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As delícias do ócio criativo

As delícias do ócio criativo

Fevereiro 28, 2024

Foureaux

Trem.jpeg


Tem gente com fome 

Solano Trindade 

Trem sujo da Leopoldina 
correndo correndo 
parece dizer 
tem gente com fome 
tem gente com fome 
tem gente com fome 

Piiiiii 

Estação de Caxias 
de novo a dizer 
de novo a correr 
tem gente com fome 
tem gente com fome 
tem gente com fome 

Vigário Geral 
Lucas 
Cordovil 
Brás de Pina 
Penha Circular 
Estação da Penha 
Olaria 
Ramos 
Bom Sucesso 
Carlos Chagas 
Triagem, Mauá 
trem sujo da Leopoldina 
correndo correndo 
parece dizer 
tem gente com fome 
tem gente com fome 
tem gente com fome 

Tantas caras tristes 
querendo chegar 
em algum destino 
em algum lugar 

Trem sujo da Leopoldina 
correndo correndo 
parece dizer 
tem gente com fome 
tem gente com fome 
tem gente com fome 

Só nas estações 
quando vai parando 
lentamente começa a dizer 
se tem gente com fome 
dá de comer 
se tem gente com fome 
dá de comer 
se tem gente com fome 
dá de comer 

Mas o freio de ar 
todo autoritário 
manda o trem calar 
Pisiuuuuuuuuu

 

“Tem gente com fome e outros poemas, Antologia Poética. Rio de Janeiro. Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, 1988.” 

(fonte: https://www.escrevendoofuturo.org.br/caderno_virtual/texto/tem-gente-com-fome/index.html)

Fevereiro 21, 2024

Foureaux

Uma das coisas que podem ser chamadas de “dificuldade” na prática da leitura crítica de obras literárias é a tal de “opinião”. Inescapável realidade que muitos tentam camuflar, desconsiderar e, até, tentar inutilizar. Em vão. Não se escapa dela. Por isso mesmo, não pode haver critério(s) “chamados” de objetivos para avaliações deste universo. Assim é que, ao ler um livro – sobretudo de autor próximo, conhecido, até amigo – a dificuldade aumenta e os tais critérios tidos como objetivos escapam inexoravelmente. A crítica fica, então, adstrita a um circuito de maledicência e/ou bajulação. Não há escapatória. Há algum tempo, deixei de me submeter a tais idiossincrasias, pelo simples fato de estar aposentado, em caráter definitivo. Neste estatuto, livrei-me, de uma vez por todas, da obrigação de agradar a quem quer que seja, submetendo minha “produção” ao parecer alheio, sempre sujeito a outro cariz idiossincrático. Isso tudo se agudiza quando se trata de um livro novo, o primeiro, na carreira de alguém. Nas vamos lá!

O livro se chama Autos da razão. Seu autor: Israel Quirino. Posso dizer que, mesmo em caráter mínimo e superficial, conheço o autor. Acabei de ler seu livro e não me furto ao impulso de escrever algumas linhas sobre a obra. A edição é austera. Capa simples, mostrando um par de mãos em fundo rosa pálido, champagne, diriam alguns. Ao observar a capa, lembrei-me de uma das disciplinas cursadas no Mestrado – “Fundamentos de Literatura Comparada” – para a qual escolhi, como tema da monografia de conclusão da disciplina, a Titulologia. Capítulo dos pródromos da Literatura Comparada no Ocidente, a Titulologia, como está no vocábulo estuda os títulos na perspectiva que caracteriza a própria disciplina: o comparativismo. As relações entre biografia autorial e título, entre tema e título, entre capa e título, entre assunto e título, entre contexto e título, etc. No fundo, como a própria disciplina de que faz parte, a Titulologia caracteriza-se por ter caráter especulativo e essencialmente teórico. Naquela altura, analisei um romance de Júlio Ribeiro, A carne, cuja capa apresentava um suculento filé, descansando sobre uma almofada de adamascado oriental carmim, enfeitado por grelos dourados. Foi um trabalho irônico e, por que não dizer, iconoclasta. Não vou repetir a dose aqui. A lembrança se justifica pois não encontrei relação plausível entre a ilustração da capa e o conteúdo do livro. Atenção: isto não é um defeito, nem uma qualidade. É, apenas e somente, a conclusão de um leitor que se quer atento e curioso. Punto i basta.

