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As delícias do ócio criativo

As delícias do ócio criativo

25.10.25

Sobre vírgulas

Foureaux

Resultado de imagem para virgulasTenho a impressão de que já partilhei este texto. Não sei quando foi comemorado o centenário da vírgula. Quer saber? Não me interessa. O que me faz partilhar (de novo?) é o interessante do texto. A criatividade e o cuidado em divulgar o uso correto da Língua Pátria. Sim, é assim que me foi ensinado no curso primário, no curso de admissão do colégio dos padres Salesianos no curso ginasial. O nome da disciplina era “Língua Pátria”. E até os primeiros semestres do curso de Letras que fiz na PUC-MG, pasmem, estudei “Língua Portuguesa”. Hoje, já não posso garantir que isso aconteça de fato. De um modo ou de outro, divulgo (de novo?) este texto sobre a vírgula. Não sei quem é o autor. Tirei os asteriscos e as figurinhas que a mensagem original continha, por excessivos. Não fui atrás de “fontes”. Quem quiser reclamar que o faça com o Bispo...

Nos 100 anos da vírgula
Muito legal a campanha dos 100 anos da ABI (Associação Brasileira de Imprensa)!


A vírgula pode ser uma pausa... ou não:
Não, espere.
Não espere.

Ela pode sumir com seu dinheiro:
R$ 23,4.
R$ 2,34.

Pode criar heróis:
Isso só, ele resolve!
Isso, só ele resolve!

Ela pode ser a solução:
Vamos perder, nada foi resolvido!
Vamos perder nada, foi resolvido!

A vírgula muda uma opinião:
Não queremos saber!
Não, queremos saber!

A vírgula pode condenar ou salvar:
Não tenha clemência!
Não, tenha clemência!

Uma vírgula muda tudo!
ABI: 100 anos lutando para que ninguém mude uma vírgula da sua informação.
Considerações adicionais:

SE O HOMEM SOUBESSE O VALOR QUE TEM A MULHER ANDARIA DE QUATRO À SUA PROCURA.
Se você for mulher, certamente colocou a vírgula depois de MULHER. Se você for homem, colocou a vírgula depois de TEM.
Moral da história: a vida pode ser interpretada e vivida de diversas maneiras. Nós é que fazemos a pontuação! Pontue sua vida com o que realmente importa. Isso faz toda a diferença! Compartilhem esta mensagem como um presente de Português!

22.10.25

Ah... a França!

Foureaux

Uma canção francesa. Como todas as outras, diferentes de todas as outras. Charles Aznavour é seu autor e seu intérprete (Basta digitar este nome na caixa de pesquisa do youtube e várias opções para ouvi-lo vão aparecer. Cometi a desfaçatez de traduzir, para facilitar, no caso de quem não sabe francês, mas nem é preciso saber. A beleza da sonoridade das palavras e a melodia já criam a ambiência necessária e suficiente para se deliciar com o que é belo. Chame-se a isso deleite!

 

Comme ils dissent

 

J’habite seul avec maman
Dans un très vieil appartement
Rue Sarasate


J’ai pour me tenir compagnie
Une tortue, deux canaris
Et une chatte

 

Pour laisser maman reposer
Très souvent, je fais le marché
Et la cuisine


Je range, je lave, j’essuie
À l’occasion, je pique aussi
À la machine

 

Le travail ne me fait pas peur
Je suis un peu décorateur
Un peu styliste


Mais mon vrai métier
C’est la nuit
Que je l’exerce travesti


Je suis artiste

J’ai un numéro très spécial
Qui finit en nu integral


Après strip-tease
Et dans la salle je vois que
Les mâles n’en croient pas leurs yeux



Je suis un homme, oh
Comme ils disent

Vers les trois heures du matin


On va manger entre copains
De tous les sexes
Dans un quelconque bar-tabac

 

 


Et là, on s’en donne à cœur joie
Et sans complexes

On déballe des vérités


Sur des gens qu’on a dans le nez
On les lapide
Mais on le fait avec humour


Enrobé dans des calembours
Mouillés d’acide

On rencontre des attardés


Qui pour épater leur tablée
Marchent et ondulent
Singeant ce qu’ils croient être nous


