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As delícias do ócio criativo

As delícias do ócio criativo

30.08.23

Inspiração

Foureaux

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Se eu conversasse com Deus

Iria lhe perguntar:
Por que é que sofremos tanto
Quando viemos pra cá?
Que dívida é essa
Que a gente tem que morrer pra pagar?

Perguntaria também
Como é que ele é feito
Que não dorme, que não come
E assim vive satisfeito.
Por que foi que ele não fez
A gente do mesmo jeito?

Por que existem uns felizes
E outros que sofrem tanto?
Nascemos do mesmo jeito,
Moramos no mesmo canto.
Quem foi temperar o choro
E acabou salgando o pranto?

29.08.23

Instante

Foureaux

OIP.jpg


Escrevi o texto abaixo ao som do primeiro movimento da Sonata ao luar, de Beethoven. Veio assim, de uma vez. Será ideia para um início de romance? Quem sabe, um esboço de peça teatral. Não sei. escrevi de uma vez, sem pensar. Quase fiz a mesma coisa de novo, ao ouvir um Noturno de Chopin, o mais popular, o número 2. Desisti. Fiquei com o impacto do primeiro gesto...

A cena tem que ser totalmente coreografada. Não sei se é possível, mas tem de ser. O clima se divide entre tenso e melancólico. A luz não é muita, nem pouca. O cenário tem poucos elementos. Uma personagem está recostada numa poltrona e observa a outra que faz as malas. Tudo coreografado, cada movimento, cada inflexão de olhar. A câmera passeia entre as personagens e os elementos de cena, coreografado também o seu movimento. O clima muda para um tom acima. Desespero, quase. As duas personagens por uma vez, e apenas uma, se olham. Talvez no terceiro terço da sonata. Olhar também coreografado. A personagem continua arrumando as roupas e objetos na mala. Acaba e se volta para a porta. Lentamente, coreografadamente, vai andando. Abre a porta. Sai. A outra personagem não se move. A câmera dá um close em seu olhar. Entre melancólico e desesperado. Tenso é o clima. A câmera repousa sobre a janela que mostra a outra personagem entrando um carro. A personagem, que fica se levanta. Vai até a porta e leva a mão à maçaneta. Desiste de abri-la. Tudo coreografado. Olha à sua volta. Algumas peças de roupa jogadas pelo chão. Um gato passa lentamente. A personagem se senta. Suspira. Fecha os olhos e a música termina com a câmera em close num livro aberto, sobre o qual há uma caneta. Fim.

23.08.23

Lógicas ilógicas?

Foureaux

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Há perguntas que não devem ser feitas em determinadas circunstâncias, para determinadas pessoas. Ou, por outra, há que se ter cuidado com a formulação da dúvida ou questão para a qual se quer uma resposta. Dependendo de como o enunciado se explicita, a resposta pode assustar, ou fazer rir. Exemplo disso é a sequência abaixo que recebi pelo Whatsapp. Não faço a menor ideia de quem é a autoria (em que escola, qual o professor e o aluno). Só gostei, por isso mesmo, compartilho.

Em qual guerra Napoleão morreu? – Na última que ele lutou.

Onde foi assinado o Tratado de Tordesilhas? – No final da folha.

Em qual Estado corre o rio São Francisco? – Líquido.

Qual a principal razão do divórcio? – O casamento.

Qual o principal motivo dos erros? – As provas.

O que nunca como no café da manhã? – Almoço e janta.

O que parece a metade de uma maçã? – Com a outra metade.

Se você jogar uma pedra vermelha em um lago azul, como ela fica? – Molhada.

Traduza as frases em Inglês para o Português:

Pay she. – Peixe.

My one easy. – Maionese.

Pall me too. – Palmito.

All faces. – Alface.

Car need boy. – Carne de boi.

 

Mais ou menos no mesmo estilo, há que cuidar quando se usa expressões idiomáticas com um estrangeiro. Ele pode não entender, como é o caso. Ou pensar que você não faz ideia do que está falando... Aqui valem as observações sobre autoria feitas acima – guardadas as devidas proporções.

– A porta dormiu aberta.

– A luz dormiu acesa.

– Você segue reto toda vida.

