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As delícias do ócio criativo

As delícias do ócio criativo

31.01.22

Como assim?

Foureaux

“Uma das coisas que ele sabia era que um dia, sem aviso prévio – mais provavelmente –, ele iria morrer. E durante a tal noite, ele ficou sem saber se o que estava sentindo era o tal de processo de morrer. Uma sensação estranha, incômoda, desagradável. As horas não passavam, o calor, o som das batidas do coração no ouvido. Num dos ouvidos, na verdade. A mesma sensação que vinha se repetindo. Na mesma proporção de suas dúvidas. Os sonhos confusos. Todos os mortos e vivos a comemorar um aniversário. O incômodo contínuo. A angustiada ansiedade por conta do equívoco no roteiro da viagem. O planejamento lento, detalhado, minucioso. A ideia de que foi pouco. Simultaneamente, a certeza de que a mão tinha gostado. Um desejo realizado, ainda que mal planejado. Tudo muito comum, reles. Os livros que não foram escritos a bordejar a mente inquieta no meio da noite. A chama da vela a incomodar a pálpebra sensível, um pequeno passo até a insônia. O tum-tum do coração que não parava. O efeito do analgésico. Haveria mesmo a possiblidade de se perceber o momento exato?” Autor desconhecido

 

Uns gostam de se vestir simplesmente. Comer coisas comuns, sem sofisticação. Falar de maneira direta, sem subterfúgios sofismáticos na tentativa viperina de ludibriar, enredar, confundir. A palavra direta, grosseira até – depende do ponto de vista. Outros são o contrário. Ainda há aqueles que preferem a mentira deslavada, repetida à exaustão. O desejo de prevalência da consolidação da verdade pela repetição infinita e iterativa da mentira. E para completar, preferem cachaça. Sem a simplicidade dos gestos comuns. No meio disso, uma turba insana, desorganizada, funcionalmente analfabeta a vociferar, criticar, julgar, acusar e apontar o dedo. Enquanto isso, nada muda...

29.01.22

Silêncio

Foureaux

“O homem, ao largo de seus noventa anos, comenta, numa roda de amigos algumas coisas que sua memória recupera das veredas do tempo. Começou com a sua arte quando ela começava na terra em que vivia. Não contaram pra ele o que acontecia. Ele viu. Se não viu foi quem fez acontecer também. Entre risos e hesitações lembrou-se da infância simples, humilde – pobre, nas palavras dele – num lugarejo esquecido na natureza, longe de qualquer indício de ‘civilização’. Mais risadas. Lembrou-se de que ‘dormia com as galinhas’ e ac0dava às quatro da manhã para ordenhar as vacas. Antes de dormir, apartava os bezerros, para que eles não esgotassem o leite das vaquinhas que durante o dia pastavam, Bovinamente, como é de sua natureza. Comentou sobre a natureza, os hábitos simples, a rotina da ordenha. Lembrou-se de que, para que o leite fluísse com mais facilidade, amarrava o bezerro nas patas traseiras da vaca. Assim, ela olhava o bezerro e soltava o leito sem problema. Na falta dele, o leite não saía. Entre mais alguns sorriso complacentes, o homem comentou que era bonito apertar as tetas da vaca, observando seu olhar doce para o bezerro. O barulho do leite espirrando na lata. A fumaça do calor do leite. O cheiro do curral. Porém, o mais impactante era o olhar da vaca. Mais risos e o homem lembra que visitou recentemente, mais perto de seus noventa anos, uma fazenda de produção de leite. Visitou todas as instalações. Ficou maravilhado. Notou que a ordenha é mecanizada agora; apertam uns tubos prateados nas tetas da vaca e o leite já sai dentr0 de galões enormes. Tudo automático. Mais limpo. Mais higiênico. Mais moderno. O homem olha a seu redor e pergunta: e o olhar da vaca?” (Autor desconhecido)

