que quiserem...

 

26.12.24

Fim de ano

Foureaux

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A postagem de hoje, provavelmente a última do ano (mão posso garantir... a gente nunca sabe o que o próximo segundo de tempo nos reserva!) é a reprodução literal de um texto que, depois de ouvido num áudio enviado pela querida amiga Suzana, foi encontrado numa consulta (mais uma!) que fiz ao famigerado Google (O_DEUS_DE_SPINOZA.pdf). Trata-se de um texto (não posso garantir acadêmica e/ou cientificamente a veracidade de minha própria afirmação!) supostamente de autoria de Baruch Spinoza, ou Bento Spinoza (se traduzido o prenome). Trata-se de filósofo racionalista (posso estar equivocado, claro). Sua visão de mundo é hiper peculiar, como soe acontecer a boa parte dos filósofos. Neste caso, o teor do texto pode assustar e, até, ofender alguém. Corro o risco. Ouso afirmar que penso muito proximamente como ele, no que tange ao teor de seu raciocínio implícito neste texto. Se não estou em equívoco, Deus, para o filósofo é a própria substância da existência, da natureza. O mais, a levar em conta o que Spinoza diz neste texto, é "invenção" - para usar o termo genérico e não totalmente eficaz/eficiente, mas plausível. Deus É e Está. Punto i basta! Como o ano finda e neste contexto as revisões, reflexões e planejamentos tornam-se uma espécie de palavra de ordem, partilho com vocês (espero”) o prazer desta leitura que calou fundo em mim. Ainda em tempo: boas festas para quem me lê!

PS: reproduzo literalmente, sem correções, o que encontrei numa página da rede...)

O DEUS DE SPINOZA

Estas palavras são de Baruch Spinoza, filósofo holandês que viveu em pleno séc. XVII. Este texto foi chamado de “Deus segundo Spinoza” ou “Deus Falando com você”:

“Para de ficar rezando e batendo no peito. O que eu quero que faças é que saias pelo mundo, desfrutes de tua vida. Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti. Para de ir a estes templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa. Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nas praias. Aí é onde eu vivo e expresso o meu amor por ti. Para de me culpar pela tua vida miserável; eu nunca te disse que eras um pecador. Para de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem, no olhar dos teus amigos, nos olhos de teu filhinho... não me encontrarás em nenhum livro... Para de tanto ter medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem me incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor. Para de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso te castigar por seres como és, se sou Eu quem te fez? Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos os meus filhos que não se comportam bem pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso? Esquece qualquer tipo de mandamento, são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti. Respeita o teu próximo e não faças aos outros o que não queiras para ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção à tua vida; que teu estado de alerta seja o teu guia. Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno. Para de crer em mim ... crer é supor, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho de mar. Para de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, da tua saúde, das tuas relações, do mundo. Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar. Para de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim. Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro... aí é que estou, dentro de ti.”

Obs. Einstein, quando perguntado se acreditava em Deus, respondeu: – a “Acredito no Deus de Spinoza que se revela por si mesmo na harmonia de tudo o que existe, e não no Deus que se interessa em premiar ou castigar os homens”.

Gentilmente enviado por e-mail pela minha querida prima Mirtia. Agnósticos como eu tem no Deus de Spinoza um deus para honrar de verdade, pois, pode-se assegurar que, científica e filosoficamente, ele existe já que somos parte dele, bem diferentemente de outros “deuses” – criados da imaginação e dos terrores ao longo da história da Humanidade – que serviram e vem servindo a aproveitadores como cruel instrumento de intimidação e coação mental para se manterem no poder e, assim, fruírem de sua “importância”.

Manfredo Winge – http://mw.eco.br/zig/hp.htm

Confraria democrática do bom senso

Webmaster: 1° SITE do IG/UnB

Glossário Geológico Ilustrado

SIGEP Sítios Geológicos e Paleobiológicos do Brasil

“Aqueles preocupados com o custo da educação deveriam antes considerar o custo da ignorância”. Derek Bok, ex-Reitor da Universidade de Harvard (foi-me enviado por e-mail)

23.12.24

Boas festas!

