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As delícias do ócio criativo

As delícias do ócio criativo

Novembro 24, 2024

Foureaux

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A postagem de hoje é uma homenagem a um amigo querido que, como diz o adagiário popular, foi desta para melhor, o Gilberto Fladimar Viana. Foi Diretor do Gabinete de Pesquisa do Cal – Centro de Artes e Letras – da UFSM, que eu, íntima e jocosamente, chamava de universidade federal sado masoquista. Trabalhei cinco anos nesta universidade localizada em Santa Maria-RS. Dos cinco anos, quatro foram de convivência quase diária com o “negão”, como a gente costumava se dirigir a ele, com amizade, afeto, respeito, reconhecimento, alegria e desconcentração. Os tempos eram outros. A patrulha da ignorância e da chatice ainda não tinham alcançado a adolescência... de lá pra cá, regrediram... mas isso é uma outra história. O Gilberto... churrasqueiro de marca, aplicado, responsável e alegre. Deixa saudades. Pare ele, minha singela homenagem...

 

Quando vier a primavera, 
Se eu já estiver morto, 
As flores florirão da mesma maneira 
E as árvores não serão menos verdes que na primavera passada. 
A realidade não precisa de mim.

Sinto uma alegria enorme 
Ao pensar que a minha morte não tem importância nenhuma.

Se soubesse que amanhã morria 
E a primavera era depois de amanhã, 
Morreria contente, porque ela era depois de amanhã. 
Se esse é o seu tempo, quando havia ela de vir senão no seu tempo? 
Gosto que tudo seja real e que tudo esteja certo; 
E gosto porque assim seria, mesmo que eu não gostasse. 
Por isso, se morrer agora, morro contente, 
Porque tudo é real e tudo está certo.

Podem rezar latim sobre o meu caixão, se quiserem. 
Se quiserem, podem dançar e cantar à roda dele. 
Não tenho preferências para quando já não puder ter preferências. 
O que for, quando for, é que será o que é.

 

CAEIRO, AlbertoPoesia (Poemas Inconjuntos), ed. Fernando Cabral Martins, Richard Zenith. Lisboa: Assírio & Alvim, 2001, p. 109

 

Novembro 12, 2024

Foureaux

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Mais um dia sem a menor vontade de escrever algo inventivo. De mais a ais, pra quê? Vai ficar por aí mesmo, tomando poeira, chá de indiferença, injeção de esquecimento. É assim mesmo. Sendo assim, na limpeza que ocasionalmente faço, encontrei a bobagem que segue. Ri um pouco, é verdade. Então partilho, já sabendo que muitos narizes hão de se torcer... Que pena, não posso fazer nada... Ria... se puder!

Frases do dia!

Os políticos brasileiros, são os mais católicos do mundo.... Não assinam nada sem levar um terço.

Os assaltos continuam e em cada pedaço de terra deste imenso Brasil, eles são praticados de forma diferente.

Tipos de assaltantes: mineiro – ô, prestenção. issé um assarto, uai. Levantus braço e fiketin quié mió prucê. Esse trem na minha mão tá chein de bala... Mió passá logo os trocado que eu num to bão hoje. vai andano, uai ! Tá esperanuquê, sô?; bahiano – Ô meu rei... (pausa) Isso é um assalto... (longa pausa) Levanta os braços, mas não se avexe não... (outra pausa) Se num quiser nem precisa levantar, pra num ficar cansado. Vai passando a grana, bem devagarinho (pausa pra pausa) Num repara se o berro está sem bala, mas é pra não ficar muito pesado. Não esquenta, m u irmãozinho, (pausa) Vou deixar teus documentos na encruzilhada; carioca – Aí, perdeu, mermão! Seguiiiinnte, bicho. Isso é um assalto sacô? Passa a grana e levanta os braço rapá... Não fica de caô que eu te passo o cerol... Vai andando e se olhar pra trás vira presunto...; paulistano – Ôrra, meu... Isso é um assalto, meu. Levanta os braços cara.. Passa a grana logo, meu. Mais rápido, meu, que eu ainda preciso pegar a bilheteria aberta pra comprar o ingresso do jogo do Coríntia, meu... Pô, agora se manda, meu; gaúcho – Ô guri, ficas atento .. isso é um assalto. Levanta os braços e te aquieta, tchê ! Não tentes nada e cuidado que esse fação corta uma barbaridade, tchê. Passa as pilas prá cá ! E te manda, senão o quarenta e quatro fala; de Brasília – Querido povo brasileiro, estou aqui no horário nobre da TV para dizer que no final do mês, aumentaremos as seguintes tarifas: energia, água, esgoto, gás, passagem de ônibus, imposto de renda, licenciamento de veículos, seguro obrigatório, gasolina, álcool, IPTU, IPV A, IPL, ICMS, PIS, COFINS...