28.01.22

Falatório

Foureaux

Li o trecho que segue na Revista Oeste, que assino e de que gosto muito (https://revistaoeste.com/revista/edicao-97/a-criminalizacao-do-amor): “Isso é bem extremado. À guisa de lidar com uma prática que a maioria das pessoas considera repugnante — colocar muita pressão em homossexuais para tentar fazê-los abandonar seus desejos supostamente perversos —, o direito de divergir em questões de “identidade de gênero” e “expressão de gênero” está sendo erodido. O direito dos pais e de outros adultos de dizer a um menino que acha que é uma menina que, na verdade, ele é um menino e vai continuar vivendo como menino está fortemente abalado. Não foram feitas garantias claras de que a possibilidade de pais ou psicólogos terem conversas francas com crianças que querem “fazer a transição” vai se manter intacta. De acordo com Ted Falk, membro conservador da Câmara dos Comuns canadense, críticos perguntaram “repetidas vezes” aos redatores do texto da lei se “conversas com um líder religioso, psicólogo, pai ou mãe continuariam sendo protegidas e possíveis”. “Infelizmente, esses pedidos não foram considerados”, disse ele. Precisamos ser claros sobre o que está acontecendo no Canadá. Aconselhar jovens que estejam confusos sobre seu próprio gênero vai essencialmente se tornar um crime. Tudo o que os adultos podem fazer é reafirmar o que quer que essas crianças lhes disserem. Se seu filho de 7 anos disser a você que ele é uma menina, e você procurar alguma orientação psicológica para dissuadi-lo dessa fantasia ridícula, você pode estar desobedecendo à lei. Essa é uma imposição brutal da moralidade woke do governo, sob o pretexto de defender os direitos das pessoas LGBT. Justin Trudeau, primeiro-ministro canadense, se gabou da nova lei, declarando que “agora é ilegal promover, divulgar, beneficiar-se de ou sujeitar alguém à terapia de conversão”. “Os direitos LGBTQ2 são direitos humanos”, disse ele, acertando a sigla dessa vez. Trudeau está sendo ambíguo na linguagem. O que de fato se tornou ilegal no Canadá não é a terapia de conversão como a maior parte das pessoas entende – esse tipo de prática é incrivelmente raro em uma nação moderna e progressista como o Canadá. Em vez disso, é o direito de discutir identidade de gênero, discordar do culto à transgeneridade e, sim, dissuadir alguém de adotar um gênero inventado. Vou deixar de lado a plausível, cabível e possível discussão sobre a sustentabilidade de tão estapafúrdia decisão. Estapafúrdia sim! E podem me chamar de careta, de tiozão, de bolsonarista, extrema direita, isentão, burro, ignorante, fascista, racista, homofóbico, etc., etc., etc. Caguei. Literalmente: CAGUEI! Faço uma e uma única pergunta. Um indivíduo que se enquadra numa das categorias assinaladas pelo trecho segue seu “processo” de “transição” (vou morrer sem ter entendido claramente o que isso significa, de fato, “cientificamente”!), anos de pois de concluído o tal de processo, vem a se arrepender. Por qualquer motivo – o adagiário popular tem razão, ainda uma vez: a gente não sabe o dia de amanhã). Como é que fica. Quem vai se responsabilizar pelo “estrago”? E a “aplicação da lei” vai ser revogada. Muito fácil, parece, muito simples o “progressismo” do “direito”. Mas e a controvérsia, o arrependimento, o esclarecimento. Em miúdos: quem “paga a conta”???

PS: tenho que avisar aos meus leitores (são poucos, mas sei que existem) que com a mudança da aparência de meu blogue (coisa que faço anualmente) não vai mais haver ilustrações, figurinhas, fotos, grafismos. Só texto. Não vou obrigar ninguém a ler, mas também não vou “ceder” a imposições dita e havidas como “estéticas” para sentir o tal de “pertencimento”. Penso que não preciso mais disso, confesso que já precisei e assumi. Agora, não mais. Punto i basta!