Foureaux

 

Minha mensagem de Natal é um texto repassado por uma amiga, a Suzana, que me enviou pelo WhatsApp. Não conheço a autora, mas gostei do texto.

Boas festas!

“A origem dos símbolos do Natal

Uma toalha vermelha com sinos bordados nas laterais estendidas sobre a mesa marcava o início das comemorações de Natal. Para minha avó, que ficou órfã aos 6 anos de idade, ter toda a família reunida em sua casa trazia um significado especial. Queríamos ajudar com os preparativos, mas ela insistia que estava tudo tranquilo apesar do alvoroço: pernil sendo assado, minipães de batata esperavam o momento certo de serem levados para a mesa, salpicão sendo finalizado com batata-palha, nozes com casca espalhadas pela casa e todos procurando pelo quebra-nozes que se perdia a todo instante. Vovô era o primeiro a se sentar e adorava abrir o queijo do reino que vinha em uma lata vermelha - linda, diga-se de passagem. Algum parente ligava e quem estava mais perto do telefone, atendia. Só escutávamos respostas curtas: “Tudo em dobro pra vocês!”, “Deus abençoe!”.  A ligação durava pouco. “Era Fulana!” avisava-se à todos, repassando os desejos de boas festas. Os netos arrumavam o presépio esperando o relógio marcar meia-noite para a chegada do Papai Noel. Sempre me intrigou a imensa sorte que tínhamos dele passar exatamente nesse horário na casa da minha avó… Memórias de infância são deliciosas!

O tempo vai passando e com ele parte da magia. Lembro da minha decepção ao entender que Jesus não nasceu no dia 25 de dezembro. Provavelmente tenha sido em abril, dizem as análises mais aprofundadas dos fatos. A escolha da data foi ratificada no século IV, com a consolidação da Igreja Católica em Roma. Como não se sabe ao certo o dia em que Jesus nasceu, essa foi uma forma de cristianizar as festas romanas, dando-lhes uma nova simbologia. Aliás, a festa de Natal tem suas raízes em festas pagãs que eram realizadas na antiguidade. Nessa data, os romanos celebravam a chegada do inverno. Eles cultuavam o Deus Sol e ainda realizavam dias de festividades com o intuito de renovação. Outros povos da antiguidade também celebravam a data, seja pela chegada do inverno ou pela passagem do tempo.

Com o Natal surgiram vários sinais representativos dessa comemoração festiva, cada qual com um significado distinto e com origem pagã ou religiosa. O presépio surgiu no século XIII, na Itália, em uma tentativa de São Francisco de recriar a cena do nascimento de Jesus para explicar ao povo como teria acontecido. Depois, cada vez mais a montagem do presépio tornou-se uma tradição forte e passou a ser montado nas casas, nas igrejas e em diversos locais durante o ciclo do Natal.

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O presépio simboliza a união do divino com o terreno, afinal reúne pessoas, animais e a figura de Deus. Ainda no campo religioso, anjos usados na decoração do Natal remetem a São Gabriel, o arcanjo que anunciou à Maria que ela seria mãe de Jesus.

Os três reis magos foram à procura de Jesus para adorá-lo e levar-lhe presentes. Essa tradição religiosa também inspira o costume de troca de presentes no Natal, embora hoje o comércio tenha dado novos significados a essa prática. Já as estrelas no topo das árvores de Natal são o sinal seguido pelos reis magos para encontrar o lugar onde Jesus tinha nascido.

O costume de decorar árvores vem de tradições antigas europeias e ganhou força na Alemanha Medieval. Lá, as pessoas montavam a "árvore do Paraíso", inspirada no Jardim do Éden, e a enfeitavam com maçãs e frutas. Mais tarde, outros enfeites foram adicionados. Martinho Lutero, no século XVI, foi um dos primeiros a usar velas para iluminar a árvore. Com o tempo, essas tradições deram origem às árvores de Natal que conhecemos hoje. Como o Natal acontece no inverno europeu, o pinheiro é a árvore mais usada nessa celebração por resistir ao frio, simbolizando esperança e paz, assim como Jesus para os cristãos.