Novembro 06, 2024

Foureaux


Na postagem de ontem, esqueci-me, de acrescentar comentário sobre o que afirmei acerca dos dois primeiros versos do poema do Antônio Cícero: “No dia em que fui mais feliz / eu vi um avião cruzar o seu olhar até sumir”. Estou assumindo a ideia de que se trata de dois versos apenas. Como letra de música, na gravação de Adriana Calcanhoto (aliás, vou perguntar ao professor google se mais alguém gravou a mesma canção que faz jus ao poema), dependendo do site em que aparece podem ser mais versos, como por exemplo “No dia em que fui mais feliz / eu vi um avião / cruzar o seu olhar até sumir”, ou ainda “No dia em que fui mais feliz / eu vi um avião cruzar o seu olhar / até sumir”. Ao fim e ao cabo, a posição dos versos, aqui, não importa. A forma definitiva está no livro do poeta, já publicado. Quem quiser que o consulte. O que desejo expressar é a confirmação de minha assertiva. Trata-se, a meu ver, da mais acachapante declaração de amor de que tenho notícia. Vejam, que disse “acachapante”, não disse “única” ou “definitiva”. Porque as opiniões são diversas... e mudam. As interpretações não se prendem a grilhões ideológicos e cada um lê como quer, porque o poeta não pode, isso, controlar. Então... A imagem criada por Antônio Cícero fala de um fenômeno ao qual pouco se presta atenção. O avião que cruza o céu é percebido pelo eu lírico nos olhos de quem está à sua frente ou ao seu lado, não importa. Na leitura que faço, os olhos são do ser amado que olha para o céu e vê o avião. O eu lírico olha para o olho de seu/sua amado/a e vê neles o reflexo do avião que cruza o céu. se isto não é lindo, não sei o que é. Se isso não expressa amor infinito, inclusive pela ilação possível com “céu”, também, não sei do que se trata. Lacan já dizia que o sujeito deseja ser o que ele vê refletido nos olhos de sua mãe, no momento da amamentação. Disse isso, em outras palavras, de outra forma, mas, salvo equívoco meu, foi isso que ele disse. Logo, no poema, Antônio Cícero, tendo ou não procurado saber do que disse Lacan antes de escrever o poema, diz, em outras palavras, a mesma coisa. A analogia procede, tanto que é possível pensar que, inconscientemente, o poeta já percebe o que explicou o psicanalista – mesmo que, cronologicamente, a ordem não seja esta. De qualquer maneira, resta afirmar, confirmar e asseverar a beleza dos versos e sua acachapante forma de declaração de amor. E tenho dito!

PS: falando em poesia, recebi de uma amiga virtual (Natalia Castelluccio) um acróstico para o mês de novembro, em três línguas (Adoro tradução e suas artimanhas, suas surpresas e suas epifanias!). Fiz algumas adaptações, que julguei necessárias, e compartilho:

ACROSTICO DI NOVEMBRE

Nuove
Occasioni
Vibrano
Eternamente
Mentre
Bramiamo
Regole
Eccezionali
NOVEMBER
’s ACROSTIC
New
Occasions
Vibrate
Eternally
Meanwhile
Be craved
Exceptional

Rules
ACROSTICHE DE NOVEMBRE

Nouveau

Occasions

Vibrent

Éternellement

Momentanément

Bavardons

Règles

Exceptionnels

Novembro 05, 2024

Foureaux

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Quando dei aulas sobre Literatura Brasileira, sobretudo nos últimos semestres (nos cinco anos finais de minha “carreira” – por questões meramente burocrático-administrativas – lecionei apenas Literatura Portuguesa e Literatura Comparada), assim como, quando lecionava outras matérias literárias, lia poemas (inclusive) em sala de aula. Isso era considerado perda de tempo e falta de didática por alguns doutos “pares” que faziam cara de chacota quando isso era mencionado. Sim, eu lia textos literários em sala de aula!!! Heresia! Anátema! Fosse nos domínios do tio Sam... shame on you!, era o que eu ouviria... Bom... Sempre procurei desmerecer as “bocas de matildes” e continuei lendo poemas, contos, trechos de romances, etc. em minha aulas. Numa delas, apresentei esse poema – lido primeiro, escutado depois – para afirmar, de cara, que seus dois primeiros versos são a mais acachapante declaração de amor de que tenho notícia. Adoro o termo “acachapante”: diz tudo, é sonoramente forte, expressivo, vigoroso. Fiquei com o poema. procurem pela gravação de Adriana Calcanhoto (desconheço se há outra... Caso haja, não vai superar a da cantora gaúcha). Uživati! É bom proveito em croata...

