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As delícias do ócio criativo

As delícias do ócio criativo

31.01.25

Palavras e imagens

Foureaux

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Reli Dom Quixote. E ri muito. O livro é mesmo engraçado. À parte o fato da tradução do aquilino Ribeiro ter expressões um tanto esdrúxulas, gostei. Foi uma leitura mais deleitosa. Já o havia lido outras duas vezes, em traduções diferentes. Não fosse o cartapácio que é, me atreveria a traduzi-lo, tentando empregar linguagem mais leve, menos literal e, tanto quanto possível, longe de purismos e idiossincrasias peculiares. Tarefa quase impossível, mas fico com a releitura, por enquanto. Paralelamente, li um livro de que já havia ouvido falar e, até já tinha lido alguma coisa acerca dele mesmo: Terra dos homens (Gallimard, 1939), do Antoine Saint-Exupéry. Na edição que li (Clube de Literatura Clássica), quem faz a apresentação (Rodrigo Bravo) diz o seguinte: “Terra dos homens é um daqueles livros cujo gênero é de difícil definição. Não se trata de um romance propriamente dito com personagens bem delineados e história provida de começo, meio e fim. Também não se trata puramente de um ensaio filosófico aos moldes de Sêneca, Kant ou Heidegger. Situa-se no limiar entre ambos, de modo que a crítica literária cunhou o termo relato lírico para tentar dar conta de sua complexidade. A obra traz uma reflexão sobre as experiências do autor como pioneiro da aviação nos anos 20 e 20 (...).” Vou ficar só com esse pedaço de citação. Minha chatice não aguenta seguir em frente. Ora, quer dizer que para ser um romance tout court é necessário ter “personagens bem delineados e história provida de começo, meio e fim”? Em primeiro lugar, para quê reduzir a leitura de um texto à busca de “definição” de seu gênero. O prazer da leitura (vide Rubem Alves) se perde completamente no cipoal que esta busca cria... Por outro lado, quem garante que a presença dos elementos citados pelo apresentador é suficientes para a “definição” de um “gênero”? Para além disso, o cacoete “acadêmico” diz “presente” neste minúsculo trecho quando se depara com o verbo “provido”, adequadamente flexionado pelo jargão rançoso e sebento de uma crítica que visa o mercado e a instituição, em lugar de se dedicar a seduzir o(s) leitor(es). Como eu disse, minha chatice não aguentou ir adiante com a citação.  E mais, adoro aspas: elas dizem muito mais do que muitas palavras... adiante. Umdos trechos interessantes do livro – para além de todo o conjunto de observações, circunlóquios, solilóquios e pensamentos que deslizam elas páginas como aragem em tarde de verão – pode ser (até) utilizado para sustentar o argumento de que o texto é contemporâneo, mas deixo isso para os que lerem o livro do escritor francês. cada um sabe de si. O trecho a que me refiro é o seguinte:

 

“Podemos classificar os homens em homens de direita e homens de esquerda, em corcundas e não corcundas, em fascistas e democratas, e essas distinções são inatacáveis. Mas a verdade, como você sabe, é aquilo que simplifica o mundo, e não o que cria o caos. A verdade é a linguagem que alcança o universal. Newton não “descobriu” uma lei por muito tempo dissimulada, como se fosse a solução de um enigma; Newton efetuou uma operação criadora. Fundou uma linguagem humana que pôde exprimir tanto a queda da maçã no chão quanto a ascensão do sol. A verdade não é o que se demonstra, é o que simplifica.

Para que serve discutir ideologias? Se todas podem ser demonstradas, todas também se opõem, e discussões como essas levam a desesperar da salvação do homem. Ao passo que o homem, em todos os lugares, ao nosso redor, revela as mesmas necessidades.

Queremos ser libertados. Quem golpeia o chão com uma picareta quer saber o sentido desse golpe de picareta. E o golpe de picareta do condenado, que humilha o condenado, não é o golpe de picareta do minerador, que engrandece o minerador. A prisão não é onde os golpes de picareta são dados. Não é um horror material. A paixão é onde os golpes de picareta não têm sentido, não unem quem os dá com a comunidade dos homens.

E todos nós queremos fugir da prisão.”

Confesso que o trecho não é dos meus preferidos. No entanto, fiz questão de escolhê-lo para provocar quem, por acaso, me ler. Não subscrevo a falácia de que tudo que tem quer politizado, no sentido de marcação ideologicamente tendenciosa do discurso. Mas é só uma provocação.