Et se couvrent, les pauvres fous
De ridicule

Ça gesticule et parle fort


Ça joue les divas, les ténors
De la bêtise
Moi, les lazzis, les quolibets


Me laissent froid, puisque c’est vrai
Je suis un homme, oh
Comme ils dissent

 

À l’heure où naît un jour nouveau
Je rentre retrouver mon lot
De solitude


J’ôte mes cils et mes cheveux
Comme un pauvre clown malheureux
De lassitude

 

Je me couche mais ne dors pas
Je pense à mes amours sans joie
Si dérisoires


À ce garçon beau comme un dieu
Qui sans rien faire a mis le feu
À ma mémoire

 

Ma bouche n’osera jamais
Lui avouer mon doux secret
Mon tendre drame

 

Car l’objet de tous mes tourments
Passe le plus clair de son temps
Au lits des femmes

 

 

Nul n’a le droit en vérité
De me blâmer, de me juger
Et je precise


Que c’est bien la nature qui
Est seule responsable si
Je suis un homme, oh
Comme ils disent

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Como dizem

 

Moro sozinho com minha mãe

Em um apartamento muito antigo

Na Rua Sarasate

 

Para me fazer companhia

Uma tartaruga, dois canários

E um gato

 

Para deixar minha mãe descansar

Muitas vezes, vou às compras

E cozinho

 

Arrumo, lavo, seco

Às vezes, também costuro

Com a máquina de costura

 

O trabalho não me assusta

Sou meio decorador

Meio estilista

 

Mas meu trabalho de verdade

É à noite

Que pratico como travesti

 

Sou artista

Tenho um número muito especial

Que termina em nudez total

 

Depois de um striptease

E no quarto eu vejo que

Os homens não acreditam no que veem

 

Sou um homem, oh

Como dizem

Por volta das três da manhã

 

Vamos jantar com amigos

De todos os sexos

Em algum bar-tabaco

 

E lá, nos divertimos muito

E sem complexos

Desembalamos verdades

 

Sobre gente que temos em conta

Nós as apedrejamos

Mas fazemos isso com humor

 

Envoltos em trocadilhos

Encharcados em ácido

Encontramos os retardatários

 

Que, para impressionar a mesa,

Andam e ondulam

Imitando o que acreditam ser nós

 

E se cobrindo, os pobres tolos

De ridículo

Eles gesticulam e falam alto

 

Eles interpretam as divas, os tenores

da estupidez

Eu, as vaias, as zombarias

 

Deixe-me frio, pois é verdade

Eu sou um homem, oh

Como dizem

 

Na hora em que um novo dia nasce

Eu volto para encontrar meu destino

De solidão

 

Eu tiro meus cílios e meu cabelo

Como um pobre palhaço infeliz

Com cansaço

 

Eu vou para a cama, mas não durmo

Penso em meus amores sem alegria

Tão insignificantes

 

Pelo garoto tão bonito como um deus

Que sem fazer nada ateou fogo

À minha memória

 

Minha boca nunca ousará

A Confesso meu doce segredo

Meu terno drama

 

Pois o objeto de meus tormentos

Passa a maior parte do tempo

Nas camas das mulheres

 

Ninguém tem o direito, na verdade

De me culpar, de me julgar

E eu especifico

 

Que é a natureza que

É a única responsável

Se sou um homem, oh

Como dizem

 

 

 

 

 

 

 

19.10.25

Apesar dos pesares...

Foureaux

É notável se dar conta de que a letra de uma música faz tanto sentido. Apesar do fato de que o poeta – porque ele é mesmo um poeta! – tenha posicionamentos tão questionáveis – para dizer o mínimo. Deixando minha chatice de lado, compartilho o prazer de ler (e ouvir0 peça tão contundente e direta. Pensem o que quiserem. É assim que eu sou... um chato!

Amanhã vai ser outro dia
Amanhã vai ser outro dia
Amanhã vai ser outro dia

Hoje você é quem manda
Falou, tá falado
Não tem discussão, não
A minha gente hoje anda
Falando de lado
E olhando pro chão, viu

Você que inventou esse estado
E inventou de inventar
Toda a escuridão
Você que inventou o pecado
Esqueceu-se de inventar
O perdão

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Eu pergunto a você
Onde vai se esconder
Da enorme euforia
Como vai proibir
Quando o galo insistir
Em cantar
Água nova brotando
E a gente se amando
Sem parar