Se a árvore é o símbolo mais emblemático, o Papai Noel é o personagem mais conhecido da festa. Sua figura é inspirada em São Nicolau, um bispo turco que viveu na antiguidade. Ele teria ajudado um homem miserável, pai de três filhas, que não tinha condições de sustentá-las e pagar o dote de seus casamentos. Para ajudá-lo, às escondidas, Nicolau doou sacos com moedas para o homem necessitado. Esse feito popularizou o bispo, e fez com que ele passasse a representar a generosidade associada à época natalina. Com o tempo, e através de escritores como Washington Irving (1783–1850) e campanhas publicitárias, a figura de São Nicolau ganhou novas características e deu lugar ao Papai Noel como hoje conhecemos. Em vez de moedas, o bom velhinho deixa presentes às crianças que se portam bem ao longo do ano.

A ceia também tem origens em festas antigas e medievais da Europa. Ela está ligada à celebração do solstício de inverno e da Saturnália, um importante festival romano celebrado em dezembro. Ela simboliza a união e a confraternização das famílias.

Embalados por esses símbolos, preparem a trilha sonora para este Natal. “Noite Feliz” não pode faltar! Escrita pelo sacerdote austríaco Joseph Mohr que diante do órgão estragado de sua paróquia, decidiu compor um canto simples que poderia ser interpretado no violão na Missa do Galo. Bem, toda esta descomplicação a tornou a música natalina mais popular e traduzida em 330 idiomas!

Desejo uma semana de preparativos e mergulhada na magia do Natal. Por aqui, estamos todos concentrados para entregar nosso melhor para sua família através das encomendas! E se você ainda precisa resolver os últimos presentes, podemos te ajudar com caixas de antepastos, azeites e vinhos! Ahhhh… que coisa boa essa preparação!

Com carinho,

Carol”

 

05.12.24

Desesperança

Foureaux

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Em tempos de Natal, ou, mais acertadamente, de Advento, os dois textos que seguem tangenciam o tema. Numa tentativa de contextualizar a minha desesperança, o meu ceticismo, minha tristeza, minha vergonha e minha raiva, uso os dois para favorecer a possibilidade de tentar manter o espírito elevado, numa terra de ninguém e que se transformou isso a que chamam de país... Espero que consigam tirar proveito dos textos, porque de minhas ideias e da situação em que estamos, não há como...

Texto do Cardeal José Tolentino Mendonça 

“Sobre a amizade

O modo como uma grande amizade começa é misterioso. Podemos descrevê-lo como um movimento de empatia que se efetiva, um laço de afeição ou de estima que se estreita, mas não sabemos explicar como é que ele se desencadeia. Irrompe em silêncio a amizade. Na maior parte das vezes, quando reconhecemos alguém como amigo, isso quer dizer que já nos ligava um património de amizade, que nos dias anteriores, nos meses anteriores, como escreveu Maurice Blanchot, ‘éramos amigos e não sabíamos’.

Aquilo de que uma amizade vive também dá que pensar. É impressionante constatar como ela acende em nós gratas marcas tão profundas com uma desconcertante simplicidade de meios: um encontro dos olhares (mas que sentimos como uma saudação trocada entre as nossas almas), uma qualidade de escuta, o compartilhar mais breve ou demorado de uma mesa ou de uma conversa, um compromisso comum num projeto, uma qualquer ingénua alegria… A linguagem da amizade é discreta e ténue. E, ao mesmo tempo, é inesquecível e impressiva.”

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Rezas Antigas Portuguesas

Não tenho notícias sobre a autoria)
Quando pedires alguma coisa a Dezembro, pede que te traga presentes que não se vendem em lojas: um ‘gosto muito de ti’, um ‘obrigada por existires’, um ‘estou aqui para ti, sempre’.
Quando pedires alguma coisa a Dezembro, pede que te traga de presente abraços apertados, gargalhadas altas, colo de quem mais amas, mãos dadas o ano inteiro, ombros que te seguram, corações onde podes morar sem prazo de validade.
Quando pedires alguma coisa a Dezembro, pede que te traga de presente olhos que brilham por ti e para ti, palavras que te protegem e cuidam como sol em dias frios, os pequenos nadas que valem tudo na vida, o essencial que ocupa, sem pesar, o lado esquerdo do peito, e o fermento da alegria que faz a vida valer a pena.
Quando pedires alguma coisa a Dezembro, pede que te ensine a viver de peito aberto e a acreditar - sem mas - que há uma luz ao fundo do túnel para cada escuridão que tiveres de enfrentar.

