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As delícias do ócio criativo

As delícias do ócio criativo

Setembro 28, 2024

Foureaux

porco.jfif

Até domingo que vem (e de dois em dois anos, como já é costume... infelizmente) a toada é a mesma. A gente ri de nervoso... penso eu!

CAMPANHA ELEITORAL (MAVIAEL MELO)

Um Senador do Estado

Passou dessa pra melhor

Ou pra outra bem pior

Eu vou relatar o passado:

Chegando o pobre coitado

Na porta do firmamento

São Pedro disse: um momento

Tenha calma, cidadão!

Faça aqui sua opção

E assine o requerimento

 

Pois aqui tem governia

Tudo está no seu lugar

E você vai optar

Onde quer passar o dia

Depois com democracia

Me dará sua resposta

Fazendo a sua proposta

De ir pra o Céu ou pro Inferno

Viver de túnica ou de terno...

Do jeito que você gosta!

 

E então o senador

Assinou a papelada

Descendo por uma escada

Entrou num elevador

E desceu com o assessor

Para o inferno conhecer

Para depois escolher

Onde queria morar

E qual seria o lugar

Que escolheria viver

 

E no inferno ele viu

O campo todo gramado

Verdinho bem arrumado

Como os que tem no Brasil

Um homem grande e gentil

Disse-lhe: eu sou o Cão

Muito prazer meu irmão!

Aqui você é quem manda

E deu ordens pra que a banda

Tocasse outro baião

 

Encaminhou a visita

Para uma mesa repleta

Uma assessoria completa

Num alpendre em palafita

Uma assistente bonita

Cerveja, uísque e salgados.

Dinheiro pros carteados

Charutos bons e cubanos

Foi relembrando dos anos

E dos acordos fechados

 

Encontrou com os amigos

Dos tempos áureos de glórias

Relembrando as histórias

Que já haviam esquecidos

Uísques envelhecidos

Não paravam de chegar

Parecia um marajá

Jogando cartas e fumando

Mas já estava chegando

A hora dele voltar.

 

E então no elevador

Ele tornou a subir

Para então se decidir

E finalmente propor

Mas no céu o senador

Vê um cenário de paz

Com um sereno assaz

Anjinhos tocando lira

São Pedro disse confira

Escolha e não volte atrás

 

Era um silêncio danado

Sem uísque e sem cerveja

No máximo uma cereja

E ele já agoniado

Disse assim ressaqueado

Já tomei minha decisão

Quero ir morar com o Cão

Pois lá me senti melhor

Não que aqui seja pior

É questão de opinião

 

São Pedro disse pois bem

Pode ir pro elevador

Que logo meu assessor

Fará o que lhe convém

O senador disse amém

Já pensando no sucesso

Que seria o seu regresso

Para o quinto do inferno

Lá também seria eterno

E a tudo teria acesso

 

Mas assim que ele desceu

Numa imensa alegria

Sentiu logo uma agonia

Algo estranho percebeu

Atrás desapareceu

A porta do elevador

O pobre do senador

Só via fogo e tortura

Deu-lhe logo uma amargura

Naquele cenário de horror

 

Nisso ia passando o Cão

Deu-lhe uma chibatada

Sorrindo em gargalhada

Remexendo um caldeirão

E empurrou-lhe um ferrão

Deixando a testa ferida

E ele puto da vida

Disse: rapaz sou eu

O senador! se esqueceu?

Cadê aquela acolhida?

 

Eu peguei o bonde errado

Ou o cabra se atrapalhou

E para cá me mandou

Deve ter se enganado

Meu lugar é no gramado

Jogando carta e fumando

Eu não estou lhe cobrando

Foi você que ofereceu!!!!!!!!!!!

E o uísque? se esqueceu?

E devo estar delirando

 

 

E o diabo a sorrir

Disse-lhe: seja bem-vindo

E o que estás me pedindo

Eu não vou poder cumprir

Quando estivestes aqui

Naquela ocasião

Não era outra coisa não

Também não me leve a mal

Foi campanha eleitoral

E eu ganhei a eleição.

 

Setembro 25, 2024

Foureaux

images.jpeg

O texto que segue, li-o na página de uma amiga que há tempo não encontro, pessoalmente: Rosalilia Torres Delabary. Gostei, tendo ficado, intimamente, gtocado O tempo passa e as lições ficam... Não mexi no texto. Só selecionei, copiei e colei...

UM JOVEM ENCONTRA UM MAIS VELHO E LHE PERGUNTA: 

- Lembras-te de mim? E o velho diz que não. 