Mudando de direção, vi um filme delicadíssimo. O que ele tem de delicado tem também de forte, contundente, avassalador por dois motivos: a presença de dois atores de impecável talento e irrecorrível valor: Glenda Jackson e Michael Caine. Ambos desempenham papéis condizentes com sua idade real. O segundo motivo é o tratamento dado ao plot do filme: o desejo de superação de traumas, muitas vezes, recalcados por vontade própria, em nome de um equilíbrio que se perde, por desnecessário: mas só se percebe isso quando o tempo passa. A história de um homem idoso que volta ao ponto de viragem de sua vida sob o pretexto de participar das comemorações dos 70 anos do “Dia D”. De fato, esta é apenas a válvula de escape para o verdadeiro drama que se desenvolve em atuações simplesmente irretocáveis – como não podia deixar de ser. Estou falando de A grande fuga (The great escaper, no original), de 2023, dirigido por Oliver Parker. Um filmaço. Como eu disse, de uma delicadeza contundente. Vi na Netflix e recomendo – ainda que eu saiba, de antemão que “recomendações” são sempre falhar, discutíveis e, quase sempre, inúteis. Mas... vá lá...!

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20.01.25

Humor e inteligência: dulpa imbatível

Foureaux

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Antecipando o que vai ser a série de envios de mensagens de bom dia para minha agenda de WhatsApp no ano que vem, hoje compartilho algumas frases atribuídas a Millôr Fernandes – porque a gente não pode mais ter certeza absoluta de nenhuma informação oriunda da “rede” ... infelizmente! Gosto dele, sempre gostei, desde os tempos da VEJA, quando esta revista ainda era legível, assim como na ISTOÉ. Os gloriosos tempos d’O pasquim também estão em meu background. Homem inteligente de fino e raro humor, sagaz em suas observações e destemido em suas assertivas, o jornalista agrada e desagrada a muita gente como soe acontecer. Só para dar um gostinho, seguem algumas de suas (atribuídas) pérolas.

“Se você acha que está maluco é porque não está. Mas, se você acha que todo mundo está maluco, então está.”

“Natação e Automobilismo: Tenho absoluta incapacidade de admirar um homem apenas porque ele é melhor do que o outro um centésimo de segundo.”

“O pior não é morrer. Pior é não poder espantar as moscas.”

“Inúmeros artistas contemporâneos não são artistas e, olhando bem, nem são contemporâneos.”

“A verdadeira amizade é aquela que nos permite falar, ao amigo, de todos os seus defeitos e de todas as nossas qualidades.”

“Gastronomia é comer admirando as estrelas.”

“As pessoas que falam demais, mentem sempre, porque acabam esgotando seu estoque de verdades.”

“Com muita sabedoria, estudando muito, pensando muito, procurando compreender tudo e todos, um homem consegue, depois de mais ou menos quarenta anos de vida, aprender a ficar calado.”

“Viva o Brasil onde o ano inteiro é primeiro de abril.”

“Anatomia é uma coisa que os homens também têm, mas que, nas mulheres, fica muito melhor.”

“Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos bem”

“Dizem que quando o Criador criou o homem, os animais todos em volta não caíram na gargalhada apenas por uma questão de respeito.”

“Na poça da rua o vira-lata lambe a lua”

“Certas coisas só são amargas se a gente as engole.”

“Criança é esse ser infeliz que os pais põem para dormir quando ainda está cheio de animação e arrancam da cama quando ainda está estremunhado de sono. “

“Esnobar é exigir café fervendo e deixar esfriar.”

“Olha, entre um pingo e outro a chuva não molha.”

“Chato...Indivíduo que tem mais interesse em nós do que nós temos nele.”

“A ocasião em que a inteligência do homem mais cresce, sua bondade alcança limites insuspeitados e seu carácter uma pureza inimaginável é nas primeiras 24 horas depois da sua morte.”

“É porque ninguém gosta de trabalhar que o mundo progride.”

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16.01.25

Poesia

Foureaux

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Ia (do verbo "não vou mais"...!) partilhar hoje um texto do Arnaldo Jabor que a Glória, amiga dileta, enviou-me ano passado, ainda em outubro. Desisti quando ouvi a declamação do poema que segue no youtube. Gosto imenso de Fernando Pessoa, sobretudo de três de seus quatro mais afamados heterónimos (como se escreve por lá, do outro lado do grande lago): Alberto Caeiro, Álvaro de Campos – preferidíssimo – e o ortônimo, por suposto.). Há sempre uma beleza invulgar em versos tão aparentemente banais e rasteiros. Há que ter olhos de ver e ouvidos de ouvir, porque poesia é Literatura para se ler em voz alta, sempre! Uživati!