Quando chegar o momento
Esse meu sofrimento
Vou cobrar com juros, juro
Todo esse amor reprimido
Esse grito contido
Este samba no escuro

Você que inventou a tristeza
Ora, tenha a fineza
De desinventar
Você vai pagar e é dobrado
Cada lágrima rolada
Nesse meu penar

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Inda pago pra ver
O jardim florescer
Qual você não queria
Você vai se amargar
Vendo o dia raiar
Sem lhe pedir licença
E eu vou morrer de rir
Que esse dia há de vir
Antes do que você pensa

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai ter que ver
A manhã renascer
E esbanjar poesia
Como vai se explicar
Vendo o céu clarear
De repente, impunemente
Como vai abafar
Nosso coro a cantar
Na sua frente

Apesar de você
Amanhã há de ser
Outro dia
Você vai se dar mal
Etecetera e tal
Lá lá lá lá laiá

 

14.10.25

Repetição talvez

Foureaux

Pra variar, ando numa maré de preguiça que nem sei. Deve ser por conta dos 70, da hipocrisia circundante, da vilania alheia ou mesmo chatice minha mesmo. Encontrei este texto guardado e resolvi partilhar, só pra não dizer que não estou ‘postando’ (detesto este ‘verbo’!) nada... Segue o texto.

“Nós somos aquela geração que não vai voltar. Crescemos com sapatos cheios de pó, joelhos raspados e coração apressado. não para olhar para uma tela,

mas para terminar o lanche e sair correndo para a rua – onde a única coisa importante era uma bola e alguns amigos. Nós éramos os que voltávamos da escola a pé. falando alto ou sonhando em silêncio, com a mente já no próximo jogo, na próxima aventura, entre um buraco na areia e um segredo sussurrado atrás de um canto.

Um pau podia ser uma espada. Uma poça virava um mar para conquistar. Nossos tesouros eram berlindes, cromos, barquinhos de papel. E o céu, nosso único limite.

Não tínhamos backups, apenas memórias na mente e nos rolos fotográficos. As fotos eram tocadas, cheiradas, guardadas em gavetas – junto a cartas escritas à mão, postais dos avós, e desenhos coloridos que os pais guardavam como joias.

Nós chamávamos de ‘mãe’ a quem curava nossas febres e ‘pai’ que nos ensinou a andar de bicicleta. Não era preciso mais.

À noite, sob os cobertores, conversamos baixinho com o irmão na cama ao lado, rindo por besteira, com medo que algum adulto ouvisse e desligue esse pequeno mundo de cumplicidade.

Essa geração está indo, pouco a pouco, como uma fotografia que perde a cor,

mas ninguém quer jogar fora. Nós nos afastamos silenciosamente, levando uma mala invisível: o eco do riso na rua, o cheiro de pão acabado de fazer, corridas sem sentido e aquela liberdade que eu não conhecia notificações.

Nós éramos crianças quando ainda se podia ser. E talvez essa seja a nossa maior fortuna.”

(José Vergara)

 

10.10.25

Amenidades

Foureaux

Já no ritmo de fim de semana (como se minha vida, depois de maio de 2018 fosse outra coisa senão um eterno fim de semana... com a graça de Deus!), faço postagem à noite... para dormir um pouco mais relaxado com amenidade que, no mínimo, causam curiosidade... Recebi da Suzana e só retirei as figurinhas... O texto e original cuja autoria desconheço.

“Sabia dessa? 
A natureza está cheia de curiosidades impressionantes – e o corpo humano também! Olha só o que você vai aprender agora:
1. pássaros não urinam,
2. cavalos e vacas conseguem dormir em pé,
3. morcegos são os únicos mamíferos que voam e – não conseguem andar,
4. mesmo de olhos fechados, as cobras enxergam pelas pálpebras
5. o urso polar tem pele preta, apesar da pelagem branca,
6. a mosca doméstica vive apenas 2 a 3 semanas,
7. para cada humano na Terra, existe um milhão de formigas,
8. álcool em um escorpião faz ele enlouquecer e se picar até morrer,
9. tubarões e jacarés podem viver até 100 anos,
10. abelhas têm dois estômagos: um para comida, outro para o mel,
11. um elefante pesa menos que a língua de uma baleia azul,
12. a sanguessuga tem 32 cérebros,
13. a barata pode viver uma semana sem cabeça,
14. golfinhos feridos recebem ajuda imediata de outros golfinhos,
15. um caracol pode dormir por três anos,
16. o falcão peregrino é a ave mais rápida do mundo: até 390km/h,
17. uma vaca produz cerca de 200 mil copos de leite na vida,
18. gatos ao ar livre vivem em média três anos. Já os domésticos, até 16 anos ou mais,
19. tubarões não adoecem – são imunes até ao câncer,
20. o mosquito tem 47 lâminas afiadas na ponta do probóscide para perfurar a pele,
21. ovos marrons e brancos têm o mesmo valor nutricional – a cor depende apenas da raça da galinha,
22. o cérebro humano pode armazenar mais de 2,5 milhões de petabytes.”
Despois desta série ainda havia uns tantos parágrafos chatíssimos sobre perda muscular e necessidade de água, caminhada e que tais. Cortei por minha conta e risco. Se alguém não gostar, que vá reclamar com o Bispo!