O relato ficcional – ainda que me senti tentado a relacionar certas passagens à traços de autobiografia – se desenvolve a partir das elucubrações de um protagonista que é responsável por sua própria narração. Et voilá: é um juiz. O autor é advogado. Uma coisa pode levar a outra, mas não “advogo” este direito para a leitura que fiz. No entanto, não quis deixar escapar a oportunidade da menção. Interessantemente, o livro é composto de seis capítulos. O detalhe poderia passar batido, não fosse o fato de o autor fazer parte ativa de um movimento cultural em Mariana-MG, cidade onde vive e atua, que tem um ícone identitário, a aldravia. Poema formado por seis versos univocabulares. A ideia mater desta forma poética é suscitar o leitor a construir o sentido do poema, dando vazão a um impulso metonímico provocado e sustentado pela linguagem poética. esta é a marca identitária deste poema e, por extensão, do movimento em cujo seio foi forjado. O número seis, portanto, não pode ser tomado apenas como marco instrumental de organização textual. Como leitor, aproveito o indício para estabelecer correlação entre o conteúdo ficcional do texto narrativo e o contexto a que se subscreve. Isso pode render leituras mais instigantes, suponho, do que a minha própria.

O título remete a uma forma literária em prosa ou verso que remonta aos séculos XV e XVI, notadamente a Gil Vicente, prócer da Literatura Portuguesa e, por extensão, da Literatura Brasileira. No entanto, para além do fato de não ser escrito em versos, os Autos da razão não deixam de contemplar um dos aspectos presentes na produção de Gil Vicente: o caráter moral de seus escritos, sempre voltados a questões de ordem ética (religiosa, mais acertadamente). No caso do escritor mineiro, o dilema pelo qual passa o juiz que protagoniza a narrativa rende eluvubrações de variado cariz, proporcionando ao leitor momentos de reflexão muito instigantes. É de se notar que, em certos passos do relato, a exaração de temas, questões e problemas jurídicos, enchem páginas e páginas, o que pode levar algum leitor a experimentar o tédio. Isso não é regra, mas é notável. Leio isto como exercício apaixonado de um profissional que transcende o tratado, na pena da ficção, não para demonstrar erudição – o que seria um pecado mortal –, mas para ilustrar de forma veemente – conseguindo, assim, mais verossimilhança no e para o relato que apresenta – as circunstâncias po quais passa o protagonista em sua sendo profissional, ética e, até espiritual. Os dramas vividos pelo juiz, no desenvolvimento do processo em que está envolvido, alimenta-se das dúvidas e apreensões que surgem na relação com a ré. Neste sentido, no embate com sua esposa, a dúvida e a angústia marcam o pensamento do narrador que se apresenta frágil diante da realidade acachapante que vai se criando ao longo do desenvolvimento do relato.

Texto de redação quase suntuosa, o relato traz para a cena ficcional, um universo já explorado em outro diapasão, o do suspense. Este não é o caso aqui, por inútil. Quer me parecer – é bom lembrar que sou apenas um leitor e, assim, não cabe a mim determinar o que se passou (ou não) na cabeça do autor para escrever isto ou aquilo em sua obra – a narrativa busca desenhar um percurso subjetivo em seu constante movimento de busca de esclarecimento, ou de uma verdade que escapa nas fímbrias de qualquer discurso, como é o caso do Direito e, por que não, da Literatura também.

Parece que consegui vencer certas dificuldades referidas no começo. Li o livro. Falei sobre ele. Implicitamente, fiz um convite. E não precisei nem bajular, nem condenar quem quer que seja, Alea jacta est!

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Fevereiro 06, 2024

Foureaux

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O texto não é meu!