 

Ah; querem uma luz melhor que a do sol!

Querem campos mais verdes que estes!

Querem flores mais belas que estas que vejo!

A mim este sol, estes campos, estas flores contentam-me.

Mas, se acaso me descontento,

O que quero é um sol mais sol que o sol,

O que quero é campos mais campos que estes prados,

O que quero é flores mais estas flores que estas flores —

Tudo mais ideal do que é do mesmo modo e da mesma maneira!

Aquela coisa que está ali estava mais ali que ali está!

Sim, choro às vezes o corpo perfeito que não existe.

Mas o corpo perfeito é o corpo mais corpo que pode haver,

E o resto são os sonhos dos homens,

A miopia de quem vê pouco,

E o desejo de estar sentado de quem não sabe estar de pé.

Todo o cristianismo é um sonho de cadeiras.

E como a alma é aquilo que não aparece,

A alma mais perfeita é aquela que não apareça nunca —

A alma que está feita com o corpo

O absoluto corpo das coisas,

A existência absolutamente real sem sombras nem erros

A coincidência exacta (e inteira) de uma coisa consigo mesma.

 

(12-4-1919 – “Poemas inconjuntos”. Poemas Completos de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa – Recolha, transcrição e notas de Teresa Sobral Cunha – Lisboa: Presença, 1994.) 1ª versão inc.: Poemas de Alberto Caeiro. Fernando Pessoa. (Nota explicativa e notas de João Gaspar Simões e Luís de Montalvor. Lisboa: Ática, 1946.)

 

15.01.25

De um filme...

Foureaux

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Para além da Literatura, filmes são outro assunto que me encanta e fascina. Não sou exatamente um cinéfilo, mas gostava de ir a “cinemas”. Hoje, isso não existe mais. Há salas de projeção em centros de compra, o que é bem, mas bem diferente mesmo. Já perdi a vontade e, atualmente, vivendo no litoral, numa cidade em que ainda sequer se sonha em ter um centro de compras, que dirá um cinema... é impossível. No entanto, graças à tecnologia avançada e sempre em desenvolvimento, é possível ver filmes na televisão, no computador e até no celular para quem tem pachorra suficiente para tanto... O texto de hoje é a literal reprodução de outro de autoria alheia: Rafael Lima ((8) Facebook) – o link, apesar de estranho funciona, pelo menos, funcionou na minha tentativa! O rapaz é ex-aluno de um ex-aluno meu, o Gerson Roani, hoje professor titular de Literatura Portuguesa em Viçosa. amigo dileto. Rafael comenta o filme que está em todas as bocas de matildes: Ainda estou aqui. Não vi o filme. Não vou ver o filme. No entanto, creio ainda ter o direito de corporificar ideias que me vêm quando embarco na maré de comentários – entre eles, alguns estapafúrdios, como soe acontecer – que pululam por aí. Gosto da atriz principal, apenas como comediante. Vi, com ela e a mãe, uma peça em Santa Maria-RS, nos idos de 90 do século passado, uma peça dirigida por um tal de Geral Thomas – com quem a dona foi casada –, então enfant terrible da “cena dramatúrgica” de bruzundanga – The flash and crash days. É preciso dizer mais? Depois, vi um filme dirigido por Walter Salles – Terra estrangeira. A atriz, competente, como comediante, não me atraiu nem um pouco então. Hoje, à continuação, segue não me chamando a atenção. O texto do Rafael é brilhante. Direto, contundente, sincero. Agradou-me imenso. Republico-o com a autorização do autor sem mexer em, sequer, uma linha. Leiam-no:

“Se há um traço característico que resume a ideologia como pretenso recurso de conhecimento universal é o de que, fechada em si mesma, ela tem de, necessariamente, ignorar as contradições da realidade, reduzindo à rés do chão, num discurso fechado e linear, toda a complexidade das relações entre os entes.

Dessa forma, como esforço de abstração cujo fundamento teórico está deslocado da experiência real e imediata, ela vale tão somente como simulacro de interpretação da realidade, que engana e confunde.

A distância abissal entre a euforia da caviar gauche e a indiferença do grande público em relação à premiação de Fernanda Torres em “Ainda estou aqui” (2024) é só mais um episódio da tragicomédia que é a bolha de auto lisonja da esquerda nacional.