– Eu fiquei preso do lado de fora.

– Escuta só pra você ver.

– Não conheço, mas sei quem é.

– Vou só esperar o sol esfriar.

– Não vi nem o cheiro.

21.08.23

Isto

Foureaux

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Isto

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está ao pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.
Sentir? Sinta quem lê!

sd. Poesias. Fernando Pessoa. (Nota explicativa de João Gaspar Simões e Luiz de Montalvor.) Lisboa: Ática, 1942 (15ª ed. 1995). 1ª publicação in Presença, nº 38, Coimbra: Abr. 1933.

 

 

15.08.23

Dúvida

Foureaux

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Alguém poderia me dizer, procurando ser o mais equilibrado possível, a que data se refere este trecho de chamada de artigos? Estou na dúvida. Com o axioma da relatividade da História, não sei dizer se se trata do passado ou do presente. Tirei o nome da revista para não incorrer em crime de questão. andam inventando tantos crimes que daqui a pouco serei condenado por estar respirando fora do rimo “adequado”. Segue o trecho da chamada: “a publicação de um dossiê temático dedicado aos debates sobre a produção poética brasileira, com ênfase nos vínculos que ela estabeleceu e estabelece com os chamados anos de chumbo. Nesse sentido, convidamos a comunidade acadêmica para a submissão de trabalhos que realizem uma (re)leitura de crítica de poetas, poéticas, poemas e movimentos (...), nos quais se observam, em diferentes níveis e de inúmeras formas, o impacto da vida no país sob um regime autoritário que censurou, perseguiu, torturou e assassinou vozes dissidentes. Estes olhares podem voltar-se para as vozes consagradas do período, expandido a fortuna crítica de autores e autoras mais conhecidos, com ênfase em suas articulações com o contexto histórico-político e as estratégias de posicionamento crítico numa sociedade marcada pelo medo e a violência. Igualmente são esperados resultados de pesquisas que visam recuperar vozes poéticas ignoradas nos círculos críticos hegemônicos após o processo de redemocratização, especialmente vozes mais identificadas com a militância contra o regime ou pertencentes a grupos sociais marginalizados.”

09.08.23

Comunicação

Foureaux

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No dia 7 de julho passado, por volta das 16 horas, fiz minha comunicação, encerrando a etapa acadêmica do XIV Encontro Nacional de Ex Libristas, promovido pela Academia Portuguesa de Ex Libris. Tentei fazer uma blague envolvendo a sardinha – um dos ícones culturais de Portugal – associando-a ao bispo devorado pelos caetés, presumivelmente, no século dezesseis aqui no Brasil. Como consequência, faço uma ilação entre o evento de canibalismo e a antropofagia de Oswald de Andrade. Tudo num clima de blague, como é de meu feitio. Devo confessar que fui ludibriado pelo google que me apresentou como de Garcia de Resende uma foto que, de fato, era de Shakespeare.  No entanto, nada disso atrapalhou o clima da comunicação que, ainda uma vez, me deu muito prazer. Segue o texto dela;

Boa tarde. 

Quem me conhece sabe de minha tendência a fazer blague de coisa séria. Aqui não vai ser diferente. Começo saudando a cidade que nos recebe e que tive o prazer de conhecer em 2015, quando de meu pós-doutoramento. Uma visita inolvidável. O nome da cidade é, como vocês bem sabem, proveniente do celta antigo ebora/ebura, caso genitivo plural do vocábulo eburos relacionando-se com a palavra irlandesa “ibhar”, nome de uma espécie de árvore (o teixo), pelo que o seu nome significa “dos teixos”. Segundo José Pedro Machado (Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa), o teixo é uma árvore totêmica que servia para envenenar setas. Assim é que, de volta, faço alusão à importância da cidade como local que viu nascer Garcia de Resende, em 1470, e Dom Pero Fernandes Sardinha, em 1496. Do primeiro vale lembrar a numerosa produção poética, notadamente o Cancioneiro. Dele, cito rapidamente duas estrofes de suas trovas, notadamente as que tratam de outro mito português, Inês de Castro: 

 

Lembre-vos o grand’amor 

que me vosso filho tem, 

e que sentirá gram dor 

morrer-lhe tal servidor, 

por lhe querer grande bem. 