09.10.25

Gratuidades...

Foureaux

Recentemente, resolvi dar uma chance ao sus. Precisei de duas consultas: urologia e ortopedia.  Segui o protocolo: marquei consulta no Posto de Saúde do bairro, aguardei a “regulação”, marquei a consulta com os “profissionais” das clínicas de que eu precisava. Daí, no dia da consulta – detalhe: meses depois –, tive que escutar certas coisas de muitas pessoas na fila de espera de atendimento. Detalhe: o urologista – que chegou quarenta minutos atrasado! – atendeu doze pessoas em iguais quarenta minutos. Um urologista! Na minha vez – não posso garantir que tenha sido da mesma forma com os demais consulentes – ele sentado estava, sentado permaneceu durante TODA a consulta. Um urologista que atende um homem e não faz exame de toque. “Pode isso, Arnaldo”! Pois é. Entre as barbaridades, bobagens, chatices e mesmices que escutei enquanto aguardava a consulta, tive que engolir em seco quando, repetidas vezes, escutei elogios ao “atendimento” e os “graças a Deus” que temos consultas gratuitas no sus. Como é que é?! Gratuitas?! Essa gente não sabe que TUDO, absolutamente TUDO é tributado?! Não existe medicina gratuita, de fato, aqui. De algum lugar, algum dinheiro sai, para “manter” a tal “saúde pública”. É de chorar. Fico triste, envergonhado, irado com isso. Imagina. Grátis?! A falta de instrução de uma população que, em grande parte não tem banheiro em casa, é alguma coisa que ultrapassa as raias do absurdo. É grosseiro, triste, vergonhoso, absurdo. Vou parar por aqui, se não acabo por escrever para o vento... Mas que é um escândalo, ah... isso é!

08.10.25

Retalhos...

Foureaux

Fazendo uma limpeza no computador, deparei-me com o texto que segue. Não é de minha autoria., por isso, as aspas. Fato é que gostei do seu conteúdo, daí a partilha. Fala de Literatura – assunto de que gosto imenso. Mesmo aposentado e, conforme o adagiário, “afastado de Deus” no que tange às lides “acadêmicas”, continuo um interessado contumaz sobre o assunto. Tomara que o tédio não tome conta dos olhos de quem se dispuser a ler...

“A ideia de senso comum cria – aparentemente de forma ‘natural’ – certo conflito. O discurso corrente sobre a literatura, que desig­na os pontos de referência para uma teorização, como acontece aqui, na abordagem de um texto constituído a partir da correspondência entre dois poetas, está sujeito, na sua base, a alguns questionamentos, haja vista o exame de pressupostos relativamente a certo número de noções fundamentais. Todo discurso sobre a literatura assume posição implícita e/ou explícita em relação a seu objeto. O ‘caso’ das cartas não é diferente.

Um balanço, um mapa, da teoria, literária seria, entretanto, concebível? E de que forma? Não seria esse um projeto abortado se, como afirma Paul de Man, ‘o principal interesse teórico da teoria literária consiste na impossibilidade de sua definição’?