01.12.24

Tristeza

Foureaux

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Estou triste. Muito triste. O país em que vivo passa por uma série de situações criadas por um descalabro moral, espiritual e material. A desfaçatez e a arrogância têm-se tornado ordem do dia para demonstração de conhecimento, poder e autoridade. Ledo engano. Nada disso é como parece ser. Estou triste porque vejo manifestações de pessoas a quem quero muito e a quem quero pouco, compactuando com o referido descalabro. Uma decepção. Como é que é possível negar FATOS? Por mais que eu não goste de quem os aponta? Não deixam de ser fatos. Pensando assim, decidi partilhar dois textos que falam de morte. Na tentativa, vai expressa minha impressão de que, talvez, a morte seja uma situação mais desejável do que a emporcalhada realidade que nos é disponibilizada. Infelizmente...

“Se eu morrer antes de você, faça-me um favor.
Chore o quanto quiser, mas não brigue com Deus por Ele haver me levado.
Se não quiser chorar, não chore.
Se não conseguir chorar, não se preocupe.
Se tiver vontade de rir, ria.
Se alguns amigos contarem algum fato a meu respeito, ouça e acrescente sua versão.
Se me elogiarem demais, corrija o exagero.
Se me criticarem demais, defenda-me.
Se me quiserem fazer um santo, só porque morri, mostre que eu tinha um pouco de santo, mas estava longe de ser o santo que me pintam.
Se me quiserem fazer um demônio, mostre que eu talvez tivesse um pouco de demônio, mas que a vida inteira eu tentei ser bom e amigo.
Se falarem mais de mim do que de Jesus Cristo, chame a atenção deles.
Se sentir saudade e quiser falar comigo, fale com Jesus e eu ouvirei. Espero estar com Ele o suficiente para continuar sendo útil a você, lá onde estiver.
E se tiver vontade de escrever alguma coisa sobre mim, diga apenas uma frase:
'- Foi meu amigo, acreditou em mim e me quis mais perto de Deus!'
Aí, então derrame uma lágrima.
Eu não estarei presente para enxugá-la, mas não faz mal. Outros amigos farão isso no meu lugar.
E, vendo-me bem substituído, irei cuidar de minha nova tarefa no céu.
Mas, de vez em quando, dê uma espiadinha na direção de Deus. Você não me verá, mas eu ficaria muito feliz vendo você olhar para Ele.
E, quando chegar a sua vez de ir para o Pai, aí, sem nenhum véu a separar a gente, vamos viver, em Deus, a amizade que aqui nos preparou para Ele.
Você acredita nessas coisas?
Sim? Então ore para que nós dois vivamos como quem sabe que vai morrer um dia, e que morramos como quem soube viver direito.
Amizade só faz sentido se traz o céu para mais perto da gente, e se inaugura aqui mesmo o seu começo.
Eu não vou estranhar o céu. Sabe por quê? Porque ser seu amigo já é um pedaço dele!

(Pe. Zezinho)

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Como é por dentro outra pessoa

Como é por dentro outra pessoa
Quem é que o saberá sonhar?
A alma de outrem é outro universo
Com que não há comunicação possível,
Com que não há verdadeiro entendimento.

Nada sabemos da alma
Senão da nossa;
As dos outros são olhares,
São gestos, são palavras,
Com a suposição de qualquer semelhança
No fundo.
1934

(Poesias Inéditas [1930-1935]. Fernando Pessoa. [Nota prévia de Jorge Nemésio]. Lisboa: Ática, 1955.