Que s’algum erro fizera, 

fora bem que padecera 

e qu’este filhos ficaram 

órfãos tristes e buscaram 

quem deles paixão houvera; 

 

Mas, pois eu nunca errei 

e sempre mereci mais, 

deveis, poderoso rei, 

nam quebrantar vossa lei, 

que, se moiro, quebrantais. 

Usai mais de piadade 

que de rigor nem vontade, 

havei dó, senhor, de mim 

nam me deis tam triste fim, 

pois que nunca fiz maldade. 

 

Sobre Dom Pero Fernandes Sardinha, como se sabe, foi o primeiro bispo do Brasil, tendo chegado a Salvador em 1551, vindo de Portugal. Sua trajetória ficou marcada na história do Brasil por ter sido, segundo relatos controversos, devorado por índios caetés, em um ritual de canibalismo, no litoral do nordeste brasileiro, em 1556. O canibalismo era a prática realizada por algumas tribos indígenas na então terra de Santa Cruz. Este é o epicentro de minha alocução com sabor de blague. O nome remete a uma imagem que poder-se-ia chamar de mítica. Um peixe, a sardinha. Diferentemente de seu homônimo, o bispo passou à história como um religioso beligerante, que se deu mal na missão espiritual que lhe caberia desenvolver na América Portuguesa. Dele têm sido feitas muitas análises rigorosas, especialmente voltadas para as discórdias que o separaram do segundo governador, D. Duarte da Costa, e demais pessoas que viviam na Colônia. Tudo indica que o bispo era um homem de temperamento irascível, pouco dado às amizades e vivia em constante discórdia com os religiosos. Fez muitos inimigos no Brasil. Deve ter causado indigestão nos índios caetés. Sobre Évora e o bispo encerro com o único ex-libris que minha incapacidade encontrou, o de D. Diogo de Bragança (Marquês de Marialva) e de Alexandre Corrêa de Lemos, fixado no volume intitulado História das antiguidades de Évora, de 1739, em que se relata o que aconteceu nesta cidade até ser tomada aos Mouros por Giraldo, no tempo Del-Rey Dom Affonso Henriquez e o mais que daí por diante aconteceu até o tempo presente. O peixe, alimento mais que apreciado, tem seu nome associado à História por conta de um bispo que foi comido como ela, diz a lenda... Atravessando o Atlântico, tento dar conta de estabelecer o fio condutor de minha proposta blague, trazendo à baila um poeta brasileiro, Oswald de Andrade, que, fazendo também uma blague – mais séria do que a minha, por óbvio – retoma o mito do canibalismo quando, num manifesto de nome “Antropófago”, faz proposições visando a brasilização modernista do/no Brasil, bem no início do século 20. Diz ele no início de seu manifesto: “Só a ANTROPOFAGIA nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.” E ao final, arremata: 

 

“Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud – a realidade sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias do matriarcado23 de Pindorama.”

Manifesto antropófago 

Oswald de Andrade 

Em Piratininga24 

Ano 374 da Deglutição do Bispo Sardinha 

 

O manifesto foi publicado na Revista de Antropofagia, Ano I, No. I, em maio de 1928. Oswald busca uma marcação temporal para a existência brasileira que, no Manifesto, começa com o primeiro ato antropófago conhecido oficialmente; o Bispo Sardinha, isto é, Pero Fernandes, que naufragou no litoral do nordeste brasileiro e morreu como vítima sacrificial dos índios caetés. Oswald equivocou-se nas datas, acrescentando 2 anos ao tempo decorrido entre a morte do Bispo Sardinha e o ano de publicação do Manifesto Antropófago. Entretanto, o poeta parece desconhecer as cartas de Américo Vespúcio, em uma das quais o aventureiro florentino afirma ter assistido um ritual antropofágico em 1501, na Praia dos Marcos, no Rio Grande do Norte, em que a vítima era um europeu. Está concluída a blague. Começando a viagem ainda no século 15, chegamos ao 21, sem muitos ex-libris sobre o tema, pelo que peço desculpas. Ainda assim, a ideia da antropofagia, cara ao poeta brasileiro, respaldada pela História do bispo e animada por uma espécie de fetiche gastronômico lusitano, parece-me, consolida-se com sentido. Fica, assim, a intenção satisfeita de um diletante que insiste em ler os papelinhos como textos autônomos, possuidores de sentido histórico, estético, iconográfico e discursivo. 