Então o jovem diz-lhe que foi seu aluno. E o professor pergunta-lhe: 

- Ah, é? E que trabalho faz agora? 

O jovem responde: - Bem, sou professor. 

- Oh, que lindo como eu? diz-lhe o velho. 

- Bem, sim. Na verdade, tornei-me professora porque o senhor me inspirou a tomar essa decisão. 

O velho, curioso, pede ao jovem que lhe diga porquê. E o jovem conta-lhe esta história: 

- Um dia, um amigo meu, também estudante, chegou à escola com um relógio lindo e novo e eu roubei-o. Pouco depois, o meu amigo apercebeu-se do roubo e reclamou imediatamente com o nosso professor, que era o senhor. Então o senhor fechou a porta e mandou toda a gente levantar-se porque ia revistar os nossos bolsos um por um. Mas, primeiro, disse para nós fecharmos os olhos. Assim fizemos e o senhor procurou bolso a bolso e, quando chegou junto de mim encontrou o relógio no meu bolso e pegou-o. Ainda assim, o senhor Continuou a revistar os bolsos de todos e, ao terminar, disse: - Abram os olhos. Encontrei o relógio!

O senhor nunca me disse nada e nunca mencionou o meu nome no episódio. Nunca disse quem foi que roubou o relógio. Naquele dia, o senhor salvou-me a dignidade para sempre. Foi o dia mais vergonhoso da minha vida. Nunca me disse nada e, embora nunca me tenha repreendido ou chamado para me dar uma lição de moral, percebi claramente a mensagem. E graças ao senhor compreendi que é isso que um verdadeiro educador deve fazer. 

- Lembra-se desse episódio, professor? 

E o professor respondeu: 

- Lembro-me da situação, do relógio roubado, de ter revistado os bolsos de toda a gente na sala, mas não me lembrei de ti, porque enquanto eu vos revistava os bolsos também estava com os olhos fechados. 

Esta é a essência da decência. 

"Se para corrigir precisa de humilhar, então não sabes ensinar."

(Internet)

Para os amantes de literatura, já podem acessar ao nosso grupo de literatura no telegram: https://t.me/sobreliteraturaa

 

Setembro 22, 2024

Foureaux

sonho.jfif

Conheci Maria Amália Baraona por acaso. Entrei no gabinete e lá estava ela, acompanhada de um estudante daquela universidade (estava Em Zagreb, capital da Croácia) ensaiando umas músicas. Cumprimentei os dois e saí: tinha de fazer uma alocução no evento que tinha lugar na Faculdade de Letras, a propósito da visita de uma professora do Piauí. Essa moça brasileira/croata/portuguesa convidou-me dias depois para jantar. Foram horas agradáveis de muita conversa, risada e cerveja. Antes de voltar ao Brasil, assisti a duas apresentações dela. Ela é cantora de bossa nova... e das boas! Li uma postagem em seu blogue hoje cedo (amaliabaraona.com). Ela escreve em inglês. Gostei. Tomei a liberdade de traduzir o que ela escreveu. Coloco aqui para deleite de quem se der ao trabalho de ler esta longa postagem. A propósito disso, junto um trecho de A vida é sonho, de Calderón de la Barca. Senti conexão profunda entre os dois textos. Creio não estar perdendo o juízo...

“Este autorretrato, tirado em Portugal há algumas semanas, realmente reflete meu estado mental recente: múltiplas camadas entrelaçadas resultando em infinitas reflexões recursivas que, no final, levam a uma dor de cabeça persistente, mas nenhuma conclusão (para registro, certifiquei-me de verificar a grafia e “reflexão” com um “x” é uma forma arcaica de “reflexão”). Após refletir, optei por escrever um post que não tem significado para ninguém além de mim, enquanto navego pelo meu estado mental perplexo. Talvez haja alguém que possa se conectar com este tópico e ache-o relacionável. Nunca se sabe...

Estou dentro ou fora?

É importante onde estou para refletir sobre o que quero? Ou são meus desejos que, em última análise, ditam minha localização em um determinado momento? Dois dias atrás, comecei a escrever este post, mas parece que minha mente não está em sincronia com meus pensamentos. Minhas ideias estão dispersas, com palavras e frases se misturando, formando uma bolha circular que me aprisiona completamente. Inesperadamente, ontem à noite, criei uma música. A melodia surgiu primeiro, com a letra logo atrás. Será que algum dia a compartilharei? Talvez... O tempo dirá. Por enquanto, terminarei minha taça de vinho e tentarei desligar meus pensamentos circulares.”