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24.11.24

Homenagem

Foureaux

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A postagem de hoje é uma homenagem a um amigo querido que, como diz o adagiário popular, foi desta para melhor, o Gilberto Fladimar Viana. Foi Diretor do Gabinete de Pesquisa do Cal – Centro de Artes e Letras – da UFSM, que eu, íntima e jocosamente, chamava de universidade federal sado masoquista. Trabalhei cinco anos nesta universidade localizada em Santa Maria-RS. Dos cinco anos, quatro foram de convivência quase diária com o “negão”, como a gente costumava se dirigir a ele, com amizade, afeto, respeito, reconhecimento, alegria e desconcentração. Os tempos eram outros. A patrulha da ignorância e da chatice ainda não tinham alcançado a adolescência... de lá pra cá, regrediram... mas isso é uma outra história. O Gilberto... churrasqueiro de marca, aplicado, responsável e alegre. Deixa saudades. Pare ele, minha singela homenagem...

 

Quando vier a primavera, 
Se eu já estiver morto, 
As flores florirão da mesma maneira 
E as árvores não serão menos verdes que na primavera passada. 
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme 
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.

Se soubesse que amanhã morria 
E a primavera era depois de amanhã, 
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã. 
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo? 
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo; 
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse. 
Por isso, se morrer agora, morro contente, 
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem. 
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele. 
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências. 
O que for, quando for, é que será o que é.

 

CAEIRO, AlbertoPoesia (Poemas Inconjuntos), ed. Fernando Cabral Martins, Richard Zenith. Lisboa: Assírio & Alvim, 2001, p. 109

 

12.11.24

Bobagem

Foureaux

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Mais um dia sem a menor vontade de escrever algo inventivo. De mais a ais, pra quê? Vai ficar por aí mesmo, tomando poeira, chá de indiferença, injeção de esquecimento. É assim mesmo. Sendo assim, na limpeza que ocasionalmente faço, encontrei a bobagem que segue. Ri um pouco, é verdade. Então partilho, já sabendo que muitos narizes hão de se torcer... Que pena, não posso fazer nada... Ria... se puder!

Frases do dia!

Os políticos brasileiros, são os mais católicos do mundo.... Não assinam nada sem levar um terço.

Os assaltos continuam e em cada pedaço de terra deste imenso Brasil, eles são praticados de forma diferente.

Tipos de assaltantes: mineiro – ô, prestenção. issé um assarto, uai. Levantus braço e fiketin quié mió prucê. Esse trem na minha mão tá chein de bala... Mió passá logo os trocado que eu num to bão hoje. vai andano, uai ! Tá esperanuquê, sô?; bahiano – Ô meu rei... (pausa) Isso é um assalto... (longa pausa) Levanta os braços, mas não se avexe não... (outra pausa) Se num quiser nem precisa levantar, pra num ficar cansado. Vai passando a grana, bem devagarinho (pausa pra pausa) Num repara se o berro está sem bala, mas é pra não ficar muito pesado. Não esquenta, m u irmãozinho, (pausa) Vou deixar teus documentos na encruzilhada; carioca – Aí, perdeu, mermão! Seguiiiinnte, bicho. Isso é um assalto sacô? Passa a grana e levanta os braço rapá... Não fica de caô que eu te passo o cerol... Vai andando e se olhar pra trás vira presunto...; paulistano – Ôrra, meu... Isso é um assalto, meu. Levanta os braços cara.. Passa a grana logo, meu. Mais rápido, meu, que eu ainda preciso pegar a bilheteria aberta pra comprar o ingresso do jogo do Coríntia, meu... Pô, agora se manda, meu; gaúcho – Ô guri, ficas atento .. isso é um assalto. Levanta os braços e te aquieta, tchê ! Não tentes nada e cuidado que esse fação corta uma barbaridade, tchê. Passa as pilas prá cá ! E te manda, senão o quarenta e quatro fala; de Brasília – Querido povo brasileiro, estou aqui no horário nobre da TV para dizer que no final do mês, aumentaremos as seguintes tarifas: energia, água, esgoto, gás, passagem de ônibus, imposto de renda, licenciamento de veículos, seguro obrigatório, gasolina, álcool, IPTU, IPV A, IPL, ICMS, PIS, COFINS...