 

 

26.01.22

Três - parte 3

Foureaux

Pois é. Dizer que o gajo continua a escrever sob a égide de Paul Auster é exagero. O rapaz evoluiu, no sentido de aprimorar a própria, marca escritural. Estou falando de João Tordo. Em sue último romance, Felicidade, ele se apresenta mais maduro, mais seguro. Um tanto constante em certos procedimentos ficcionais. Mantém a verve. Consegue envolver o leitor de maneira sutil. Há sempre um segredo, um detalhe que escapa. Rastros de experiências outras a indicar caminhos possíveis para o deslinde de situações aparentemente insolúveis. A história se desenrola a partir de um acontecimento ocorrido na adolescência do protagonista. Arrastam-se as consequências por uns 20 ou 30 anos, em minuciosa análise de detalhes que vão compondo um quebra-cabeça a desenhar o “mapa da mina”. Já adianto, sem querer fazer o famigerado spoiler: não se trata de romance policial. Matriz de criação do jovem escritor, o romance policial tem cedido espaço, ao longo de sua obra, para o “tratamento” de questões, eu diria, mais existenciais, com um pouco mais de interesse. Difícil para quem vem se acostumando a ler a mesma coisa com capas diferentes – como sói acontecer com certa parcela do chamado público leitor. este sai perdendo, obviamente. Não sei o que vem por aí. Decerto que outros romances virão sem dúvida. No entanto, fica sempre o suspense para a repetição de uma trilogia. Por isso incluí o nome de João Tordo nestas postagens que partem das elucubrações que fiz sobre o número três. A trilogia a que me refiro inclui O luto de Elias Gro, 2015; O paraíso segundo Lars D., 2015 e O deslumbre de Cecília Fluss, 2017. Aqui, as personagens transitam pelos romances num enredado universo de descobertas, decepções e recorrências. Um bordado delicado e muito arguto que prende a atenção do leitor, se se tornar óbvio ou enfadonho. As recorrências das personagens não são levianas. Ao contrário, adensam a narrativa fazendo com que a ideia de trilogia não pareça assim tão vulgar, óbvia, empobrecida. AO contrário, quando faz uso deste recurso dá-lhe personalidade. Há quem diga que “João Tordo indaga sobre a memória e a decadência do corpo no romance que conclui a trilogia que mudou o rumo da literatura que o escritor produz. No fim, com O Deslumbre de Cecilia Fluss, atam-se todas as pontas soltas. As possíveis.” Assim, “João Tordo fecha a trilogia iniciada em 2015 com O Luto de Elias Gro, partindo de uma fórmula hipotética onde a prova da sua veracidade é secundária face àquilo que a exploração dessa possibilidade lhe permite enquanto escritor: “Memória + Tempo — Decadência = Verdade”. Estas duas considerações não são minhas por óbvio. Quem quiser conferir, basta buscar em https://www.publico.pt/2017/06/25/culturaipsilon/critica/resta-a-loucura-o-que-e-1776162. Vale a pena ler para dizer se tal argumento procede ou não. Mais não digo.

Da surpresa causada pela aparência hard do autor e sua linguagem delicada e diáfana, ficou a certeza de que seria um dos escolhidos para estas postagens. Falo de José Luis Peixoto. Em seu livro Almoço de domingo. Uma vez mais, sua região natural as terras portuguesas acima do Tejo, comparece em todo o seu esplendor de melancolia, um certo ceticismo e muita delicadeza nutrida pelas memórias, marcas da passagem do tempo e percepção da própria pequenez. Poder-se-ia dizer que estas são três linhas de abordagem da escrita de José Luis Peixoto. Cabe a cada leitor decidir. Fico com elas. Bastam para meu horizonte de expectativas de leitor curioso. Gosto do que este autor escreve. Ao contrário do primeiro, aqui, este não se preocupou (ainda) em apresentar a seu público uma trilogia, pensada e realizada como tal. Pelo menos, até onde acompanhei esta procissão... Alhures, encontrei um artigo que faz uma apresentação, a meu ver bastante consistente, do romance. A ver: o “autor de Galveias, que já anteriormente transportara José Saramago para dentro de um romance, Autobiografia, publicado em julho de 2019. Almoço de domingo, ‘sobe um degrau’, porque a personagem retratada ‘ainda está aí’, disse o escritor em entrevista à Lusa. Trata-se da história de um ‘homem de 90 anos, que olha para o seu passado e faz um balanço de vida a partir de episódios significativos da sua história pessoal, que em muitos aspetos tocam a do próprio país (...) contou o escritor. (...) Contudo, a pessoa é subentendida na leitura do texto, pelo percurso que segue, pelo império que cria, pela geografia e pela família em que se insere, a partir das quais tudo parte (...). José Luís Peixoto explica porquê: “do ponto de vista do texto, é um romance e como romance é um exemplo, a personagem é uma personagem, não é um texto histórico não é um texto biográfico”. O romance, de acordo com o escritor, tem como protagonista um sujeito cartorial. Não sabia desse detalhe quando da leitura do romance. Ao saber, fiquei estupefato, mas feliz: não li o romance como uma espécie de ficcionalização de certa biografia. Nada contra. O que me incomoda é “amarrar”
a leitura de qualquer um com esta cordinha tão frágil, porque óbvia. O texto do romance transcende esta tentativa de redução. A linguagem faz jus às premiações recebidas pelo autor. O romance é um convite à reflexão, como soe acontecer, sem deixar de ser mais um exemplo da preciosa e sofisticada poesia de José Luís Peixoto. Poesia esta que se deslinda pela prosa na mancha tipográfica: um universo “poético” anos luz de distância da famigerada prosa poética.  do autor é o que me interessa. A maneira como manipula lembranças, segredos, detalhes e descobertas num ambiente familiar é outro “toque de Midas” de sua ficção. Para conferir basta buscar em: https://visao.sapo.pt/atualidade/cultura/2021-03-09-jose-luis-peixoto-transpos-memorias-de-rui-nabeiro-para-o-papel-e-criou-um-romance/?utm_source=rss&utm_medium=rss&utm_campaign=jose-luis-peixoto-transpos-memorias-de-rui-nabeiro-para-o-papel-e-criou-um-romance