ENTREVISTA MUSICAL
1 - QUANDO VOCÊ NASCEU?
Eu nasci há dez mil anos atrás. E não tem nada nesse Mundo que eu não saiba demais. 
2 - ONDE VOCÊ MORA?
Moro num país tropical, abençoado por Deus, e bonito por natureza... Que beleza!
3 - QUE CONSELHO VOCÊ DARIA PARA AS PESSOAS DESANIMADAS?
Canta, canta, minha gente, deixa a tristeza pra lá; Canta forte, canta alto, que a vida vai melhorar. Que a vida vai melhorar, que a vida vai melhorar.
4 - QUAIS SÃO SEUS SONHOS?
Os sonhos mais lindos sonhei, de quimeras mil um castelo ergui, e no seu olhar, tonto de emoção, com sofreguidão mil venturas vivi.
5 - COMO CONSEGUE MANTER VIVA A ESPERANÇA DE UM MUNDO MELHOR?
É o amor, que mexe com minha cabeça e me deixa assim.
6 - UMA META NA VIDA?
Eu quero ter um milhão de amigos e bem mais forte poder cantar.
7 - DURANTE A QUARENTENA A QUEM VOCÊ RECORREU?
Jesus Cristo! Jesus Cristo! Jesus Cristo eu estou aqui. 
8 - QUAL SEU CONSELHO A QUEM TEM MEDO?
Segura na mão de Deus, segura na mão de Deus, pois ela, ela te sustentará.
9 - QUANDO VOCÊ ERA JOVEM QUAL ERA O SEU OBJETIVO?
Nessa longa estrada da vida, vou correndo e não posso parar. Na esperança de ser campeão, alcançando o primeiro lugar.
10 - E HOJE, COM MAIS EXPERIÊNCIA, COMO VOCÊ ENCARA A VIDA?
Ando devagar porque já tive pressa e levo esse sorriso porque já chorei demais. Hoje me sinto mais forte, mais feliz, quem sabe, só levo a certeza de que muito pouco eu sei. Eu nada sei.
11 - O QUE VOCÊ ESPERA DO FUTURO?
Viver e não ter a vergonha de ser feliz. Cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz.

Fevereiro 01, 2024

Foureaux

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Mexe daqui, mexe dali, acabei encontrado os quatro trechos que seguem. Se não me deixo enganar pela falta de memória, devema ser coisas que escrevi pensando em algum livro que penso estar escrevendo. Na verdade, estou com dois em andamento: um de poesia e um de prosa. Ambos têm títulos provisórios já estabelecidos: Aprocrifói e Os mortos são mais felizes, respectivamente. Não sei se estes trechos vão entrar no livro de prosa. Pode ser. Pode não ser... Vai saber...

“Existe, creio que atavicamente, um traço distintivo no ser humano: a sede de ser o primeiro. Tenho dúvidas sobre ser ‘sede’ o termo correto. Talvez desejo soasse melhor ou faria mais sentido ou daria mais consistência à ideia exposta. Tanto faz. Aqui, qualquer uma das formas vai dizer a que veio. Esta sede permeia quase todas as atitudes do ser humano. Há um grupo, num certo lugar que, num determinado – pelo próprio grupo – momento, resolveu inventar uma coisa. Não há necessidade de se dizer que coisa é essa. Fato é que a coisa foi inventada pelos elementos que compunham o grupo, num sentido mais estrito. Na verdade, o grupo era mais numeroso. A invenção, no entanto, era peculiaridade do pequeno conjunto. A coisa foi inventada e divulgada, tomou forma e corpo. Alçou voo e alcançou outros rincões mundo a fora. Sua genuinidade pode ser questionada, por óbvio. Faz tempo que o conceito de originalidade vem perdendo força, eficácia, eficiência, relevância... A invenção persiste. Assim, pensar no primeiro, no original, no início é exercício filosófico de monta. Ser da primeira turma que cursou um programa de disciplinas diferente por conta de uma reforma de ensino. Ser da primeira turma da graduação em Língua Portuguesa que, antes, só oferecia Licenciaturas duplas. Ir pela primeira vez a um determinado local e, no primeiro quilômetro deste local, sofrer um acidente. Ser o primeiro classificado em primeiro lugar num concurso público. Ser o primeiro... este exercício pode encher de orgulho e empáfia um sujeito que não esteja atento ao que se passa à sua volta. Dizer ‘sou o primeiro’ é motivo de reprovação ou vergonha? Depende. O contrário também depende. Tudo é relativo, sobretudo no discurso. O contexto pode modificar a simplicidade de uma assertiva, tornando-a profundamente ofensiva, e até criminal, quando é o caso. E há muitos casos... O que importa, no entanto, é saber que a sensação de ser o primeiro não é ruim. Nada ruim. Há que se procurar certa sabedoria intrínseca, implícita e intuitiva, para não se deixar engambelar pelo ‘canto de sereia’ da vaidade que leva o sujeito à ruína. nem sempre, mas leva. Nem sempre é simples. Em algumas sessões de Psicanálise...” 