06.11.24

Acréscimo

Foureaux


Na postagem de ontem, esqueci-me, de acrescentar comentário sobre o que afirmei acerca dos dois primeiros versos do poema do Antônio Cícero: “No dia em que fui mais feliz / eu vi um avião cruzar o seu olhar até sumir”. Estou assumindo a ideia de que se trata de dois versos apenas. Como letra de música, na gravação de Adriana Calcanhoto (aliás, vou perguntar ao professor google se mais alguém gravou a mesma canção que faz jus ao poema), dependendo do site em que aparece podem ser mais versos, como por exemplo “No dia em que fui mais feliz / eu vi um avião / cruzar o seu olhar até sumir”, ou ainda “No dia em que fui mais feliz / eu vi um avião cruzar o seu olhar / até sumir”. Ao fim e ao cabo, a posição dos versos, aqui, não importa. A forma definitiva está no livro do poeta, já publicado. Quem quiser que o consulte. O que desejo expressar é a confirmação de minha assertiva. Trata-se, a meu ver, da mais acachapante declaração de amor de que tenho notícia. Vejam, que disse “acachapante”, não disse “única” ou “definitiva”. Porque as opiniões são diversas... e mudam. As interpretações não se prendem a grilhões ideológicos e cada um lê como quer, porque o poeta não pode, isso, controlar. Então... A imagem criada por Antônio Cícero fala de um fenômeno ao qual pouco se presta atenção. O avião que cruza o céu é percebido pelo eu lírico nos olhos de quem está à sua frente ou ao seu lado, não importa. Na leitura que faço, os olhos são do ser amado que olha para o céu e vê o avião. O eu lírico olha para o olho de seu/sua amado/a e vê neles o reflexo do avião que cruza o céu. se isto não é lindo, não sei o que é. Se isso não expressa amor infinito, inclusive pela ilação possível com “céu”, também, não sei do que se trata. Lacan já dizia que o sujeito deseja ser o que ele vê refletido nos olhos de sua mãe, no momento da amamentação. Disse isso, em outras palavras, de outra forma, mas, salvo equívoco meu, foi isso que ele disse. Logo, no poema, Antônio Cícero, tendo ou não procurado saber do que disse Lacan antes de escrever o poema, diz, em outras palavras, a mesma coisa. A analogia procede, tanto que é possível pensar que, inconscientemente, o poeta já percebe o que explicou o psicanalista – mesmo que, cronologicamente, a ordem não seja esta. De qualquer maneira, resta afirmar, confirmar e asseverar a beleza dos versos e sua acachapante forma de declaração de amor. E tenho dito!

PS: falando em poesia, recebi de uma amiga virtual (Natalia Castelluccio) um acróstico para o mês de novembro, em três línguas (Adoro tradução e suas artimanhas, suas surpresas e suas epifanias!). Fiz algumas adaptações, que julguei necessárias, e compartilho:

ACROSTICO DI NOVEMBRE

Nuove
Occasioni
Vibrano
Eternamente
Mentre
Bramiamo
Regole
Eccezionali
NOVEMBER
’s ACROSTIC
New
Occasions
Vibrate
Eternally
Meanwhile
Be craved
Exceptional

Rules
ACROSTICHE DE NOVEMBRE

Nouveau

Occasions

Vibrent

Éternellement

Momentanément

Bavardons

Règles

Exceptionnels

05.11.24

Declaração de amor

Foureaux

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Quando dei aulas sobre Literatura Brasileira, sobretudo nos últimos semestres (nos cinco anos finais de minha “carreira” – por questões meramente burocrático-administrativas – lecionei apenas Literatura Portuguesa e Literatura Comparada), assim como, quando lecionava outras matérias literárias, lia poemas (inclusive) em sala de aula. Isso era considerado perda de tempo e falta de didática por alguns doutos “pares” que faziam cara de chacota quando isso era mencionado. Sim, eu lia textos literários em sala de aula!!! Heresia! Anátema! Fosse nos domínios do tio Sam... shame on you!, era o que eu ouviria... Bom... Sempre procurei desmerecer as “bocas de matildes” e continuei lendo poemas, contos, trechos de romances, etc. em minha aulas. Numa delas, apresentei esse poema – lido primeiro, escutado depois – para afirmar, de cara, que seus dois primeiros versos são a mais acachapante declaração de amor de que tenho notícia. Adoro o termo “acachapante”: diz tudo, é sonoramente forte, expressivo, vigoroso. Fiquei com o poema. procurem pela gravação de Adriana Calcanhoto (desconheço se há outra... Caso haja, não vai superar a da cantora gaúcha). Uživati! É bom proveito em croata...

