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As delícias do ócio criativo

As delícias do ócio criativo

Novembro 29, 2021

Foureaux

Tenho um amigo em Lisboa, O José Colaço. Faz ex-libris muito bonitos. Um sujeito muito simpático. Mandou-me mensagem com expressões correntes em Portugal. Tem sua graça. Partilho aqui. É divertido e aprende-se um pouco mais acerca dessa cultura nossa matriz. 

Bandeira.jpeg— Um português não tem um problema, na realidade ele está “feito ao bife”.
— Um português não lhe diz para deixá-lo em paz, diz-lhe “vai chatear o Camões”.
— Um português não lhe diz que é sexy, diz-lhe “é boa como o milho”.
— Um português não repete o que diz, ele “vira o disco e toca o mesmo”.
— Um português nunca se chateia, apenas “fica com os azeites”.
— Um português não tem muita experiência, ele tem “muitos anos a virar frangos”.
— Um português não se livra de problemas, ele “sacode a água do capote”.
— Um português não está numa situação desesperante, ele está com “água pela barba”.
— Um português não se irrita, ele “vai aos arames”.
— Um português que muda de ideias facilmente é um “troca-tintas”.
— Um português não é descarado, ele “tem lata”.
— Um português não se recusa a dar informação, ele “fecha-se em copas”.
— Um português não morre, ele “estica o pernil”.
— Um português não se faz de surdo, ele “faz orelhas moucas”.
— Um português não diz que está tudo suspenso por tempo indeterminado, ele diz que “ficou tudo em águas de bacalhau”.
— Um português não diz “É indiferente para mim”, ele diz “Não me aquece nem me arrefece”.
— Um português não passou por situações difíceis, ele “passou as passas do Algarve”.

Língua.jpeg

 

Novembro 27, 2021

Foureaux

images.jpegPois é... Faz hoje 30 dias sem escrever aqui. Trinta dias que fiz um exame. Recolha de “material prostático” para biópsia. O urologista quis investigar mais profundamente a dita cuja, depois de uma alta no índice de PSA. Mesmo que eu desconfiasse, com quase toda segurança intuitiva, que não se passava de erro de digitação. O laboratório era o mesmo. O intervalo foi de duas semanas. Os resultados: 3,90, primeiro e 0,39, depois. Muita coincidência, pois não? Não teve jeito. O resultado sairia somente depois da minha viagem. É sobre ela que desejo falar.

Faz temo que não fazia uma viagem tão profundamente reveladora, instigante, emocionante e instrutiva. Todo isso a um só tempo, com assessoria luxuosíssima de dois amigos queridos: José Filipe Menéndez e Alexandra Pereira de Castro. Os nomes completos dos dois é bem mais extenso. A genealogia os leva a píncaros da nobreza lusitana Aqui vão apresentados pela versão mais “social” ou “resumida”. O afeto é o mesmo. A gratidão tem a mesma medida. A admiração é igualmente profunda. Uma viagem que me revelou lugares antes desconhecidos: Figueira da Foz, Montemor-o velho, Peniche, Braga, Tibães, Penela, Nazaré, Mafra, Cunímbriga, Aveiro. A casa da rua de Palhais, na Ericeira e o Paço da Quinta de Juste, em Braga foram meus endereços de referência no curso desse périplo histórico, cultural e gastronômico. Houve momentos de “transporte” cronológico: ambientes que me fizeram retornar ao século 19, ou antes, mesmo sem nunca lá ter estado, por suposto. A revelação da História por meio de detalhes, escombros, fotografias e pinturas. O enlevo espiritual de ambientes antigos conservados: palavras e telhados que guardam histórias e segredos. A beleza de altares forrados de ouro e estruturados em chinoiserie em madeira. Um luxo. Um delírio para os olhos e a alma. Os livros que li. Os vinhos que degustei. Os pratos que experimentei e as revisitações, os reencontros, as repetições. Tudo embrulhado para presente pelo afeto partilhado, a amizade confirmada a alegria que se faz de pequenos gestos e palavras mínimas. Na volta, depois de ver um filme emocionante (Adeus Christopher Robin, 2018, Simon Curtis) chorei. Um pouco pelo efeito do filme (embebido em três cálices de Vale dos Cavalos, um tinto do Douro, especial, de respeito) e mais por conta da saudade que senti de mamãe, escrevi umas linhas. Que pretendo se convertam num ou dois poemas. Só o tempo dirá!

 

Vejo o oceano

a meus pés, ainda que em suspenso

entre nuvens pequenas, picadas

pingos de mágica

a bordar o tempo franzido pelo vento

água muita

como a imaginação que voa

saudosa

da brisa do rio em sua foz

porta do infinito

mar

Se o mar, lá embaixo, falasse

o que diria de si

e do mundo que o rodeia,

calmo e atento,

pronto para o avanço?

Ah... o que diria do tempo

da saudade e do sonho

num vai e vem que domina 

a quase tudo que rodeia

porque, de fato, domina 

e assim

deve dizer nada

como a lágrima que escorre,

também silente,

da saudade

que no mar se completa e contempla.

images-2.jpeg

 

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