Ando um tanto sorumbático. Macambúzio, por vezes. O calundu me arresta solerte, de vez em quando. O tempo passa e muito pouca coisa muda, o que não deixa de ser triste, ainda que irrecorrível. Entre um e outro momento leio, ou escuto música, ou fico olhando para o nada... deixando tempo passar. Numa dessas, escutei alguém lendo um texto. Era uma carta. Foi escrita por Dom Pedro II (até que se prove o contrário – sempre é bom lembrar). Ele foi um homem muito importante para o Brasil. Cometeu erros, por óbvio, mas sua importância suplanta seus deslizes. Ele anda a fazer falta como modelo, guia, exemplo a ser seguido. Gostei da ideia. Procurei o texto integral e trago-o aqui. Deixo a critério de cada um pensar o que quiser, tentar encontrar um sentido, uma explicação. Não tenho mais saco para tanto...

“Estou bem velho, mas ainda consigo as areias das praias do Rio de Janeiro. Ainda consigo sentir a brisa das manhãs, e o cheiro delicioso de café que só minha antiga terra era capaz de gerar. Ao longo da minha vida, tive a oportunidade de viajar pelo mundo, conhecendo novas culturas e costumes. Precisei viajar pelos continentes para perceber que nenhum dos lugares que visitei era tão grandioso quanto meu Brasil. Percebi que nenhum povo era tão guerreiro quanto o meu povo brasileiro. Percebi que nenhum outro reino, império, ou nação tinha as riquezas que nós tínhamos. Sei que não consegui agradar a todos, mas lutei por quase 60 anos com as armas que eu tinha. Tentei ser o imperador mais justo possível, e tentei enfrentar os altos e baixos com muita sabedoria. Hoje, a única certeza que tenho, é que se dependesse somente da minha pessoa muita coisa teria mudado no Brasil, bem mais rápido do que se esperava. Por que não resisti ao golpe de estado? Você deve estar se perguntando. Bem, porque eu não queria ver mais sangue brasileiro sendo derramado por ambições políticas. Era preferível ter em minhas mãos a carta do meu exílio, do que o sangue do meu povo. Confesso que perdi as contas de quantas vezes sonhei que estava retornando para minha pátria. Hoje, sinto que minha jornada aqui neste plano está bem próxima do fim. Quando a minha hora chegar, irei me curvar perante Deus, o rei de todos os reis, e agradecê-lo do fundo do meu coração, pela honra de ter nascido brasileiro. 

PS: copiei o texto da carta daqui: https://www.recantodasletras.com.br/cartas/7388873

Um doutorando em busca de fontes para as pesquisas de tese. Um supervisor que incomoda seu paciente, um psicanalista atormentado, com suas referências e insinuações. Um escritor desconhecido, com obra igualmente desconhecida, a fazer anotações às voltas com as anotações de suas sessões com seus pacientes. Ou seria apenas seu diário, num redemoinho incontornável movido pela memória. O psicanalista? Tudo girando em torno do fascínio que o ato da escrita pode causar e enredar. Longe de uma trama comum e rasteira de um thriller, esta ficção deixa a ver navios o enredo desgastado do romance policial. Romance de tese? Roman à clef? Romance de formação? Não interessa. Muito porque, como pensa a personagem do escritor, isso não interessa. O prazer não está aí e este caminho leva ninguém e nada a lugar algum. Uma aventura. A narrativa flui ao sabor das percepções das personagens. Seu movimento é metonímico. O modus operandi é o das associações livres. Seu intento, fazer um convite ao leitor.

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