Inverno

No dia em que fui mais feliz
Eu vi um avião
Se espelhar no seu olhar até sumir
De lá pra cá não sei
Caminho ao longo do canal
Faço longas cartas pra ninguém
E o inverno no Leblon é quase glacial
Há algo que jamais se esclareceu:
Onde foi exatamente que larguei
Naquele dia mesmo
O leão que sempre cavalguei?
Lá mesmo esqueci
Que o destino
Sempre me quis só
No deserto sem saudade, sem remorso só
Sem amarras, barco embriagado ao mar
Não sei o que em mim
Só quer me lembrar
Que um dia o céu
Reuniu-se a terra um instante por nós dois
Pouco antes do Ocidente se assombrar

(CÍCERO, Antônio. “Inverno”, inGuardar. Rio de Janeiro: Record, 1996.

 

04.11.24

Homenagem

Foureaux

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Faz uns dias, recebi mensagem de uma amiga portuguesa, a Ana Cristina Martins. Ela pedia-me que escrevesse algumas palavras a serem lidas na homenagem a Vitor Escudero numa sessão da Sociedade de Geografia de Lisboa, secção de Arqueologia. O distinto, animado e querido amigo, Vitor Escudero foi o fundador desta secção. Aceitei, por óbvio. Como costumo dizer, rosamariamortinha de inveja... queria ter lá estado para ler eu mesmo e abraçar o distinto e querido amigo e os demais convivas, de quem tanto gosto. Não deu. Escrevi o texto que segue abaixo. Foi lido na abertura da sessão que não vi – foi às dez da manhã, sete aqui do outro lado, estava acordando naquele momento e depois tinha a caminhada matinal na praia – dose de um dos remédios que tomo diariamente. Neste caso específico, apenas de segunda a sexta, com aceite do médico que supervisiona minha condição de saúde... Uma homenagem singela, sincera. Gosto imenso do Vitor. E ele sabe disso! Bem haja!

Boa tarde!

Diz o ditado popular que os contrários se atraem. Penso que os iguais se reconhecem, a cantar na mesma toada.

Assim, dois leoninos de boa cepa podem se sentir acompanhados um pelo outro, pelo simples fato de terem nascido sob o mesmo signo. Esta introdução, um tanto jocosa, marca minha tendência a não me levar muito a sério, conselho que o caríssimo amigo Vitor Escudero sempre deixou claro para mim e, creio, para todos que dele se aproximam. Ouvi falar de sua pessoa durante quase um ano. No passado 2013, finalmente, no aeroporto de Lisboa, tivemos nosso primeiro contato. Dois momentos marcantes fazem inesquecível o desdobramento (eu diria inevitável) deste contato primevo. O primeiro foi o convite a mim feito para jantar seguido de um porto de honra chez Escudero, dias depois de nos conhecermos. O segundo foi a magnífica aula explicativa no Palácio da Pena, em Sintra. Que clareza de oração, que profusão de conhecimento, que vigor e energia. Fiquei invejoso. Daí em diante, anualmente, nos encontramos e a frateria, parece, se consolida a cada período. Troca de opiniões e dúvidas, convivência acadêmica e pessoal, pândegas e guloseimas. A aventura de existir em harmonia com os pares... e os ímpares também. Nada é perfeito. Tanto é assim que estou aqui, deste lado do “grande charco” a desejar a presença física neste momento tão significativo. Mesmo de longe, cumprimento o homenageado e agradeço à Ana Cristina pelo convite para me manifestar e... confesso, estou com inveja de quem desfruta da companhia deste homem espetacular neste dia tão especial. Bem hajam. Abraço tropicais a todos e em especial a este amigo tão querido, Vitor Escudero. Saravá!

José Luiz Foureaux de Souza Júnior, Marataízes-ES, Brasil, outono, 2024

 

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