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As delícias do ócio criativo

As delícias do ócio criativo

07.06.24

Em tempo de mudança...

Foureaux

construção-inacabada.jpg


O poema é ortônimo, até prova em contrário. Quanto a este poeta, tudo é possível, nada é absoluto. Sou fã...

 

Presságio

Fernando Pessoa

 

O amor, quando se revela,

Não se sabe revelar.

Sabe bem olhar pra ela,

Mas não lhe sabe falar.

 

Quem quer dizer o que sente

Não sabe o que há de dizer.

Fala: parece que mente…

Cala: parece esquecer…

 

Ah, mas se ela adivinhasse,

Se pudesse ouvir o olhar,

E se um olhar lhe bastasse

Pra saber que a estão a amar!

 

Mas quem sente muito, cala;

Quem quer dizer quanto sente

Fica sem alma nem fala,

Fica só, inteiramente!

 

Mas se isto puder contar-lhe

O que não lhe ouso contar,

Já não terei que falar-lhe

Porque lhe estou a falar…

 

06.06.24

Mais alguns dias e...

Foureaux


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No “clima”, lembrei-me deste poema.

 

Vou-me embora pra Pasárgada

Manuel Bandeira

 

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei

Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que nunca tive

E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d’água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada

Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcaloide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar

E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.

Libertinagem (1930)

 

 

05.06.24

Últimos momentos

Foureaux

transformar-inimigos-em-amigos-1.jpgPoema declamado por Gillian Anderson, como Mrs. Margareth Thatcher, em emblemática cena da série da Netflix, Crown, diante de Olivia Colman como Rainha Elizabeth II. Gosto de traduzir, apesar de não ter recebido treinamento formal para tanto. É um exercício de criatividade, se Haroldo de Campos estiver mesmo certo...

O original

You Have No Enemies

Charles MacKay

You have no enemies, you say?
Alas! my friend, the boast is poor;
He who has mingled in the fray
Of duty, that the brave endure,
Must have made foes! If you have none,
Small is the work that you have done.
You’ve hit no traitor on the hip,
You’ve dashed no cup from perjured lip,
You’ve never turned the wrong to right,
You’ve been a coward in the fight.

 

A tradução

Você não tem inimigos

Charles MacKay

 

Você não tem inimigos, você diria?

Infelizmente! meu amigo a vanglória é pobre;

Aquele que se misturou na pancadaria

Do dever, que suporta o nobre,

Deve ter feito inimigos! Se você não tem nenhum,

Pequeno é o trabalho se você teve algum.

Você não acertou nenhum traidor no quadril,

Você não lambeu xícara alguma com lábio vil,

Você nunca mudou do certo ao errado,

Você foi um covarde por ter lutado.

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