 

É certo; então reprimamos

esta fera condição,

fúria, esta ambição,

pois pode ser que sonhemos;

e o faremos, pois estamos

em mundo tão singular

o viver só é sonhar

a vida ao fim nos imponha

que o homem que vive, sonha

o que é, até despertar.

 

Sonha o rei que é rei e segue

com esse engano mandando

resolvendo e governando.

E os aplausos que recebe

vazios, no vento escreve;

e em cinzas a sua sorte

a morte talha de um corte.

E há quem queira reinar

vendo que há de despertar

no negro sonho da morte?

 

Sonha o rico sua riqueza

que trabalhos lhe oferece,

sonha o pobre que padece

sua miséria e pobreza;

sonha o que o triunfo preza

sonha o que luta e pretende,

sonha o que agrava e ofende

e no mundo, em conclusão,

todos sonham o que são,

no entanto ninguém entende.

 

Eu sonho que estou aqui,

de correntes carregado

e sonhei que em outro estado

mais lisonjeiro me vi.

Que é a vida? Um frenesi.

Que é a vida? Uma ilusão,

uma sombra, uma ficção;

o maior bem é tristonho,

porque toda a vida é sonho

e os sonhos, sonhos são.”

esoelho.jfif

 

Setembro 21, 2024

Foureaux

OIP.jfif

Na véspera do dia mais bobo da semana, pensei em escrever alguma coisa no blogue. Faz um tempinho que não escrevo nada... Não vou me justificar. Na verdade, resolvi escrever por conta do texto que segue. A resolução se deve ao fato de ter ficado sabendo, sete dias depois, da morte de um amigo querido, o Zezito. Ele vivia em Teófilo Otoni. Conheci-o há mais de trinta anos e tinha com ele uma relação de amizade sincera, profunda, prazerosa. Morreu de repente. Um coágulo numa das artérias. Sentiu-se mal. Chamou uma amiga e vizinha. Foi para o PA da unimed naquela cidade. E... foi-se. Que triste. a gente estuda, pensa, reza e, na hora H, é o mesmo choque. Por isso, essa postagem. Por isso, o texto que segue que li numa postagem de outro amigo muito querido o Gerson...

“A dor da perda nunca desaparece; ela apenas se transforma. Com o tempo, aprendemos a conviver com ela, a aceitar que a ausência de alguém que amamos será sempre uma presença em nossas vidas. Mas a dor também nos ensina a valorizar cada momento, cada segundo que passamos com aqueles que ainda estão conosco. E, de alguma forma, ela nos aproxima da nossa própria mortalidade, lembrando-nos que tudo o que temos é o agora.”

– C.S. Lewis, A Anatomia de uma Dor

 

Setembro 08, 2024

Foureaux


OIP.jfif

Absoluta falta de imaginação, minha. Indescritível preguiça. ceticismo em alto grau de concentração. Li a mensagem abaixo, recebida do querido @Joel Cardoso. Li. Gostei. Compartilho.

Ô dia bobo, domingo, credo!!!

«Os escritores gostam de gatos porque são criaturas calmas, adoráveis e sábias e os gatos gostam de escritores pelas mesmas razões». Robertson Davies.

Escritores e gatos:

  • Jorge Luis Borges * Beppo

«O meu gato faz o que quer, como eu».

  • Charles Bukowski * Manx

«Quanto mais gatos você tiver, mais você viverá».

  • Alexandre Dumas * Mysouff

«Os gatos mostram a melhor forma de viver: em liberdade».

  • Charles Dickens * Williamina

«Devíamos ser como os gatos: arranhar quando se obriga a obedecer».

  • Edgar Allan Poe * Catarina

«Quem me dera poder escrever de forma tão misteriosa quanto um gato».

  • Ernest Hemingway * Bola de Neve

«A maneira de se dar bem com um gato é tratá-lo como o ser superior que ele sabe que é».

  • Julio Cortázar * T.W. Adorno

«Querer as pessoas como se ama um gato, com seu caráter e sua independência, sem tentar domá-las, sem tentar mudá-lo... »

Hermann Hesse * Löwe

«Sou mais humano quando carrego um gato».

  • Aldous Huxley * Sam

«Se você quer entender um humano, rodeie-se de gatos».

  • Jean-Paul Sartre * Néant

«Para um gato não é condenação ser livre, mas o homem é responsável pela sua liberdade».