A teoria não poderia, então, ser apreendida senão graças a uma teoria negativa, segundo o modelo desse Deus escondido do qual somente uma teologia negativa pode falar. Isso significa situar o horizonte alto demais, ou longe demais as afinidades, aliás reais, entre a teoria literária e o niilismo. A teoria não pode se reduzir a uma técnica nem a uma pedagogia – ela vende sua alma nos vade-mécum de capas coloridas expostos nas vitrinas das livrarias do Quartier Latin –, mas isso não é motivo para fazer dela uma metafisica nem uma mística. Não a tratemos como uma religião. A teoria literária não teria senão um ‘interesse teórico’? Não, se estou certo ao sugerir que ela e também, talvez essencialmente, critica, opositiva ou polêmica.

Porque não é do lado teórico ou teológico, nem do lado prático ou pedagógico, que a teoria me parece principalmente interessante e autêntica, mas pelo combate feroz e vivificante que empreende contra as ideias preconcebidas dos estudos literários, e pela resistência igualmente determinada que as ideias preconcebidas lhe opõem. Esperaríamos, talvez, de um balanço da teoria literária, que depois de ter oferecido sua própria definição de literatura, como definição condestável – trata-se, na verdade, do primeiro lugar-comum teórico: ‘O que é a literatura?’ –, depois de ter prestado uma rápida homenagem as teorias literárias antigas, medievais e clássicas, desde Aristóteles até Batteux, sem esquecer uma passagem pelas poéticas não-ocidentais, arrolasse as diferentes escolas que compartilharam a atenção teórica no século XX: formalismo russo, estruturalismo de Praga, New Criticism norte-americano, fenomenologia alemã, psicologia genebresa, marxismo internacional, estruturalismo e pós-estruturalismo franceses, hermenêutica, psicanalise, neo-marxismo, feminismo etc. Inúmeros manuais são assim: ocupam os professores e tranquilizam os estudantes. Mas esclarecem um lado muito acessório da teoria.

Ou até mesmo a deformam, pervertem-na; porque o que a caracteriza, na verdade, e justamente o contrário do ecletismo, e seu engajamento, sua vis polêmica, assim como os impasses a que esta última a leva sem que ela se de conta. Os teóricos dão a impressão, muitas vezes, de fazer criticas muito sensatas

contra as posições de seus adversários, mas visto que estes, confortados por sua boa consciência de sempre, não renunciam e continuam a matraquear, os teóricos se põem também eles a falar alto, defendem suas próprias teses, ou antíteses, até o absurdo, e, assim, anulam-se a si mesmos diante de seus rivais

encantados de se verem justificados pela extravagância da posição adversária. Basta deixar falar um teórico e contentar-se em interrompê-lo de vez em quando com um ‘Ah!’ um pouco debochado, para vê-lo desmoronar diante de nossos olhos!

Quando entrei no sexto ano do pequeno liceu Condorcet, nosso velho professor de latim-francês, que era também prefeito de sua cidadezinha na Bretanha, perguntava-nos a cada texto de nossa antologia: ‘Como vocês compreendem essa passagem? O que o autor quis dizer? Onde está a beleza do verso ou da prosa? Em que a visão do autor e original? Que lição podemos tirar daí?’ Acreditamos, durante um tempo, que a teoria literária tivesse banido para sempre essas questões lancinantes. Mas as respostas passam e as perguntas permanecem.

Estas são mais ou menos as mesmas. Ha algumas que não cessam de se repetir de geração em geração. Colocavam-se antes da teoria, já se colocavam antes da história literária, e se colocam ainda depois da teoria, de maneira quase idêntica. A tal ponto que nos perguntamos se existe uma história da crítica literária, como existe uma história da filosofia ou da linguística, pontuada de criações de conceitos, como o cogito ou o complemento. Na crítica, os paradigmas não morrem nunca, juntam-se uns aos outros, coexistem mais ou menos pacificamente e jogam indefinidamente com as mesmas noções que pertencem a linguagem popular. Esse é um dos motivos, talvez o principal motivo, da sensação de repetição que se experimenta, inevitavelmente, diante de um quadro histórico da crítica literária: nada de novo sob o sol. Em teoria, passa-se o tempo tentando apagar termos de uso corrente: literatura, autor, intenção, sentido, interpretação, representação, conteúdo, fundo, valor, originalidade, história, influência, período, estilo etc. E o que se fez também, durante muito tempo, em lógica: recortava-se na linguagem cotidiana uma região linguística dotada de verdade. Mas a lógica formalizou se depois. A teoria literária não conseguiu desembaraçar-se da linguagem corrente sobre a literatura, a dos ledores e dos amadores. Assim, quando a teoria se afasta, as velhas noções ressurgem intocadas. É por serem ‘naturais’ ou ‘sensatas’ que nunca não escapamos delas realmente? Ou, como pensa de Man, é porque só desejamos resistir a teoria, porque a teoria faz mal, contraria nossas ilusões sobre a língua e a subjetividade?  (...) Objetividade, gosto e clareza, Barthes assim resumia, cm Critique et Verite [Crítica e Verdade], em 1966, ano mágico, os dogmas do ‘suposto crítico’ universitário, o qual ele queria substituir por uma