Inverno

No dia em que fui mais feliz
Eu vi um avião
Se espelhar no seu olhar até sumir
De lá pra cá não sei
Caminho ao longo do canal
Faço longas cartas pra ninguém
E o inverno no Leblon é quase glacial
Há algo que jamais se esclareceu:
Onde foi exatamente que larguei
Naquele dia mesmo
O leão que sempre cavalguei?
Lá mesmo esqueci
Que o destino
Sempre me quis só
No deserto sem saudade, sem remorso só
Sem amarras, barco embriagado ao mar
Não sei o que em mim
Só quer me lembrar
Que um dia o céu
Reuniu-se a terra um instante por nós dois
Pouco antes do Ocidente se assombrar

(CÍCERO, Antônio. “Inverno”, inGuardar. Rio de Janeiro: Record, 1996.

 

Novembro 04, 2024

Foureaux

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Faz uns dias, recebi mensagem de uma amiga portuguesa, a Ana Cristina Martins. Ela pedia-me que escrevesse algumas palavras a serem lidas na homenagem a Vitor Escudero numa sessão da Sociedade de Geografia de Lisboa, secção de Arqueologia. O distinto, animado e querido amigo, Vitor Escudero foi o fundador desta secção. Aceitei, por óbvio. Como costumo dizer, rosamariamortinha de inveja... queria ter lá estado para ler eu mesmo e abraçar o distinto e querido amigo e os demais convivas, de quem tanto gosto. Não deu. Escrevi o texto que segue abaixo. Foi lido na abertura da sessão que não vi – foi às dez da manhã, sete aqui do outro lado, estava acordando naquele momento e depois tinha a caminhada matinal na praia – dose de um dos remédios que tomo diariamente. Neste caso específico, apenas de segunda a sexta, com aceite do médico que supervisiona minha condição de saúde... Uma homenagem singela, sincera. Gosto imenso do Vitor. E ele sabe disso! Bem haja!

Boa tarde!

Diz o ditado popular que os contrários se atraem. Penso que os iguais se reconhecem, a cantar na mesma toada.

Assim, dois leoninos de boa cepa podem se sentir acompanhados um pelo outro, pelo simples fato de terem nascido sob o mesmo signo. Esta introdução, um tanto jocosa, marca minha tendência a não me levar muito a sério, conselho que o caríssimo amigo Vitor Escudero sempre deixou claro para mim e, creio, para todos que dele se aproximam. Ouvi falar de sua pessoa durante quase um ano. No passado 2013, finalmente, no aeroporto de Lisboa, tivemos nosso primeiro contato. Dois momentos marcantes fazem inesquecível o desdobramento (eu diria inevitável) deste contato primevo. O primeiro foi o convite a mim feito para jantar seguido de um porto de honra chez Escudero, dias depois de nos conhecermos. O segundo foi a magnífica aula explicativa no Palácio da Pena, em Sintra. Que clareza de oração, que profusão de conhecimento, que vigor e energia. Fiquei invejoso. Daí em diante, anualmente, nos encontramos e a frateria, parece, se consolida a cada período. Troca de opiniões e dúvidas, convivência acadêmica e pessoal, pândegas e guloseimas. A aventura de existir em harmonia com os pares... e os ímpares também. Nada é perfeito. Tanto é assim que estou aqui, deste lado do “grande charco” a desejar a presença física neste momento tão significativo. Mesmo de longe, cumprimento o homenageado e agradeço à Ana Cristina pelo convite para me manifestar e... confesso, estou com inveja de quem desfruta da companhia deste homem espetacular neste dia tão especial. Bem hajam. Abraço tropicais a todos e em especial a este amigo tão querido, Vitor Escudero. Saravá!

José Luiz Foureaux de Souza Júnior, Marataízes-ES, Brasil, outono, 2024

 

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