  • Patricia Highsmith * Charlotte

«Gosto de gatos porque são silenciosos, elegantes e livres».

  • Doris Lessing * Grey

«Um gato é um verdadeiro luxo... Vês-o caminhar pelo teu quarto e no seu andar solitário descobres um leopardo, até uma pantera».

  • Colette * Saha

«Os gatos são animais sagrados e, por isso, herméticos».

  • Úrsula K. Le Guin * Pard

«Gatos, como os humanos, precisam estar em boas mãos».

  • Emily Brontë * Tigre

«Os gatos são um conforto».

  • Truman Capote * Orangey

«O gato e eu somos um par de seres que não pertencem a si mesmos, porque eu sou como este gato, não pertenço a ninguém. »

Há um número infinito de miados entre letras.

 

Agosto 22, 2024

Foureaux

OIP.jfif

Em tempos de falta de criatividade, este texto me parece um pequeno oásis. Pode ser que já fosse conhecido. Eu não o conhecia. Recebi-o e não sei quem o escreveu por primeiro. Como dizemos franceses: profitez!

20 DICAS PARA ESCREVER BEM:

  1. Evite repetir a mesma palavra, porque essa palavra vai se tornar uma palavra repetitiva e, assim, a repetição da palavra fará com que a palavra repetida diminua o valor do texto em que a palavra se encontre repetida!
  2. Fuja ao máx. da utiliz. de abrev., pq elas tb empobrecem qquer. txt ou mensag. que vc. escrev.
  3. Remember: Estrangeirismos never! Eles estão out! Já a palavra da língua portuguesa é very nice! Ok?
  4. Você nunca deve estar usando o gerúndio! Porque, assim, vai estar deixando o texto desagradável para quem vai estar lendo o que você vai estar escrevendo. Por isso, deve estar prestando atenção, pois, caso contrário, quem vai estar recebendo a mensagem vai estar comentando que esse seu jeito de estar redigindo vai estar irritando todas as pessoas que vão estar lendo!
  5. Não apele pra gíria, mano, ainda que pareça tipo assim, legal, da hora, sacou? Então joia. Valeu!
  6. Abstraia-se, peremptoriamente, de grafar terminologias vernaculares classicizantes, pinçadas em alfarrábios de priscas eras e eivadas de preciosismos anacrônicos e esdrúxulos, inconciliáveis com o escopo colimado por qualquer escriba ou amanuense.
  7. Jamais abuse de citações. Como alguém já disse: “Quem anda pela cabeça dos outros é piolho”. E “Todo aquele que cita os outros não tem ideias próprias”!
  8. Lembre-se: o uso de parêntese (ainda que pareça ser necessário) prejudica a compreensão do texto (acaba truncando seu sentido) e (quase sempre) alonga desnecessariamente a frase.
  9. Frases lacônicas, com apenas uma palavra? NUNCA!
  10. Não use redundâncias, ou pleonasmos ou tautologias na redação. Isso significa que sua redação não precisa dizer a mesmíssima coisa de formas diferentes, ou seja, não deve repetir o mesmo argumento mais de uma vez. Isso que quer dizer, em outras palavras, que não se deve repetir a ideia que já foi transmitida anteriormente por palavras iguais, semelhantes ou equivalentes.
  11. A hortografia meresse muinta atensão! Preciza ser corrijida ezatamente para não firir a lingúa portuguêza!
  12. Não abuse das exclamações! Nunca!!! Jamais!!! Seu texto ficará intragável!!! Não se esqueça!!!
  13. Evitar-se-á sempre a mesóclise. Daqui para frente, pôr-se-á cada dia mais na memória: “Mesóclise: evitá-la-ei”! Exclui-la-ei! Abominá-la-ei!”
  14. Muita atenção para evitar a repetição de terminação que dê a sensação de poetização! Rima na prosa não se entrosa: é coisa desastrosa, além de horrorosa!
  15. Fuja de todas e quaisquer generalizações. Na totalidade dos casos, todas as pessoas que generalizam, sem absolutamente qualquer exceção, criam situações de confusão total e geral.
  16. A voz passiva deve ser evitada, para que a frase não seja passada de maneira não destacada junto ao público para o qual ela vai ser transmitida.
  17. Seja específico: deixe o assunto mais ou menos definido, quase sem dúvida e até onde for possível, com umas poucas oscilações de posicionamento.
  18. Como já repeti um milhão de vezes: evite o exagero. Ele prejudica a compreensão de todo o mundo!
  19. Por fim, Lembre-se sempre: nunca deixe frases incompletas. Elas sempre dão margem a...