‘ciência da literatura’. Há teoria quando as premissas do discurso corrente sobre a literatura não são mais aceitas como evidentes, quando são questionadas, expostas como construções históricas, como convenções. Em seu começo, também a história literária se fundava numa teoria, em nome da qual eliminou do ensino literário a velha retórica, mas essa teoria perdeu-se ou edulcorou-se a medida que a história literária foi se identificando com a instituição escolar e universitária.

O apelo a teoria é, por definição, opositivo, até mesmo subversivo e insurrecto, mas a fatalidade da teoria é a de ser transformada em método pela instituição acadêmica, de ser recuperada, como dizíamos. Vinte anos depois, o que surpreende, talvez mais que o conflito violento entre a história e a teoria literária, é a semelhança das perguntas levantadas por uma e por outra nos seus primórdios entusiastas, sobretudo esta, sempre a mesma: ‘O que é a literatura?’

Permanência das perguntas, contradição e fragilidade das respostas: dai resulta que e sempre pertinente partir das noções populares que a teoria quis anular, as mesmas que voltaram quando a teoria se enfraqueceu, a fim de não só rever as respostas opositivas que ela propôs, mas também tentar compreender por que essas respostas não resolveram de uma vez por todas as velhas perguntas. Talvez porque a teoria, a custa de sua luta contra a Hidra de Lerna, tenha levado seus argumentos longe demais e eles tenham se voltado contra ela? A cada ano, diante de novos estudantes, é preciso recomeçar com as mesmas figuras de bom senso e clichês irreprimíveis, com o mesmo pequeno número de enigmas ou de lugares comuns que balizam o discurso corrente sobre a literatura. Examinarei alguns, os mais resistentes, porque é em torno deles que se pode construir uma apresentação simpática da teoria literária com todo o vigor de sua justa cólera, da mesma maneira como ela os combateu – em vão.”

 

05.10.25

Ecos bíblicos

Foureaux

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Do nada (bem... não é bem “do nada”..., mas a força da expressão procede!). Então... do nada, apareceu na tela do meu “esperto” um vídeo em que um homem aparece numa porta perguntando onde na Bíblia está escrito que nós podemos fazer imagens (Quase literalmente isso). Faz outras perguntas, mas quero fixar-me apenas nesta. A mulher responde: “Êxodo, 25, 18”. Fiquei curioso. Procurei o tal versículo na internete. Encantado, li todo o capítulo 25 do Êxodo. O segundo livro da Bíblia: Êxodo. No Houaiss, tem-se o seguinte verbete: nome, substantivo masculino. Emigração de todo um povo ou saída de pessoas em massa; o segundo livro da Bíblia, em que se narra a fuga dos hebreus do Egito; na rubrica teatro, no antigo teatro grego, o episódio final da tragédia e/ou o final de uma comédia ou episódio cômico que se seguia à representação de uma tragédia. Claro está que fiz algumas adaptações no verbete. Nada criminoso... O que desejo partilhar é certo encantamento com o texto bíblico, sobretudo na aguda descrição dos detalhes necessários para cumprir a lei mosaica. Espero não estar incorrendo em erro histórico e/ou heresia. Só desejo partilhar meu encantamento, as dúvidas e as questões, inumeráveis, vão continuar comigo, na minha intimidade... Fique(m) com o texto bíblico:

1Disse o Senhor a Moisés:

2"Diga aos israelitas que me tragam uma oferta. Receba-a de todo aquele cujo coração o compelir a dar.

3Estas são as ofertas que deverá receber deles: ouro, prata e bronze;

4fios de tecidos azul, roxo e vermelho, linho fino, pelos de cabra;

5pe­les de carneiro tingidas de vermelho, couro, madeira de acácia;

6azeite para iluminação, especiarias para o óleo da unção e para o incen­so aromático;

7pedras de ônix e outras pedras preciosas para serem encravadas no colete sa­cerdotal e no peitoral.