O terceiro e último passo é falar de um homem extraordinário. Suas atitudes são muito reveladoras da personalíssima prosa que desenvolve. Durante a entrevista que com ele fiz, ainda em 2014, que confirma a hipótese, foi recheada de comentários sutil e incisivos, temperados com uma finíssima ironia e uma mais ainda sofisticada presença de espírito. Um artista! Ao contrário de João Tordo, que construiu “de caso pensado” uma trilogia e de José Luís Peixoto que, até prova em contrário, ainda não se deu a este trabalho, Mario Claudio fez o mesmo que João Tordo e, de brinde, ganhou de seus críticos mais atentos, com acuidade de leitura mais que aguçada, a possibilidade de ver outros títulos de sua vasta produção reunidos em trilogias, “pensadas” pelo olhar destes leitores. Uma espécie de meio do caminho entre o “João” e o “José” que aqui comparecem. Pois. O ponto de fuga aqui é o romance Embora eu seja um velho errante. A sagacidade sofisticada do autor o levou a começar seu romance com uma cena inusitada. Um homem idoso cuida das cutículas enquanto começa a passear por suas memórias. Demais! As três partes do romance se encaixam como peças de uma engrenagem que, simultaneamente, inventa um mundo fantasioso e apropriado para as elucubrações do narrador e instaura a possibilidade de ser, a narrativa, um relato autobiográfico sem preocupação cartorial de sustentar todas as hipóteses de modo documental. Uma maravilha. O procedimento não é original, no conjunto de obra de Mario Claudio. Isso não interfere em nada na procedência do altíssimo grau de narratividade do autor. Marca personalíssima de sua ficção é o preenchimento de lacunas biográficas do sujeito cartorial ficcionalizado – quando é o caso – por elucubrações outras, de natureza genuinamente ficcional. Uma espécie de jogo de esconde-esconde divertidíssimo e sofisticado, muito sofisticado. No caso deste romance, acredito, esta proposta chega a um nível mais que superior e profundo. Neste caso, não recorro a opiniões alheias. Fico com as minhas impressões, ciente de minhas limitações, mas sou um leitor contumaz, digo o que penso sobre o que li. Sobretudo agora, no início da plenitude do ócio criativo em que vivo. Vale muito a leitura!