Agosto 17, 2024

Foureaux

OIP.jfif

A internete é um universo interessante, para dizer o mínimo. Aprende-se com a mesma velocidade que se emburrece. Coisas instigantes e chatices monumentais se encontram sempre à “disposição do freguês”. Ontem, recebi um link que disponibilizava a síntese da história de uma mulher interessantíssima. Gostei tanto que compartilho aqui o texto que recebi. Não consegui identicar a fonte. Tomara que seja do agrado de quem chegar a ler esta postagem...

HIPATIA DE ALEJANDRIA

“O último cientista que trabalhou em Alexandria foi uma matemática, astrônoma, física e chefe da escola neoplatônica de filosofia: um extraordinário conjunto de conquistas para qualquer indivíduo de qualquer época. Chamava-se Hipatia. Nasceu em 370 em Alexandria. Hipatia, numa época em que as mulheres dispunham de poucas opções e eram tratadas como objetos de propriedade, moveu-se livremente e sem afetação pelos domínios tradicionalmente masculinos. Todas as histórias dizem que ela era uma grande beleza. Teve muitos pretendentes, mas rejeitou todos os pedidos de casamento. A Alexandria da época de Hipatia — sob domínio romano desde há muito tempo — era uma cidade que sofria graves tensões. A escravatura tinha esgotado a vitalidade da civilização clássica. A crescente Igreja Cristã estava consolidando seu poder e tentando remover a influência e a cultura pagãs. Hipatia estava sobre o epicentro dessas poderosas forças sociais. Cirilo, o arcebispo de Alexandria, desprezava-a pela estreita amizade que ela mantinha com o governador romano e porque era um símbolo de cultura e ciência que a Igreja primitiva identificava em grande parte com o paganismo. Apesar do grave risco pessoal que isso implicava, continuou a ensinar e a publicar até que, em 415, quando ia trabalhar, caiu nas mãos de uma turfa fanática de paroquianos de Cirilo. Arrancaram-na da carruagem, partiram-lhe os vestidos e, armados com conchas do mar, esfolaram-na arrancando-lhe a carne dos ossos. Seus restos mortais foram queimados, suas obras destruídas, seu nome esquecido. Cirilo foi proclamado santo e em 1882, Doutor da Igreja.

A glória da Biblioteca de Alexandria é uma memória distante. Seus últimos restos mortais foram destruídos pouco depois da morte de Hipatia. Era como se toda a civilização tivesse sofrido uma operação cerebral infligida pelas próprias mãos, de modo que a maioria das suas memórias, descobertas, ideias e paixões ficaram irrevogavelmente extintas. A perda foi incalculável. Em alguns casos, só conhecemos os atormentadores títulos das obras que foram destruídas. Na maioria dos casos, não conhecemos nem títulos nem autores. ”

O historiador grego da igreja cristã, Sócrates de Constantinopla ou o Escolástico, escreveu sobre ela e o seu assassinato no livro “A História Eclesiástica”, escrito 25 ou mais anos após a sua morte. Louve Hipatia por suas conquistas e dignidade. E apesar de ser cristão, critica o papel desempenhado pela Igreja no seu assassinato e critica o bispo Cirilo pela sua cumplicidade.

📷 Rachel Weisz como Hipatia para o filme Agora (2010). No Brasil, o filme foi lançado como "Alexandria".

Agosto 13, 2024

Foureaux

baixados.jfif


Há coisas espantosamente inúteis. Dentre essas, algumas, de tão inúteis beiram o engraçado, o divertido. É bem o caso aqui. Na onda de falta de assunto, reparto a baboseira que recebi e, confesso, cheguei a sorrir... quase como La Gioconda!

 

Sou muito feio

Sendo assim, não tente me convencer de que

Sou uma ressoa muito linda

Porque no final do dia

Me odeio de todas as formas

E não vou mentir para mim mesmo ao dizer que

Existe beleza dentro de mim que importa

Sendo assim, tenha certeza de que me lembrarei de que

Sou uma pessoa inútil e terrível

E nada do que você me diga me fará acreditar que

Eu ainda mereço amor

Porque não importa o que aconteça,

Não sou suficientemente bom para ser amado

E não estou em posição de acreditar que

Existe beleza dentro de mim

Porque cada vez que me olho no espelho, penso:

Sou tão feio como as pessoas dizem que sou?