8"E farão um santuário para mim, e eu habitarei no meio deles.

9Façam tudo como eu lhe mostrar, conforme o modelo do tabernáculo e de cada utensílio.

A arca

10"Faça uma arca de madeira de acácia com um metro e dez centímetros de compri­mento, setenta centímetros de largura e setenta centímetros de altura.

11Revista-a de ouro puro, por dentro e por fora, e faça uma moldura de ouro ao seu redor.

12Mande fundir quatro argo­las de ouro para ela e prenda-as em seus quatro pés, com duas argolas de um lado e duas do outro.

13De­pois faça varas de madeira de acácia, revista-as de ouro

14e coloque-as nas argolas laterais da arca, para que possa ser carregada.

15As varas permanecerão nas argolas da arca; não devem ser retiradas.

16Então coloque dentro da arca as tábuas da aliança que lhe darei.

17"Faça uma tampa de ouro puro com um metro e dez centímetros de comprimento por setenta centímetros de largura,

18com dois querubins de ouro batido nas extremidades da tampa.

19Faça um querubim numa extremidade e o segundo na outra, formando uma só peça com a tampa.

20Os querubins devem ter suas asas estendidas para cima, cobrindo com elas a tampa. Ficarão de frente um para o outro, com o rosto voltado para a tampa.

21Coloque a tampa sobre a arca e dentro dela as tábuas da aliança que darei a você.

22Ali, sobre a tampa, no meio dos dois querubins que se encontram sobre a arca da aliança, eu me encontrarei com você e lhe darei todos os meus mandamentos destina­dos aos israelitas.

A mesa

23"Faça uma mesa de madeira de acácia com noventa centímetros de comprimento, qua­renta e cinco centímetros de largura e setenta centímetros de altura.

24Revista-a de ouro puro e faça uma moldura de ouro ao seu redor.

25Faça também ao seu redor uma borda com a largura de quatro dedos e uma moldura de ouro para essa borda.

26Faça quatro argolas de ouro para a mesa e prenda-as nos quatro cantos dela, onde estão os seus quatro pés.

27As argolas devem ser presas próximas da borda para que sustentem as varas usadas para carregar a mesa.

28Faça as varas de madeira de acácia, revestindo-as de ouro; com elas se carregará a mesa.

29Faça de ouro puro os seus pratos e o recipiente para incenso, as suas tigelas e as bacias nas quais se derramam as ofertas de bebidas.

30Coloque so­bre a mesa os pães da Presença, para que este­jam sem­pre diante de mim.

O castiçal

31"Faça um candelabro de ouro puro e batido. O pedestal, a haste, as taças, as flores e os botões do candelabro formarão com ele uma só peça.

32Seis braços sairão do candelabro: três de um lado e três do outro.

33Haverá três taças com formato de flor de amêndoa num dos bra­ços, cada uma com botão e flor; e três taças com formato de flor de amêndoa no braço se­guinte, cada uma com botão e flor. Assim será com os seis braços que saem do candelabro.

34Na haste do candelabro haverá quatro taças com formato de flor de amên­doa, cada uma com botão e flor.

35Haverá um botão debaixo de cada par dos seis braços que saem do candela­bro.

36Os braços com seus botões formarão uma só peça com o candelabro; tudo feito de ouro puro e batido.

37"Faça-lhe também sete lâmpadas e coloque-as nele para que iluminem a frente dele.

38Seus cortadores de pavio e seus apagado­res serão de ouro puro.

39Com trinta e cinco quilos de ouro puro faça o candelabro e todos esses utensílios.

40Tenha o cuidado de fazê-lo segundo o modelo que lhe foi mostrado no mon­te.