24.01.22

Três - parte 2

Foureaux

Os três escritores ainda figuram em minha lista particular de preferências. Conheci pessoalmente os três. Com um deles, ainda mantenho certo contato, ainda que muito esporádico, depois que o visitei em sua residência. Os outros dois, conhecidos em país estrangeiro – meu e deles – são apenas autores de predileção. Não tenho contato. Li muitas obras dos três. Gostaria de ter lido tudo que os três escreveram, mas, como todo mundo sabe, livros portugueses custam uma fortuna nos estados unidos de bruzundanga. Além disso, estou naquela fase de não mais acumular volumes em estantes que só retroalimentam a cadeia alimentar dos fungos, ácaros e insetos, sob a pele diáfana da poeira que o tempo deixa como rastro. Ele passa. Os livros ficam. José Luis Peixoto foi o primeiro que conheci, em Zagreb, como João Tordo, na mesma cidade. Graças às atividades propostas pela Leitora de Português do Instituto Camões, a Sofia Soares, conheci-os. Escutei deles uma conferência. Conversei com eles. Foi muito bom. As três vidas (Quidnovi), lançado em Setembro de 2008 – meses depois de minha chegada a Zagreb – ganhou o Prémio José Saramago no ano seguinte. Gostei muito. Depois dele, foi a vez de ouvir José Luis Peixoto declamar um seu poema, lindo, que faz parte de um dos livros mais impressionantes que já tinha lido até então: Morreste-me, sua primeira obra publicada. Sua figura era completamente antagônica se considerada em comparação com sua escrita, mas isso é chatice minha. Dele, a primeira leitura foi: Nenhum olhar, seu segundo livro de ficção. Eu não sabia, mas minhas visitas à “terrinha”, anos depois, só confirmaram a impressão tocante do Ribatejo que li e depois conheci. Uma fulgurante e melancólica beleza. Anos depois, já em 2014, por conta do pós-doutoramento em Coimbra, vim a conhecer o terceiro, Mario Claudio. Fiz-lhe uma visita e uma entrevista – muito esclarecedora para a pesquisa que então desenvolvia – em sua residência, perto da parada chamada Francos, nos arredores do Porto. Dele, considerando o conjunto de obra, li muito pouco. Mas impressionou-me sobretudo o último: Embora eu fosse um velho errante. Livro impressionante por conta de uma espécie de síntese (se é que isso é possível) que o autor faz de seu próprio modus operandi. O livro é um exercício de criatividade insuperável. Acompanhando o raciocínio da postagem anterior, a primeira de uma série de três, esta aqui enfoca apenas a apresentação mais que genérica, superficial, dos autores que me interessam para a postagem final. Lá, se a preguiça assim o permitir, pretendo discorrer m pouco sobre a leitura que fiz das três últimas obras publicadas por José Luis Peixoto. João Tordo e Mario Claudio. Os três, na verdade, têm um ponto em comum: são portugueses. Quanto à obra de cada um, ah... há controvérsias. E é bom que haja mesmo. A unanimidade, como já dizia Nelson Rodrigues, é mesmo burra. Seus estilos são muito peculiares e abissalmente diferentes. O modo de encarar a Literatura, a mim me parece – como leitor – é outra abissal distância que se impões entre os três. Isso só reafirma a “qualidade” (n`á gosto desta palavra!) dos três: incontestável. Não especulei sobre as plausíveis “influências” em cada caso – isso seria pertinente se eu ainda lecionasse. Como desfruto do ócio criativo permanente, já não me faz falta satisfazer tal especulação. No entanto, a leitura de seus livros me leva a crer que, como todo o resto da população de escritores do planeta, também os três têm lá suas preferências de leitura e, por via de consequência suas influências sintomatizadas. A personalidade também é outro vetor a diferenciar os três, mas isso já não consegue ultrapassar a larga margem da obviedade. Como só conheci mais proximamente o mais velho dos três, Mario Claudio, não posso dizer nada acerca da pessoa dos outros dois. É assim mesmo. Quisera ter todos os livros dos três. Quisera poder ler todos os livros dos três. Quisera ter ânimo para escrever um ensaio sobre cada um deles e publicá-los, individualmente como livros. Melhor ainda, nessa série de “quisera”... seria ser lido. Mas aí já é pedir demais ao destino. Aguardem a terceira e última etapa.