(Agora leia de baixo para cima)

Por Abdullah Shoaib

                                                                                                                   

 

Agosto 11, 2024

Foureaux

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Os jogos olímpicos de Paris terminaram agorinha. Começam agora os jogos paraolímpicos. Ou paralímpicos como foi inventando por alguém, em algum lugar e momento, por algum momento que, de verdade, não me interessa saber. Interessa que os jogos existam e continuem a acontecer. Com a enxurrada de equívoco que marcaram os olímpicos, imagino o que há de ser os paraolímpicos. Para além disso, o que foi a aparição de Tom Cruise? Para quê? Como assim? Estou ficando velho, gagá ou mais chato do que sempre fui. Não entendi. Não vi propósito. Los Angeles vai sediar os jogos pela terceira vez, da mesma forma que o fez Paris. O encerramento dos jogos de/em Paris foi menos equivocado que a abertura, menos pretensiosa, mais correta e adequada ao espírito olímpico – em homenagem ao inventor dos jogos modernos, Barão de Coubertain. A julgar pela aparição do “astro”, os jogos em terras do tio sam, pela terceira podem tentar repetir a mesma agenda imposta em Paris. Isso vai ofuscar o que pode ser um espetáculo colossal, bonito, contundente como o de Atenas, em 2204, para ficar com um exemplo apenas. E o encerramento dos jogos de Mocou em 1980, com o ursinho Misha chorando na arquibancada e dando adeus enquanto era alçado aos céus por balões coloridos. Claro que havia uma agenda lá também, mas a contundência e a manutenção do “espírito olímpico” não foram substituídas por certa “agenda” que empobrece, nivela por baixo e vulgariza – no mais baixo e vazio sentido do termo – o já referido espírito. Confesso que já não me emociono com essas cerimônias, com exceções merecidas. Os momentos de vitória também já me foram mais tocantes. O encerramento tem se repetido em fórmula que tenta sustentar o mito da juventude eterna transformando a cerimônia numa pista de boate. Tudo muito chato, igual, sem graça. Ainda bem que assisti pelo canal olympics.com. Os comentaristas falavam Inglês, com sotaque britânico carregadíssimo, o que me fez escapar das batatadas que os locais devem (e com certeza o fizeram) cometeram em nome sabe Deus de quê, para além de sua própria mediocridade. E salve a chatice!

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Agosto 02, 2024

Foureaux


Acabo de ver um vídeo em que, SUPOSTAMENTE, um jovem de 21 anos, declara que não vai trabalhar porque nasceu sem o “seu” próprio consentimento. Completa dizendo que seus pais o obrigaram a nascer, então, agora, têm a obrigação de sustentá-lo. O advérbio, logo de cara, se sustenta – não estou a escrever uma tese, mas preciso desta sustentação.  Na verdade, não posso atestar a veracidade do vídeo, nem mesmo a real existência do rapaz que disse uma imbecilidade desse... “quilate”. Sim, é uma imbecilidade... e “daquelas” (estas aspas não vou justificar.). Voltando ao advérbio, por conta dos avanços tecnológicos que podem simular voz e imagem e colocar a “criação” em qualquer local do planeta – quem sabe, até, fora dele... – Não existe a menor possibilidade de atestar, sem sombra de dúvida, a autenticidade do vídeo que vi. No enanto, a possibilidade de ele ser realmente verdadeiro existe. O fato de haver tal discurso, defendido pelo rapaz de vinte e um anos, existe. A imbecilidade existe. Assim não fosse, não teria lido por aí (https://www.nexojornal.com.br/extra/2024/07/20/nome-cientifico-racista-mudanca-botanica) que “cientistas” resolveram trocar certos termos de identificação de espécies por serem “racistas”. Será que só eu percebo o absurdo de tal decisão? Ou perdi completamente o juízo, o senso? Para completar o “quadro da dor”, um homem entrou numa disputa olímpica contra uma mulher que pediu para terminar o combate por absoluta discordância com o que estava acontecendo: ela foi golpeada por um HOMEM. E nada acontece. A reação foi de uma normalidade insana, como se homem bater em mulher fosse a coisa mais natural do mundo. Bem... em priscar eras, dizem, foi, mas hoje em dia? Com a “civilização”? Coisas assim só fazem com que eu acredite que, com o passar dos anos, vou ficando mais chato porque atenho-me, sempre e mais, ao que é culturalmente consagrado, o que é verdade e o que faz parte de minha formação como indivíduo. Estou errado?

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