 

03.10.25

Prazeres da releitura

Foureaux

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Crônica da ascensão e queda de um alpinista social. Título instigante? Muito! Provável? Sim. Adequado? Penso que não, sobretudo quando se trata de um romance monumental – como tantos outros. Estou a falar de O vermelho e o negro (Le rouge et le noir), do Stendhal. Como ponto de partida, considero o que vem escrito na página da famigerada Wikipedia. Sim, eu a consult0, a consultei e não tenho motivos razoáveis para não a consultar num futuro provável. Se alguém me apresentar tal argumento, sou capaz de abandonar esta prática... Voltando ao que interessa. O verbete da tal Wikipedia diz o seguinte: “Le rouge et le noir (O vermelho e o negro, em francês), com o subtítulo Chronique du XIX siécle (‘Crônica do século XIX’), é um romance histórico psicológico em dois volumes do escritor francês Stendhal, publicado em 1830. Costuma ser citado como o primeiro romance realista, embora imbuído de uma sensibilidade romântica e, diferindo da literatura realista em geral (em especial Balzac), seja econômico nas descrições de ambientes físicos e pessoas, preferindo se aprofundar em seus processos psicológicos, levando ao extremo o foco do narrador onisciente. A ação transcorre na França no tempo da Restauração antes da Revolução de 1830, supostamente entre 1826 e 1830, e trata das tentativas de um jovem de subir na vida, apesar do seu nascimento plebeu, através de uma combinação de talento, trabalho duro, engano e hipocrisia, apenas para encontrar-se traído por suas próprias paixões. (...) O nome da obra é motivo para controvérsias. Discute-se muito a que Stendhal se referia com o ‘vermelho’ e o ‘negro’. Muitos atribuem o negro a cor da batina do herói e o vermelho ao sangue lavado, mas há outras interpretações que também podem ser citadas como a razão para o nome. O que reforça a dúvida é que em certas ocasiões, conclamam que o nome O vermelho e o negro, vem do vermelho da antiga farda vermelha (que depois tornou-se azul-claro) dos franceses e o negro da batina dos padres, demonstrando a principal dúvida de Julien: “revelar-se nobre e ter ascensão rápida e garantida na hierarquia religiosa, ou continuar mundano sob as mesmas circunstâncias na vida militar”. Essa é uma interpretação para a aceitação de um jovem de origem humilde nos meios sociais de maior vulto e influência.” O verbete continua, mas o que me interessa está aqui. Vamos por partes. De cara, uma chatice. Ao afirmar que O vermelho e o negro pode ser considerado ‘o primeiro romance realista, embora imbuído de uma sensibilidade romântica e, diferindo da literatura realista em geral’, eu poderia dizer que isso é uma grandessíssima bobagem. Não é. O fato é que reduzir a leitura de um romance como o de que trato aqui a estes parâmetros ‘classificatórios’ é imperdoável. Claro está que a periodização é importante e desempenha seu papel didático no estudo da Literatura, seja qual for a sua nacionalidade. No entanto, este texto de Stendhal, como tantos outros, transcendem essas mesmas periodizações, ainda que deles sejam feitos reféns por gente rasteira e sem perspectiva.  A aproximação com Balzac, irrecorrível, dá vantagem a Stendhal. Reservo-me o direito de ter por Balzac, opinião bem firme: um chato (como tantos outros). O detalhismo dele me cansa, entendia. Há peças memoráveis, por evidente, mas é um chato por conta do citado detalhismo. Além disso, a narrativa de Stendhal se alimenta dos miasmas napoleônicos de que ressente a cultura francesa (será que um dia livrar-se-á dela?). O caráter sociológico de que se reveste o desempenho do protagonista, Julien Sorel, ultrapassa o estreito limite da “crônica social”, como o referido verbete também anuncia. O enredamento de questões sociais, política, econômicas e religiosas formam um primoroso bordado da sociedade francesa coetânea do período recoberto pelo romance. Ba ficção, o escritor francês faz cortes cirúrgicos, notadamente em abcessos de hipocrisia dos quais a mesma sociedade se alimenta e deles se vangloria. Mais um dos paradoxos que a Literatura costuma construir, desvelar e, em muitos casos, demolir. De mais a mais, os envolvimentos amorosos de Julien Sorel escapam galhardamente de armadilhas românticas que tanto notabilizaram outros escritores do mesmo idioma. Ocorre-me, por acaso, Alexandre Dumas, com o seu O conde de monte Cristo. De igual maneira, em outro diapasão, Os miseráveis, de Victor Hugo. A lista é inumerável. De qualquer forma, a releitura deste romance me trouxe uma satisfação enorme. O gosto pela “alta literatura”, para Lembrar Leyla Perrone-Moisés é insaciável e encontra nos famigerados “clássicos” alimento inesgotável. Sei que sou um chato, mas gosto de ler, fazer o quê...!

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