Muito obrigado!

05.08.23

Manipulação

Foureaux

Unknown.jpegA postagem de hoje é mero resultado do famigerado seleciona-copia-cola. Tão prático, tão falacioso. Tão útil para a minha preguiça. Tirei de uma postagem do Twitter, da página de um médico cujas publicações sempre me interessam por inteligentes, sagazes, sarcásticas (às vezes), sempre acertadas. Fica, portanto, assentado que é apenas isso. Não custa insistir no fato de que o simples compartilhamento não significa a absoluta e irrecorrível concordância com o conteúdo do que é partilhado. Claro está que entre o branco e o preto há muitos tons de cinza – para além das outras cores. Punto i basta!

“Manipulam a narrativa de privilégios e chamam de direitos.

Manipulam a narrativa de trabalhos forçados e chamam de contribuições & impostos.

Manipulam a narrativa de propriedade privada e chamam de função social.

Manipulam a narrativa de pensamento independente e chamam de subversão.

Manipulam a narrativa de centralização da censura e chamam de democracia.

Manipulam a narrativa de tratamento precoce e chamam de negacionismo.

Manipulam a narrativa de risco imunológico e chamam de vacina.

Manipulam a narrativa de transtornos psiquiátricos e chamam de mais políticas inclusivas.

Manipulam a narrativa de p3dofilia e chamam de preferência.

Manipulam a narrativa de assassinato de crianças e chamam de controle de natalidade.

Manipulam a narrativa de masculinidade e chamam de machismo.

Manipulam a narrativa de conhecimento e chamam de arrogância.

Manipulam a narrativa de burrice e chamam de humildade.

Manipulam a narrativa de força e chamam de risco.

Manipulam a narrativa de preguiça e chamam de felicidade.

Manipulam a narrativa de sucesso e chamam de opressão.

Manipulam a narrativa de barbárie e chamam de tolerância.

Pare de ser manipulado.

10:53 AM – 4 de ago de 2023.”

01.08.23

Vírgula

Foureaux

Vírgula.jpegTenho a impressão de que já publiquei este texto aqui no blogue. Gosto tanto dele que resolvi publicar de qualquer jeito, sendo uma segunda (ou terceira?) vez ou não. É importante, interessante, divertido. Num tempo em que o analfabetismo funcional grassa, sempre é bom relembrar do básico, do fundamental. Desconheço a autoria (recebi, no Whatsapp, de um amigo querido, o Gerson Luiz Roani).

“100 anos da vírgula

Muito legal a campanha dos 100 anos da ABI (Associação Brasileira de Imprensa)! 

A vírgula pode ser uma pausa... ou não:

Não, espere.

Não espere.

Ela pode sumir com seu dinheiro:

R$ 23,4.

R$ 2,34.

Pode criar heróis:

Isso só, ele resolve! 

Isso, só ele resolve! 

Ela pode ser a solução:

Vamos perder, nada foi resolvido! 

Vamos perder nada, foi resolvido! 

A vírgula muda uma opinião:

Não queremos saber! 

Não, queremos saber! 

A vírgula pode condenar ou salvar:

Não tenha clemência!

Não, tenha clemência!

Uma vírgula muda tudo!

ABI: 100 anos lutando para que ninguém mude uma vírgula da sua informação.

Considerações adicionais: 

SE O HOMEM SOUBESSE O VALOR QUE TEM A MULHER ANDARIA QUILÔMETROS À SUA PROCURA.

* Se você for mulher, certamente colocou a vírgula depois de MULHER.

* Se você for homem, colocou a vírgula depois de TEM.

 Moral da história: a vida pode ser interpretada e vivida de diversas maneiras. Nós é que fazemos a pontuação!

Pontue sua vida com o que realmente importa.

Isso faz toda a diferença!

Compartilhem esta mensagem como um presente de Português!

União.jpeg

 

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