21.01.22

Três - parte 1

Foureaux

Treze.png

Três. Número ímpar. Também, número primo. Simbolicamente, representa, salvo engano meu, o equilíbrio perfeito, entre outras coisas. Três é um número sagrado, relacionado à luz. É o número do resultado da moldagem das substâncias – produto da união. Número dos extrovertidos, dos inteligentes, criativos e espirituosos. Em nossa tradição cultural/espiritual, o homem (1) se uniu com sua companheira (2) e juntos geraram um filho. Assim surge o número 3, a tríade, a trindade. Ideia de progressão cíclica: começo, meio e fim. O 3 é representado pelo triângulo, primeira forma geométrica perfeita, pois todos os lados têm a mesma medida. Claro está que não elimino aqui as outras “espécies” de triângulo: isósceles, retângulo, escaleno, equilátero, obtusângulo, acutângulo. No Sepher Yetzirah, é o terceiro caminho da sabedoria, da inteligência sagrada e da sabedoria original. Na esfera superior, 3 são os princípios divinos. Na esfera do intelecto, significa os 3 degraus dos abençoados e as três hierarquias dos anjos. Na esfera celestial, indica os senhores planetários das triplicidades. Na esfera elemental, os três degraus elementais. Na esfera inferior, a cabeça, o seio e a região do plexo solar. Na esfera infernal, indica os três degraus dos danados, os três juízes infernais e as três fúrias infernais. A trindade prevalece nas religiões antigas e modernas. O triângulo tem 3 pontas. Com a ponta para cima, significa o fogo e os poderes celestes; com a ponta para baixo, significa a água e as hostes inferiores. O triângulo é geralmente usado em ritos místicos e pela maçonaria, tanto esotérica e exotérica – deixo a explicação destas duas categorias relegas à curiosidade de quem me lê. Não vou entregar todo o “ouro ao bandido”...! O triskel, figura composta de três espirais, significa as três camadas da natureza da alma humana. Uma figura central no simbolismo celta antigo. Terra, mar e céu, “casamento triplo”. O número 3 reúne os ideais necessários para o amadurecimento espiritual dos seus membros: fé, esperança e caridade. Para Pitágoras, representa a perfeição. Isso porque ele é a soma do um, que significa unidade, e do dois, que significa diversidade. É o número perfeito para os chineses: junção do céu e da terra, da qual resulta a humanidade. O número três representa a unidade divina, a Santíssima Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. Para os gregos e os romanos, a manifestação divina decorre de uma trindade da qual fazem parte Júpiter/Netuno, Plutão/Zeus, Poseidon/Hades, respectivamente – deuses relacionados com coisas que têm relação com o número 3: o raio de Júpiter, o tridente de Netuno e o cão de três cabeças de Plutão. Também os hindus têm 3 deuses principais: Brahma, Vishnu e Shiva. Da mesma forma, os egípcios têm Ísis, Osíris e Hórus. Além da manifestação divina, várias coisas são representadas por três elementos: o ciclo da vida (nascimento, vida e morte), os Reis Magos – em que pese a teoria de que teria existido um quarto...), a ressurreição de Jesus ao terceiro dia, o fato de Pedro ter negado Jesus por 3 vezes. Três são os meses década estação do ano. Três, as fases da existência humana: infância, juventude, velhice. As medidas volumétricas são três. O raciocínio humano, mais tradicional tem três etapas: hipótese, antítese, síntese. Uma boa redação dissertativa tem três partes irrecorríveis: introdução, desenvolvimento, conclusão. Três as atitudes do carcará: pega, mata e come. Mesmo que muito aranhados, aqui nos estados unidos de bruzundanga, três são os “poderes”: legislativo, executivo, judiciário – na verdade, de poder andam a ter muito pouco, em função de sua disfuncionalidade galopante. Na Literatura, o três aparece em “romances de cavalaria”: Atos, Aramis e Dartagnan. Nas histórias infantis, três são os porquinhos: Palhaço, Palito e Pedrito – pelo menos, na versão que aprendi com minha mãe. Tio Patinhas tinha três sobrinhos sapecas: Huguinho, Zezinho e Luizinho. A energia elétrica, em terras tropicais, funciona num sistema trifásico – e anda caríssima, para manter a ganância de alguns poucos. Dizem por aí que é um número chave da democracia, pois é a quantidade mínima de pessoas necessárias para que se consiga tomar uma decisão em grupo. No grupo das fantasias sexuais, o três se faz presente: ménage à trois – aqui, a curiosidade de quem me lê não vai sofrer tanto para se satisfazer...! Se você fizer três fogueiras, em local em que não haja outra possibilidade de se fazer perceber, seu pedido será compreendido. A não esquecer as letrinhas mágicas, que são três, neste caso: SOS. Aqui termina a primeira parte de uma postagem que (ainda) vai falar de Literatura tout cour, a propósito do número três. Se a minha preguiça não vencer, a complementação segue amanhã. Caso contrário... só Deus!