O hiato entre a fixação monolítica da esquerda com a ditadura e o que pensa o povo é o que distingue quem enxerga o mundo como ideia, e quem acredita no que veem os próprios olhos.

O esforço já quase secular da militância de superdimensionar os excessos do regime militar não condiz em quase nada com a percepção popular dos acima de 50 anos.

Abaixo disso, cabe dizer, a opinião interessa pouco. É assunto que exige menos “estudo” e mais, digamos, “entrevista”.

Os exageros e brutalidades foram todos registrados em tempo real. Não temos um “arquivo de Moscou” para chamar de nosso. Também não teremos os “julgamentos-espetáculo”.

Está tudo aí. Correu tudo à luz do dia. E o que escoou para os “porões” em 20 anos é menos do que o que acontece numa única favela do RJ enquanto essas mal traçadas são lidas.

As vergonhas militares foram estampadas em papel jornal, timbrado e sulfite. Constam nas hemerotecas, bibliotecas e nos autos. Nos altíssimos.

Por isso o desencanto. O sujeito respira fundo, e diz “é, teve uns excessos, umas grossas sacanagens, mas todos os indenizados já estão ricos.

Aliás, a República nasce de um golpe, né, o fenômeno Getúlio Vargas nasce de um assassinato e em sua ditadura, houve lá também umas queimas de arquivo.

Ano passado mataram uns 50mil, o filho do meu amigo do banco está numa cadeira de rodas por causa de um celular, e em 2007 roubaram meu carro. Mas ninguém liga, então vida que segue”.

Por outro lado, há ainda a maioria da população afastada dos grandes centros para quem os militares eram apenas figuras empombadas, ora proferindo disparates em coletivas, ora encarnando o exemplo de cidadão em atos cívicos.

Isso tudo pela tevê. Isso, para quem tinha tevê.

Causa espécie que a claque que tomou de assaltado a sala de comando da educação e da inteligência nacionais, muito ciosa de sua consciência social, seja incapaz de fazer um exercício de sociologia de ensino fundamental e notar que boa parte do país até meados dos anos 90 era uma espécie de cenário de Roque Santeiro ou de romance de Graciliano Ramos.

Era um microcosmo ordinário, provinciano, com aspirações modestas e cujas angústias não chegavam a ultrapassar os limites de sua própria cidade.

Veja-se como é comum que as gerações passadas saibam o nome dos colegas do primário, do padeiro, do borracheiro, do sapateiro, do médico, do barbeiro, da telefonista, da costureira de sua região.

Se um soldado passasse na rua, é provável que lhes pedisse um cigarro.

Cenário bem distinto da zona urbana, naquele tempo ainda mais tímida e limitada ao eixo RJ-SP, em que a Editora Civilização Brasileira, o Largo São Francisco, a Faculdade Nacional de Direito e tutti quanti ditavam o tom da conversação nas redações, nas cátedras e nos botecos, fazendo ferver os corações e mentes para a guerra cultural, ao passo que o grande público dançava ao som da jovem-guarda.

Não mudou muito. O interior, as cidadelas, os distritos e vilas continuam limitados, ora reverberando um iberismo inconsciente já sem origens, ora francamente matuto, cru e materialista. Mas sempre provinciano, apesar do celular, da Internet e da conurbação.

É como no poema de Drummond:

Eu não vi o mar.

Não sei se o mar é bonito,

não sei se ele é bravo.

O mar não me importa.

 

Eu vi a lagoa.

A lagoa, sim.

A lagoa é grande

E calma também.

 

Na chuva de cores

da tarde que explode

a lagoa brilha

a lagoa se pinta

de todas as cores.

Eu não vi o mar. Eu vi a lagoa.

Habituado aos limites da sua aldeia, a imensidão e a complexidade das cidades são para o homem do interior um mundo estranho, difícil de desvendar e até mesmo assustador.

Continuamos uma grande roça com ilhas de concreto e alguma sofisticação burguesa, onde a vaidade esquerdista do tapete vermelho bancado por banqueiro tem pouco ou nenhum valor.

É como se todos já tivessem assistido sem nem saber do que se trata.

Mas é significativo que, passados 40 anos do fim do regime militar, a bolha rica da cultura engajada tenha congelado no tempo, reacionária como não poderia deixar de ser, pois tratar do Brasil daí para diante, seria tratar do projeto de destruição que impuseram ao país.