Em tempo: muito do que aqui vai escrito eu tirei das páginas que se encontram abaixo identificadas!

https://medium.com/@nomeruz.nc/simbologia-do-número-3-2625424a32eb

https://www.dicionariodesimbolos.com.br/numero-3/

https://pt.wikipedia.org/wiki/Três 

Três.png



15.01.22

(Re)início

Foureaux

Começou 2022 e, mesmo antes de 2021 terminar, eu já não escrevia com tanta regularidade. Deixa isso pra lá. Como faço desde que comecei a escrever um blogue, tento, anualmente, modificar a aparência dele. É, de fato, uma tentativa de deixá-lo mais atraente, o que parece não surtir muito efeito. Mas lá se vão mais de dez anos. Se não me equivoco, comecei quando estava em Zagreb, naqueles dois anos instigantes e, mesmo, reveladores que lá passei. Pois bem. Na primeira postagem do ano, ainda com os motores em estado de aquecimento, faço a transmissão de ideias alheias. Trata-se de trecho de um artigo de J.R. Guzzo, publicado na edição da revista Oeste, da última sexta-feira (ontem). Assevero que, pelo fato de transportar literalmente o trecho aqui, não estou a subscrever cegamente as ideias do autor. Jamais faço isso. Quem me conhece sabe. Logo, a motivação é uma certa inquietude trazida pelas miríades de incertezas e falácia acerca de tudo que ocorre no planeta. Coisa cansativa, chata, triste, rasa. mas vamos lá... Ainda vale a pena ler. Segue o trecho:

“Trabalho é para os 90% da população brasileira que tem de se pendurar em poste elétrico para consertar o corte de luz na casa de quem não admite comparecer ao serviço — ou para todos os que são obrigados a trabalhar para sobreviver. É coisa de quem tira lixo da rua. É coisa de quem guia o metrô, ou do motoboy do delivery, ou do porteiro do prédio. É coisa de quem trabalha no comércio, no hospital ou na polícia. É coisa de operário, do técnico da torre de aeroporto, do homem da companhia de gás que se enfia embaixo da terra para garantir o fogão dos terraços gourmet. Não é o mundo do professor da USP. Não é a Praia da Pipa. Esse é o Brasil da maioria que realmente produz, e não o Brasil dos parasitas – do universo político, dos banqueiros de esquerda, da CPI da Covid, dos comunicadores e das classes intelectuais que andam de máscara, combatem o genocídio e querem que o mundo continue nessa camisa de força que lhes faz tão bem. A lista dos sócios do vírus ainda vai longe. Pode incluir a big pharma norte-americana e mundial em peso, da Pfizer, AstraZeneca e Johnson&Johnson a todas as suas irmãs. Só o Brasil, e só nesta primeira fase, colocou no Orçamento cerca de R$ 30 bilhões para gastar com vacinas, numa conta que ainda pode ser muito maior. Calcule agora o tamanho dessa bonança em termos mundiais; é de dar inveja em qualquer Google da vida. Junte os fornecedores de testes para covid, os fabricantes de insumos para a vacina e os produtores de material de apoio. Some as empresas de transporte, as redes de farmácias e outros serviços de assistência – para não falar em médicos e hospitais. Não se esqueça, enfim, dos 6.000 prefeitos e dos 27 governadores brasileiros, que ganharam do Supremo Tribunal Federal o prodigioso direito de fazerem o que bem entendem para “salvar vidas” – a começar pela dispensa de licitação para gastar dinheiro público no combate à covid. É roubar, deitar e rolar, com a aprovação do Judiciário e o diploma de “heróis da saúde” concedido pelos editoriais da imprensa. Quem vai querer outra vida? É covid para toda a eternidade.”

 

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