Agora, o beautiful people, em sua alienação comunitária, renova o ânimo para mais 50 anos de pedantismo quixotesco, enquanto o povão cravejado de balas e polvilhado em cocaína, vai afundando ao som de “Nóis Vai Descer”.”

14.01.25

Mais do mesmo

Foureaux

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Comecei o ano com uma postagem sobre Literatura. Não adianta, a preguiça não desgruda. Já na segunda postagem de 25, vai uma cópia. Talvez cópia da cópia para alguém que já conhece o texto. Gostei. Já conhecia outro, parecido. É dessas curiosidades que a gente vê e cinco minutos depois se esquece. Mal não faz...

“CARTA COM NOMES DE CIDADES MINEIRAS!

Querida MARIANA, nesta VIÇOSA manhã, escrevo-lhe para dizer que nossa prima LEOPOLDINA, ESPERA FELIZ, seu primeiro filho, que se for homem chamará ASTOLFO DUTRA e JANUÀRIA se for mulher, enquanto ela aguarda seu rebento, lava roupa tranquilamente nas BICAS existentes em um RIO NOVO que passa pelas terras de DONA EUZÉBIA, naquele LARANJAL, perto de CAPELA NOVA, onde na hora do RECREIO, a meninada sobre a PONTE NOVA pesca LAMBARI e PIAU neste BELO HORIZONTE, nos verdes PRADOS de nossa terra, neste ambiente FORMOSO, contemplo também pela madrugada a ESTRELA D'ALVA, vou lhe dar uma grande notícia, perto de ENGENHO NOVO, naqueles buracos cheio de FORMIGA, um empregado nosso descobriu OURO BRANCO e OURO PRETO, portanto será uma NOVA ERA e uma BOA ESPERANÇA para todos nós, depois desta CONTAGEM de fatos de nossa família falarei de nossa cidade, chegou aqui um JUIZ DE FORA, mas o CONSELHEIRO LAFAIETE pediu ao GOVERNADOR VALADARES, para interceder junto ao PRESIDENTE BERNARDES para efetivar naquele cargo o SENADOR FIRMINO, que muito fez por nós quando por ele foi DESCOBERTO juntamente com o CORONEL PACHECO, a famosa LAGOA SANTA, depois daquela VOLTA GRANDE da fazenda POUSO ALEGRE, amanhã vou apanhar meu primo para irmos à praia em MAR DE ESPANHA, depois iremos a um baile da banda opus 6 no clube cravo vermelho em SABARÁ

Sem mais para o momento

MATIAS BARBOSA”

(Desconheço a autoria)

13.01.25

Mais um retorno

Foureaux


Voltando a falar do que eu mais gosto: Literatura. Estou relendo dois livros fundamentais para qualquer leitor: O pequeno príncipe e Dom Quixote. Os dois fazem parte do acervo do Clube de Literatura Clássica de que sou assinante. O primeiro veio como brinde da publicação de Terra dos homens, do mesmo Antoine de Saint-Exupéry. O segundo, nova edição a partir da tradução de Aquilino Ribeiro. Joias preciosíssimas! As releituras têm revelado, uma, surpresa, outra, confirmação. O pequeno príncipe tem me surpreendido, sobretudo por seu início. A passagem em que o aviado conhece o príncipe e, numa conversa bastante reveladora vai trocando primeiras impressões. É quando os desenhos aparecem e é aí que, para mim, reside a surpresa. Quando li o livro pela primeira vez, confesso, estava embalado pela “onda” editorial de então. (Tenho 69 anos incompletos, logo, é possível imaginar o que era isso quando eu tinha meus 11 ou 12!). A sequência de diálogos acerca do desenho, nesta releitura abriu-me todo um horizonte de expectativas para o livro. Há ali, penso agora, o desenvolvimento de princípios filosóficos sobre a existência, a realidade e o sentido dos símbolos que chega bem perto de Kant, Sartre (e todo o time de existencialistas, Freud e, acrescentaria, Wittgenstein. Não vou desenvolver as teses de cada um desses. Meu propósito, aqui, é provocar quem me ler. Sempre foi. O fruto de minha leitura, agora, é perceber as possibilidades de ilações desse tipo. Claro que posso estar enganado, mas a impressão prevalece. De outro lado, o livro de Cervantes é a confirmação das impressões que ficaram de duas leituras anteriores. A primeira, fragmentos, trechos. A segunda, completa. A ironia, a desfaçatez, o humor e a sagacidade do escritor espanhol continuam a espantar e admirar. Nada se compara à leveza jocosa com que o narrador vai apresentado as presepadas que o cavaleiro andante apronta e as enrascadas em que envolve seu fiel escudeiro. Diferentemente de Grande sertão: veredas e Os lusíadas, dois cartapácios de similar volume, Dom Quixote diverte e ensina, informa e descreve, narra e deslinda o espírito humano localizado no tempo e no espaço sem deixar de se projetar num infinito referencial que o transforma num clássico. Os outros dois cartapácios, como já disse antes, são de uma chatice imensurável, verdadeiros muros de dificuldade de leitura. No entanto, ao adentrar o palácio de beleza que os textos constroem, toda dificuldade se desfaz e o prazer, então, é igualmente imensurável.

07.01.25

Impertinência

Foureaux

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Como soe acontecer, ano novo blogue de cara nova. Mudei a configuração dos três blogues que mantenho a duras penas. Já lá se vão quase 20 anos. Já tive mais de oito blogues. resolvi reduzir para os três que mantenho: Blogger, Sapo e Wordpress. Já estou pensando em reduzir tudo a um só. O número de leitores que supostamente tenho parece não justificar a manutenção dos três. Não sei como averiguar isso e, pra ser sincero, estou me lixando. Lê quem quer. Vai-se saber o motivo. E fico feliz em saber que ainda tenho leitores...Isso mesmo: blogue, com “gue”, porque eu falo PORTUGUÊS e não assimilo muito bem esses anglicismos enfadonhos, estereotipados, rasos, chatos e sem graça. Minha chatice aumentou exponencialmente com a chegada de 2025. Já vou avisando para que depois não digam que estou insuportável, porque estou muito próximo disso. Para primeira postagem resolvi publicar um diálogo, como vai se ver. Os nomes dos interlocutores estão abreviados para salvaguardar suas identidades. Nos tempos que correm, a gente não pode “dar nome aos bois”, é quase uma heresia na mundividência de burundanga e seus aborígenes. A palavra-chave aqui – como está no título da postagem – é impertinência. No Houaiss aparece o seguinte:

“n substantivo feminino

1      qualidade do que é impertinente

2     ato, gesto ou dito de impertinente

2.1  intervenção não relacionada ao assunto tratado; despropósito

Ex.: seu aparte foi uma i.

2.2  atitude importuna; inconveniência

Ex.: a i. de alguns bajuladores

2.3  falta de respeito; insolência, incorreção

Ex.: tinha que suportar as i. do parente que o sustentava

3     mau humor; rabugice Ex.: deve-se relevar a i. das pessoas idosas

Reproduzi literalmente e não aponho sequer um comentário. deixo isso para aqueles que tiverem a paciência de fazê-lo. Vamos ao diálogo. Ele se seguiu a uma publicação de anúncio proposto por uma professora da usp que responde pelo nome de Marilena Chauí. Confesso que escrevi o nome dela com iniciais maiúsculas apenas em respeito à Língua Portuguesa...

BB: Não perco meu tempo com esta “senhora”. Tenho coisas muito mais interessantes, proveitosas e sérias a fazer!

SRT: BB, realmente deve ter algo seríssimo para fazer! Ler as obras completas do astrólogo terraplanista Olavo de Carvalho, por exemplo, o expoente máximo do “pensamento” bolsonarista!

BB: SRT, se eu fosse bolsonarista… até poderia pensar nisso, mas você se equivocou: não me rebaixo a esse tipo de chancela, típico da ausência de argumentação séria e saudável! Que papai noel seja bonzinho com você…

SRT: BB, a filosofia é para aqueles que têm tempo para pensar e apreciar o pensamento. Com certeza você é daqueles que acha que a filosofia é perfumaria, algo sem importância para a vida. E supostamente seja alguém de direita que não quer ouvir um… 

BB: SRT, que raciocínio raso, raivoso e estereotipado o seu! Não há como sequer pensar em diálogo diante de seus “argumentos”. Pena que essa situação grasse por aí…

(Verifique, no dicionário, o termo “grasse” – flexão do verbo “grassar” …

SRT: BB, você nega de antemão até tomar conhecimento do que Marilena Chaui tem a dizer, num tom de desqualificação total do seu pensamento, e eu é que sou raivoso? Apenas fui crítico...

BB: SRT, não “desqualifiquei” ninguém. Leia com atenção minha primeira mensagem. Você não me conhece, portanto, não tem condições de entender meus motivos. Fui aluno “dela” por dois semestres. Não gostei “DELA”. Punto i basta!

Pensem o que quiserem...

 

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